11 de setembro. Dia do Cerrado. Para comemorar esta data, um evento anual acontece na cidade desde 2008 chamado Celebrar Brasília. Sempre há um apelo para que a população participe em prol da preservação do cerrado, um importante bioma para o Brasil, manancial de várias bacias hidrográficas que abastecem o nosso imenso país. Além disto, há toda a flora e a fauna que necessitam de uma atenção especial. Em sua quarta edição, os organizadores do evento incentivaram a população a entregar aparelhos eletrônicos que estavam sem uso, excluindo monitores de computador, televisores e pilhas, para reciclagem. Quem comparecesse ao estande do Celebrar montado no Brasília Shopping e entregasse ao menos um destes equipamentos sem uso ou obsoleto ganhava uma entrada para ficar na área reservada, próximo ao palco montado no Complexo Cultural da República, para assistir aos shows programados para os dias 10 e 11 de setembro, último final de semana. Não interessava o número de equipamentos que se levava para ganhar o tal ingresso, pois cada pessoa só recebia um único passe, possibilitando um maior número de agraciados. Parece que houve uma adesão muito grande já que a área reservada era imensa. Assim que soube do evento, por meio de convite recebido pelo Facebook, lembrei-me de que tinha alguns gadgets sem uso em casa. Peguei uma calculadora Casio antiga, em ótimo estado e funcionando, além de um palmtop com todos os acessórios, e troquei por um ingresso para a tal área reservada para o domingo. Na programação, uma eco-feira com produtos do cerrado feitos por manejo sustentável e shows de Sacassaia, Sistema Criolina, Mistura Fina e Gotan Project. No sábado, as atrações musicais eram outras. Os shows estavam marcados para ter início às 17 horas, conforme impresso no ingresso. Para não ficar muito tempo em pé e fugindo do calor que faz no Planalto Central, cheguei ao local do show às 19 horas, calculando que duas das atrações já teriam se apresentado. No caminho de onde estacionei o carro até a entrada da área reservada ouvia muitas pessoas reclamando da imensa área vip, insatisfeitas porque não tinham convites. Algumas diziam que o evento era gratuito, mas os produtores convidavam amigos, além de convites destinados aos patrocinadores. Não aguentei e falei para uma jovem raivosa que eu tinha entrada, não conhecia os produtores e nem era convidado das empresas estatais que bancavam o evento. Expliquei que a área era grande porque muita gente atendeu ao pedido de levar os eletrônicos esquecidos para a reciclagem. Ela ficou sem palavras. Quando cheguei, havia pouco movimento na área reservada. O palco estava vazio. Não havia começado nenhum show. O pessoal foi chegando aos poucos. Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro começou sua performance no meio do povo, trazendo seus personagens gigantes, como o calango voador, personagens com figurinos muito coloridos e uma batucada. Alguns seguidores fiéis foram acompanhando a trupe até a passagem deles para o local onde se aglomeravam as pessoas que não tinham acesso à área próxima ao palco. Fiquei onde estava. Às 19:15 horas a primeira atração iniciou seu show. Era o Sacassaia com seu hip hop eletrônico. A dupla convidou o reggaeman Renato Matos para uma participação especial. Eles conseguiram por a galera para dançar. Durante o show, algumas projeções com personagens da Turma da Mônica, além de grafismos coloridos, passavam na parede arredondada do Museu Nacional da República. um guindaste levou duas trapezistas para o alto, onde fizeram alguns movimentos. Não sabíamos que era apenas um ensaio para mais tarde. O show durou cerca de uma hora. Encontrei um amigo e fiquei conversando com ele, nem notando que o palco foi montado para a segunda atração, o Sistema Criolina. Vários instrumentistas em cena, com os DJs comandando a festa somente com música instrumental, repertório 100% de música brasileira. Já conhecidos e com uma legião de fãs, os rapazes do Criolina incendiaram o público. Ao final, a ótima cantora brasiliense Ellen Oléria fez uma participação maravilhosa. A noite estava deliciosa, com uma bela lua no céu iluminando o ar seco desta época do ano. Ouvi muita gente reclamando do atraso do início dos shows. O amigo de meu amigo não aguentou e foi embora quando os ponteiros do relógio já passavam de 22 horas. Enfim, às 22:30 horas, anunciaram a atração mais esperada da noite: o trio Gotan Project formado por Eduardo Makaroff (argentino), Christoph H. Muller (suíço) e Philippe Cohen Solal (francês), que deu uma nova roupagem ao tango, introduzindo elementos eletrônicos no famoso ritmo argentino. Acompanham o trio, três músicos responsáveis por executar o bandoneon, o violino e o piano. Além destes instrumentistas, a cantora argentina Cristina Villalonga dá o charme especial às canções. Eles trouxeram o mais novo show do grupo derivado do disco mais recente, o Tango 3.0. Este show já está disponível em dvd. Enquanto o tango era executado, o guindaste içou novamente as duas trapezistas, mas desta vez elas estavam fantasiadas de flor e borboleta, fazendo um lindo balé lá no alto, tendo o museu como "pano de fundo". Infelizmente o final da apresentação deste número circense não foi como planejaram, pois ao puxar a corda que faria abrir um banner, derramando pétalas amarelas no público, o tal banner não se abriu. O melhor é que a trapezista não desistiu, puxando a corda, enquanto as pétalas iam caindo de forma irregular. De tanto forçar e puxar, o banner cedeu, apresentando a todos a frase "Viva O Cerrado". Foram muito aplaudidas. O show do Gotan Project continuou empolgante, com vídeos passando na cortina ao fundo do palco em algumas das canções, tais como Rayuela e Una Música Brutal. Meu amigo só sossegou quando ouviu sua canção preferida, Queremos Paz, já perto do final do espetáculo. O público lotava o espaço. A maconha rolava solta. Casais hetero e homo se beijavam carinhosamente lado a lado, sem nenhuma manifestação de intolerância. Neste novo trabalho, o Gotan foi além do tango. Como disse Eduardo Makaroff, eles viajaram com o tango até às margens do Rio Mississipi, Estados Unidos, onde o ritmo portenho encontrou com o jazz. O som que se resultou desta viagem soou dançante, provocante e delicioso para os ouvidos. Eles ainda fizeram um mimo na plateia solando alguns acordes que remetiam ao samba. Seria o prenúncio de uma nova viagem? Terminado o excelente show, o público não arredou pé, pedindo bis. Eles voltaram e mostraram mais duas músicas. Novos aplausos, novos agradecimentos, novo pedido de bis, nova música, a ótima e certeira Inmigrante. Enfim, com quase 110 minutos de show, eles saíram definitivamente do palco. Já era madrugada, segunda-feira, dia de trabalho. O apresentador anunciou que ainda rolaria mais uma atração, a prata da casa Mistura Fina. Era demais para minhas pernas. Foram cinco horas sem me sentar com sandálias nos pés. Foi um ótimo teste para o Rock in Rio no final do mês, já que tenho ingresso para a noite de Frejat, Skank, Maná, Maroom 5 e Coldplay. Voltei para casa satisfeito, prolongando o show no carro, onde ouvi o novo cd do Gotan Project.
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