Assim que terminou o espetáculo infantil na Caixa Cultural, conversei com uns amigos na saída até chegar o momento de ir para o Teatro Goldoni, local da última peça que vi nesta edição do Cena Contemporânea 2011. Cheguei a tempo de fazer um rápido lanche. Havia muita gente querendo ingresso, mas não havia disponibilidade na bilheteria. Uma das responsáveis pelo festival organizava uma fila, distribuindo senhas, caso houvesse desistências, especialmente das pessoas que haviam recebido cortesias. Mais de trinta senhas foram entregues. Felizmente, todos que estavam esperando conseguiram comprar sua entrada, ao preço de R$ 16,00 a inteira. O teatro lotou para ver a trupe pernambucana O Poste Soluções Luminosas encenar um texto da baiana Cláudia Barral. A encenação e a cenografia são de responsabilidade de Samuel Santos. O elenco de Cordel do Amor Sem Fim tem três atrizes e um ator, a saber, Agrinez Melo, Eliz Galvão, Naná Sodré e Thomás Aquino. Ainda em cena, Diogo Lopes, responsável pela execução de vários instrumentos musicais, incluindo um didgeridoo de bambu. A cenografia remetia a um local simples e rústico, às margens do Rio São Francisco, na cidade de Carinhanha, interior da Bahia. O enredo gira em torno de uma história de amor. Três irmãs vivem juntas e a mais nova está prestes a aceitar o pedido de casamento de José, mas no dia do almoço do "sim", ao ir comprar farinha no cais do porto, ela encontra o homem de sua vida, Antônio, que promete voltar para buscá-la. Ela recusa o convite de José, contrariando os desejos da irmã mais velha. Por outro lado, a outra irmã gosta da situação, pois é apaixonada por José. O espetáculo tem vários pontos fortes: a iluminação, a maquiagem marcando as expressões faciais, a interpretação de Thomás Aquino, dando um ar demoníaco a José, antecipando o trágico final, os recursos cênicos (a porta de madeira é desmembrada em quatro e vira o assento de bancos dentro da casa), a música executada ao vivo, inclusive pelos atores. No entanto, o que mais me chamou a atenção foi a utilização de recursos de desenho animado, como o andar na ponta dos pés das três irmãs pontuado por barulhos feitos com um pilão ou com chocalhos, e o fato das cenas serem pontuadas como se fossem quadros de uma história em quadrinhos. Como a história se passa no Nordeste, nada melhor do que reunir tais elementos e fazer um cordel animado, no qual a presença de Deus e o diabo são constantes. O título é muito apropriado, pois ao invés de ler, assistimos, durante uma hora, um cordel à nossa frente. Quanto ao amor sem fim, quem vê, entende o motivo. A religiosidade também é forte, não só no texto, mas nos gestos dos atores, especialmente da atriz que faz a irmã mais velha, uma autêntica preta velha de um terreiro de candomblé. Ao final, eles foram muito aplaudidos e ficaram para um bate papo com a plateia. Eu, cansado da maratona de peças teatrais, resolvi ir embora. Meu plano era passar no ponto de encontro, no Complexo Cultural da República, onde, provavelmente, ainda ocorria o show de encerramento do projeto Todos Os Sons- Domingo CCBB que, como em edições anteriores, se associou ao Cena Contemporânea, celebrando o final da edição 2011 de ambos. No entanto, o cansaço me fez ir direto para casa. 2012 tem mais e será especial, pois o Cena homenageará a UnB por seus 50 anos, revivendo um festival de teatro latino-americano e africano promovido pela Universidade de Brasília na segunda metade dos anos 80. Em 2012, veremos peças internacionais vindas da África e da América Latina. Aguardemos, pois!
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