Na última quinta-feira, eu e Ric comparecemos ao CCBB para conferir a segunda peça da Mostra Internacional de Teatro - MIT. Teatro I bem cheio, com muita gente do mundo das artes cênicas da cidade. Ingresso, como sempre, a R$ 7,50 para quem é correntista do Banco do Brasil. A atração de duas noites, quinta e sexta, era o Teatro Turim. Apesar do nome, ele não é italiano, mas vem de Portugal. Encenação no velho e bom português lusitano, pleno de chiados e com alguma dificuldade de entender o que as atrizes Katrim Kaasa, Teresa Tavares e Anabela Moreira falavam. O mínimo que posso dizer do diretor, João Canijo, cineasta, conforme indicado no folder da mostra, é que ele foi muito ousado, pois resolveu encenar o clássico filme Persona, de Ingmar Bergman, dando à peça o mesmo nome do filme. Na verdade, não se trata de uma versão para os palcos, mas uma transposição literal do texto. Ao fundo, uma tela reproduzia a cena do filme que víamos em cena, em seu idioma original, o sueco. As comparações são inevitáveis e, talvez, tenha sido esta a intenção do diretor. Obviamente, o filme de Bergman é infinitamente superior, assim como o desempenho das atrizes. Ver Liv Ullmann (a atriz Elizabeth Vogler) e Bibi Andersson (a enfermeira Alma) na tela é até covardia. As atrizes portuguesas não estão à altura. A atriz que encarna Elizabeth Vogler não consegue passar o sofrimento que vemos na tela, enquanto a que faz a enfermeira Alma dá um ritmo acelerado em suas falas, como se estivesse sofrendo desde o início, totalmente diferente de Bibi Andersson, que mostra serenidade na face até mesmo quando tem um acesso de fúria (afinal, ela é a enfermeira Alma). O filme é muito metafórico: o próprio nome da enfermeira, Alma, já indica a tentativa de Vogler de se apropriar da sua identidade. A fusão de imagens do rosto das duas atrizes suecas ao final da projeção é a síntese do desejo de Vogler. Isto João Canijo não conseguiu mostrar. A peça dura pouco mais que uma hora, enquanto o filme tem mais de oitenta minutos. Assim, algumas cenas foram limadas do espetáculo. A transposição de uma cena para outra no palco ficou chata demais. Não há nenhum fundo musical que poderia amenizar tal troca de cenário. As atrizes empurram móveis e objetos, posicionando-os nas marcações existentes no tablado. Ficou irritante, não dando ritmo à encenação. Em alguns momentos, cheguei a pensar que o diretor apenas queria mostrar à plateia como Bergman, segundo seu ponto de vista, havia feito as cenas, além de também evidenciar que uma cena em cinema envolve muito tempo de bastidores que não cabem no teatro, que é mais visceral, mais direto, mais cru. Outra prova desta tentativa de desnudar os bastidores do cinema é a atriz que faz a médica, pois como tem uma participação mínima, mas não sai de cena, sendo a principal responsável pela troca dos móveis de lugar, ela ainda "dirige" as duas outras atrizes quando estas não conseguem ver o que se passa na tela. Nestes momentos, ela diz "entra!", como se estivesse gritando o famoso jargão do cinema: "Ação!". Isto se faz necessário, pois a ideia é sincronizar as duas cenas: tela e palco. Cinema e teatro, cada um tem sua magia e o diretor Canijo tentou unir tais magias, mas, infelizmente escolheu um filme difícil, onde a questão psicológica é forte e a imagem é tudo. Tanto é assim, que a fotografia de Persona, o filme, é maravilhosa. Saí sem saber se tinha gostado ou não. Ouvi comentários do público na saída do teatro, fazendo a inevitável comparação, mas sem um juízo de valor preciso, algo do tipo "gostei" ou "não gostei". Acho que merecia uma melhor reflexão e foi o que fiz depois, já em casa. Pensei até em rever o filme, pois tenho o dvd em minha coleção, mas desisti, pois faria uma comparação cujo resultado seria desastroso para a peça. Em minha opinião, merece destaque a ousadia do diretor, mas o que se viu em cena não correspondeu a esta ousadia. Conclusão: não gostei do que vi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário