Cena 1: uma mulher, Virginia Smith, mãe de um menino, moradora da pacata cidade de Carson, em Nevada, Estados Unidos, assa um bolo de cenoura. Um homem, sem nome e sem memória, bate campainha. Os dois conversam (os dois atores sempre olham para a plateia). Ponto alto da cena: o sexo entre os dois. Não há contato físico entre os atores. Virgínia segura uma xícara de café que vai balançando em ritmo crescente até que o líquido cai em sua camisola. Morte: Virgínia narra que o homem sem nome matará seu filho.
Cena 2: o homem sem memória na prisão, condenado pela morte do filho de Virgínia, é entrevistado por um atrapalhado repórter, Steven Forsythe. Os dois ficam sentados em cadeiras lado a lado. O prisioneiro provoca e o repórter fica violento, batendo-o e chutando-o. Ponto alto da cena: o repórter deixa o seu gravador ligado e revela alguns fetiches sexuais. Morte: o prisioneiro não aguenta os ferimentos que sofre do repórter.
Cena 3: Steven Forsythe troca mensagens com uma desconhecida, Jennifer Mendes. São mensagens sexuais. Eles acabam se encontrando em um quarto de hotel e percebem que já se conhecem. Ponto alto da cena: o sexo entre os dois. Não há contato físico. Ambos ficam lado a lado em uma interessante coreografia e vão retirando camisetas brancas. A dele sempre com a mesma mensagem: "Você está satisfeita?", enquanto as mensagens dela vão ficando apimentadas: "Cala a boca", "Lamba-me" e "Me Fode", todas em inglês. Morte: não há, mas Jennifer anuncia, por mais de uma vez, que irá morrer em três semanas.
Cena 4: Jennifer visita a irmã, Alba Mendes, no hospital, onde ela tem uma vida vegetativa. É a última vez que Jennifer a visita. Os pensamentos de Alba são verbalizados pela atriz que fica sentada o tempo inteiro em uma mesa. Ponto alto da cena: o balé dançado por Jennifer. Morte: não há, mas existe um prenúncio da morte de ambas.
Cena 5: O enfermeiro Benigno Rodriguez entra no quarto de Alba para lhe fazer a limpeza diária. Ponto alto da cena: a performance do ator que faz Benigno como se fosse um personagem de um vídeo game, cujo objetivo é salvar a Princesa Pêssego, no caso, a doente Alba. Morte: o enfermeiro mata Alba com overdose de remédios.
Cena 6: Benigno, inocentado da morte de Alba, trabalha no necrotério do hospital, onde não poderá fazer mal a nenhum vivo. Ele é o responsável por arrumar o cadáver de Anna Gordon, deitada em uma mesa fria. Ponto alto da cena: Benigno vestindo o cadáver e conversando com ela, fazendo as perguntas e ele mesmo respondendo. Morte: Anna Gordon já está morta.
Cena 7: é um flash back. Anna Gordon está em casa a espera do marido, Edward Gordon, que faz aniversário. Eles brigam. Ponto alto da cena: o bolo na cara que Edward recebe após soprar as velas, dando um momento pastelão à peça. Morte: não há, mas a narração indica que Anna se suicida.
Cena 8: Edward Gordon é o médico responsável por aplicar a injeção letal em prisioneiros condenados à morte. Ele está no local da execução. A condenada é Virgínia Smith, a personagem da primeira cena, responsável por uma série de assassinatos, entre eles os de Jennifer Mendes, Steven Forsythe e Benigno Rodriguez. Ponto alto da cena: o discurso final de Virginia que induz que nós, o público, estávamos ali para presenciar a sua execução por uma injeção letal. Morte: as relatadas por Virgínia e a dela própria.
Este é um resumo do que vi na noite de quarta-feira no Teatro da Caixa em mais um espetáculo do Cena Contemporânea 2011, pelo qual paguei R$ 16,00 o ingresso. A casa estava bem cheia. O nome do espetáculo é Carson City, com direção de Wojtek Faruga. O roteiro é do diretor e de Przemystaw Kazusek. A peça é encenada por um coletivo polonês, denominado 52º43'N 19º42'E Project, reunido unicamente para este espetáculo. Eles não pretendem se firmar como um grupo. São oito atores em cena, contracenando de dois em dois. Cada ator participa de duas cenas. A morte é o tema central da história, mas sempre de forma violenta. É como se a violência mortal fosse uma praga imposta aos habitantes da pacata cidade de Carson, no interior do estado de Nevada, Estados Unidos. O cenário parece, à primeira vista, uma repartição pública, com uma longa mesa e várias cadeiras. Também compõem a cenografia quatro retroprojetores e um telão, onde imagens de Carson City são exibidas, com suas casinhas bonitinhas, com cercas brancas baixinhas enfeitando os jardins. Apesar de ter rido várias vezes, o tema é pesado. Faz refletir, ao final, de que o ser humano adora uma violência, ao ponto de querer assistir a uma execução de uma condenada à pena de morte. O pior é que me senti assistindo a esta execução. Fiquei sem reação ao ouvir o discurso final da personagem Virgínia. Gostei da peça, mas só me dei conta disto bem depois, porque ao final do espetáculo, nem palmas bati.
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