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sábado, 10 de setembro de 2011

TERRA DE VENTO

Brasília está plena de atrações culturais neste final de semana. O tempo continua muito seco, com muitos incêndios provocando acúmulo de fumaça suspensa no ar. Durante o dia não dá vontade nenhuma de sair, pois a secura provoca uma moleza no corpo. No entanto, as noites ficam frescas, facilitando a frequência aos locais de cultura na cidade. Na sexta-feira, eu e Ric fomos conferir uma peça teatral de um grupo de Brasília. Sessão de 21 horas no Teatro Plínio Marcos (Complexo Cultural da Funarte), com ingresso custando R$ 20,00 a inteira. Pouco mais que cinquenta pessoas foram prestigiar a montagem do grupo Sutil Ato para Terra de Vento, texto e direção de Jonathan Andrade. No palco, nove atrizes: Andréa Costa, Ana Maria Gomes, Alice de Holanda, Gleide Firmino, Lisbeth Rios, Núbia Karolyna, Sami Maia, Micheli Santini e Valéria Rocha. Em aproximadamente 70 minutos, a história de nove mulheres que vivem em uma terra onde o mar secou se passa à nossa frente. O lugar acabou sendo chamado de terra de vento, onde a chuva se esqueceu de cair, onde os homens, maridos e filhos destas mulheres, também se foram com o mar. O texto é denso, mas carregado de lirismo, que fica potencializado com o belo cenário (de autoria de Jonathan Andrade e Vitória Biagiolli), onde o branco predomina, evocando um mar de areia alva. O lirismo também se faz presente na música, executada ao vivo. Uma melodia triste que embala a história destas mulheres. No início, fiquei confuso, pois as atrizes trocavam de personagens a todo instante, em avanços e retrocessos no tempo, mas ao final tudo fica esclarecido. Eu divido a peça em três partes. A primeira apresenta as mulheres em tempos cronológicos diferentes, o que pode confundir quem está assistindo (confirmei esta impressão ao sair, quando sempre gosto de ouvir o que as pessoas dizem enquanto deixam o teatro). A segunda parte resgata a história do lugarejo, quando há uma narrativa densa, linear, sobre o que ocorreu naquela terra ao longo de 40 anos (o folder diz que há trinta anos não chove, mas em cena uma das personagens diz que não chove há quarenta), o que nos ajuda a compreender a história de cada uma delas, em três momentos diferentes no tempo. É a parte onde predominam monólogos de uma mesma personagem vivida por três diferentes atrizes. O interessante é que estas atrizes não são nada parecidas uma com a outra, simbolizando uma alteração, ao longo dos anos, na forma de encarar o lugar, na forma de encarar a vida. No início, tudo são flores, mas depois, o calo aperta no sapato. A terceira, a mais bonita em minha opinião, é o epílogo no qual o lirismo predomina, mostra que a vida local é cíclica, que é agradável para algumas das mulheres. Nesta terceira parte, a atriz que faz Maria dá um show de interpretação. O nascimento de seus filhos é todo cheio de simbolismo, onde os gêmeos são representados por barcos em uma terra onde não há mais o mar, significando que já partiram há muito tempo. Ao final, gostei muito da dramaturgia e da encenação, embora algumas atrizes se destaquem mais do que outras na interpretação de suas personagens. Mas como o projeto ainda está em fase de transformação, em constante pesquisa, como está escrito no folder e textualmente falado pelo diretor ao final da peça, creio que melhoras virão. Para quem estiver em Brasília, vale a pena conhecer. Fica em cartaz até 11 de setembro na Funarte e de 16 a 18/09 será encenado no Teatro Dulcina. A questão de não chover calhou bem com a situação que vivemos aqui na cidade, com a falta de chuva. Oxalá que a água venha logo, assim como chegou na terra de vento, mas que não demore 40 anos! 

Um comentário:

  1. Obrigado pela presença e pela contribuiçao!!! Belissimo texto. Vamos buscar melhorar sempre! Obrigado! Jonathan

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