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domingo, 28 de novembro de 2021

O DEMÔNIO DAS ONZE HORAS (PIERROT LE FOU)

O Demônio das Onze Horas (Pierrot le fou), 1965, 110 minutos.

Direção de Jean-Luc Godard. Protagonizado por Jean-Paul Belmondo (Ferdinand) e Anna Karina (Marianne).

Eu vi este filme no início dos anos 1980, quando era estudante de economia na UFMG. Na faculdade tinha um cine clube que eu costumava frequentar. Só passava filmes de cineastas cultuados, como é o caso de Godard.

Confesso que detestei o filme.

Quatro décadas depois, o revi, pois estou inscrito no Clube de Análise Fílmica, coordenado pelo Prof. Alisson Gutemberg, cujo tema das aulas de novembro é o cinema de Jean-Luc Godard.

Revi Pierrot le fou com outro olhar. Já tinha participado de duas aulas sobre o cineasta francês, adquirindo conhecimentos, não só do professor, mas também da galera que participa do clube, com intervenções, ao final da exposição de Alisson, muito enriquecedoras. Com tal bagagem, além de centenas de filmes assistidos neste intervalo entre o primeiro contato com o filme e este último, minhas impressões foram outras.

O filme é uma ode de amor, não só pelo próprio roteiro, com a fuga de Ferdinand, casado com uma burguesa fútil, com Marianne, uma mulher decidida, com bagagem cultural, mas também um amor às artes.

A obra cinematográfica de Godard é repleta de citações e isto não é diferente em Pierrot le fou. Citações explícitas, verbais, como no diálogo de Ferdinand com a esposa, quando ele afirma que deu folga para a empregada da casa três vezes naquela semana para ela ir ao cinema ver Johnny Guitar, de Nicholas Ray, ou quando ele lê diversos trechos de livros, que é o caso da cena inicial, na qual Ferdinand está em uma banheira lendo, em voz alta, trechos sobre o pintor espanhol Diego Velázquez para um menininha, que não presta atenção, mirando o infinito.

Também há citações visuais, com diversas reproduções de pinturas na parede dos quartos, a exemplo de Renoir, Modigliani, Chagall e Picasso.

Ao participar da análise do filme no Clube de Análise Fílmica, tomei conhecimento de que a maior citação de todas é a do poeta francês Arthur Rinbaud. Citações verbais, citações visuais (desde a formação do título no início do filme), características do próprio personagem Ferdinand, até um poema declamado em off na cena final.

Outro ponto a destacar é o uso das cores para ajudar a transmitir os momentos/sentimentos vividos por Ferdinand. Ainda casado, ele vai a uma festa de ricos. Na medida em que seu tédio vai aumentando, as cenas ficam monocromáticas, passando pelo vermelho, o azul, chegando ao verde pálido, cena em que ele trava um diálogo com o diretor norte-americano Samuel Fuller (neste diálogo, Fuller define o cinema como "emoção") e sai da festa.

Nesta mesma festa, o diretor mostra a diferença de Ferdinand para a maioria dos presentes. Enquanto ele buscava sempre cultura, os homens presentes discutiam qual carro era melhor: Alfa Romeo X Oldsmobile, e as mulheres debatiam sobre desodorantes e laquês. A futilidade X o conhecimento. 

Quando ele estava vivendo com Marianne em uma casa no litoral, a fotografia é vibrante, é solar.

Ainda coube no filme inserções/críticas contra a violência das guerras, pois ainda havia marcas da Guerra da Argélia nos franceses, e estava em curso a Guerra do Vietnã na época em que o filme foi feito.

Desta vez não achei chato, muito antes pelo contrário, pois fiquei entretido, observei vários aspectos que tinham passado despercebido quando o vi pela primeira vez. Gostei muito.

Vi, em 25/11/2021, no Telecine Play.

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