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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A SERPENTE


"Quartas Dramáticas" é um projeto do Grupo de Estudos em Dramaturgia e Crítica Teatral do Departametno de Letras da Universidade de Brasília (UnB). Como o próprio nome explicita, acontece às quartas-feiras, às 19 horas, no Anfiteatro 9 do ICC (Minhocão - Ala Sul - UnB). Está em sua terceira edição, sempre com entrada gratuita. A programação pode ser conferida no blog do projeto: www.quartasdramaticas.blogspot.com, cujo link se encontra na seção "Diariamente", logo ao lado esquerdo desta página. Nunca tinha ido a nenhuma apresentação, mas paguei esta dívida comparecendo na noite de 21 de setembro ao espetáculo "A Serpente", texto de Nelson Rodrigues. Na montagem, apenas um ator graduado em artes cênicas: Ricardo Gomes (Décio), que encarou a tarefa de dar vida a um personagem do universo rodriguiano como se fosse um trabalho profissional. Os demais participantes da montagem eram alunos do curso de Letras, a saber, João Paulo Farah (Crioula), Jordana Mascarenhas (Guida) e Tamíres Felipi (Lígia), e um aluno do curso de Química, Geovanni Timbó (Paulo). Tratava-se, portanto, de uma montagem universitária, com a direção de André Luís Gomes. Cheguei um pouco antes das 19 horas ao Anfi 9 para prestigiar os meus conhecidos Ricardo Gomes, André Luís e Edgar Brandão (responsável pelos vídeos que são projetados durante a apresentação). Como o ICC é enorme, fiquei perdido no estacionamento, deixando o carro na Ala Norte, enquanto o teatro fica na Ala Sul. Uma boa caminhada me relembrou os tempos de faculdade, com aquela energia estudantil característica dos campus universitários. Um grande número de jovens se aglomerava na porta do teatro para entrar, formando uma parede humana que impediu aos que chegavam de ver as projeções de frases de Nelson Rodrigues que passavam na parede ao lado da porta. Entrei antes de todos, sentando-me na primeira fila, bem centralizado. Tinha a responsabilidade de filmar a peça, usando minha câmara digital portátil. Ou seja, nada profissional. O Anfi 9 tem instalações que precisam urgentemente de uma reforma, mas graças ao desprendimento e empenho dos professores do curso de Letras, o projeto Quartas Dramáticas já é um sucesso na UnB. A prova disto é a quantidade de pessoas interessadas em ver a peça. Houve, inclusive, dois ônibus que levaram estudantes de Sobradinho, todos oriundos do curso de formação de adultos. Com todos os problemas, aliado à inexperiência da maioria dos atores-alunos, gostei do que vi. A montagem mostrou a garra de todos que se envolveram no projeto, dando a oportunidade aos alunos de refletirem de um modo diferente sobre a dramaturgia brasileira (e estrangeira), despertando o interesse para conhecer a obra de importantes escritores brasileiros, como é o caso de Nelson Rodrigues. Tanto cenografia, quanto iluminação, ambos de autoria do diretor André Luís, deram um tom intimista às cenas, potencializando o erotismo presente no texto de A Serpente. Destaco também a projeção dos vídeos em uma sombrinha branca. A sombrinha foi aberta nas cenas de sexo entre os casais Guida-Paulo e Lígia-Paulo. Ao mesmo tempo em que encobria os casais, a sombrinha servia de tela para a projeção do vídeo, onde a figura da "serpente" aparecia, como a grande provocadora, além de cenas dos casais se abraçando e se beijando. O movimento rotatório da sombrinha se acelerava na medida em que o ato sexual chegava ao fim. Sabíamos que o êxtase fora alcançado quando a sombrinha se fechou. Bela imagem metafórica. Na entrada, as mulheres receberam lápis vermelhos com uma frase do escritor carioca, autor do texto da peça, enrolada em um pedaço de papel. Havia uma dúvida dos motivos de se ganhar tal mimo. Tal dúvida foi dissipada durante a encenação, quando Lígia disse que foi deflorada por um lápis. O burburinho na sala foi imediato. As falhas ou restrições da montagem foram, de longe, superadas pela criatividade do diretor e pela garra dos que estavam no palco. E os comentários pós peça foram muito bons, sinal de que a peça mexeu com o público. Parabéns a todos os envolvidos.

4 comentários:

  1. Também fui assistir. Confesso que, antes de ir pensei: "Nossa, que programa de índio assistir uma leitura dramática feita por estudantes" - só vou por causa do André, do Edgar e do Ricardo, amigos queridos e também da companhia dos meus amores Ana Paula Cerca de Juliano. Mas, para minha surpresa, a apresentação foi de primeira. Totalmente profissional. Não tirei os olhos do palco. Sorri, interagi, aplaudi, estimulei os atores gritando coisas, como "pula, menina" na hora em que a protagonista finge que vai se suicidar. Adorei o cenário, as luzes, a sacada da sombrinha. Não perco mais nenhuma. E acho que eles deveriam repetir a dose e levar a apresentação para escolas, pro Sesc etc. Bjs a parabéns a todos. Marize Muniz

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  2. Querido Léo,

    Obrigado pela minusiosa apresenta;cão do QUARTAS e da crítica positiva da leitura cênica de A SERPENTE, de Nelson Rodrigues. Quero ressaltar que o Projeto, infelizmente, ainda não obteve apoio financeiro nenhum órgão instituicional ou agência de fomento. contamos com o apoio do DEA,que cede o ANFI 9 para a reliazação das apresentações. Por isso, minha gratidão aos alunos que participam das leituras e dos espectadores que nos prestigiam. Nosso objetivo é divulgar textos dramaturgicos e incentivar a leitura desses textos e motivar a leitura cênica como estratégia de ensino e mediação do conhecimento. Foi emocionante contar com sua presença e a de amigos. Beijo amigo.

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  3. Marize,

    Concordo contigo. Oportunidades deveriam surgir para que mais pessoas pudessem ver esta montagem.

    Bjs.

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  4. André,

    Acho que algum edital deveria contemplar o projeto, pois, mesmo sem recursos, é um sucesso de audiência e é uma oportunidade de difundir a dramaturgia brasileira e mundial, além de formar público, fator importantíssimo para o teatro.

    Bjs.

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