Convidei uma amiga e colega de trabalho de Minas Gerais que está em Brasília participando de uma capacitação gerencial para assistirmos a um filme na noite de terça-feira. Ela pouco conhece de Brasília. Resolvi, portanto, levá-la ao CasaPark Shopping e conferir o ganhador do Oscar 2010 de melhor filme, Guerra ao Terror. Chegamos uma hora antes do início do filme. Resolvemos lanchar e encontramos amigos fazendo o mesmo. Sentamo-nos juntos até que eles se retiraram, pois a sessão do filme deles inciava antes do nosso. Tínhamos ainda um tempinho para passar na Livraria Cultura. Checando as novidades de filmes lançados em dvd, vi que o filme por nós escolhido já estava disponível. Tenho todos os filmes até então lançados em dvd que já ganharam o Oscar na categoria melhor filme. Assim, decidi comprar Guerra ao Terror. Já na bilheteria do cinema, decidimos ver outro filme, O Livro de Eli (The Book of Eli), dos irmãos Hughes, produção americana de 2010, com Denzel Washington como ator principal. A fotografia da película é impactante, preto e branco, retratando um mundo dilacerado pós guerra com consequências horríveis. Neste mundo, onde não há dinheiro e a áuga é um bem para lá de precioso, está um andarilho solitário, Eli (Washington), com uma inseparável mochila. Ele caminha em direção ao oeste, ação que ele desenrola há trinta anos, sempre guiado por uma voz interior. No seu caminho, muitos baderneiros, no melhor estilo Mad Max. Há muita morte durante o filme, com Eli enfrentando dezenas de pessoas ao mesmo tempo sem nunca se ferir. Ele tem o corpo fechado. Em um povoado devastado, está o fascista vivido por Gary Oldman que aparece lendo a biografia de Mussolini e está em busca do livro que o ajudará a comandar o que restou do mundo. Logicamente, quem tem este livro é Eli e ao ser descoberto, o embate está travado. O filme faz referências explícitas ao já mencionado Mad Max, mas também há elementos de Waterland, fracassso de bilheteria na década de oitenta. Também é veículo para mostrar que marcas como Motorola, Apple (iPod), GMC e Ray Ban sobrevivem ao apocalipse. Previsível, o filme fica chato depois da primeira meia hora e envereda por um caminho, digamos, messiânico. Termina de forma conservadora e enaltece a religião, mesmo a criticando veladamente quando Oldman diz que no passado quem dominava o texto do livro, dominava a multidão e que isto poderia perfeitamente acontecer novamente. Os irmãos Hughes, depois de um sombrio Do Inferno, conseguiram fazer uma espécie de Do Paraíso, sem as belezas a ele associadas, mas que com fé e perseverança, mesmo usando da violência, todos chegamos onde queremos. Risível. Obviamente, não gostei.
Um pouco de tudo do que curto: cinema, tv, teatro, artes plásticas, enogastronomia, música, literatura, turismo.
Pesquisar este blog
quarta-feira, 31 de março de 2010
UM ANO DE BLOG
Hoje está fazendo um ano que eu comecei este blog. Muitos disseram que não duraria nada. Tem sido uma experiência prazerosa escrever quase que diariamente aqui sobre o meu dia a dia, sobre as minhas impressões do que ouço e vejo. Sigamos em frente. Obrigado a todos que participaram e participam desta jornada. Parabéns! É hora de soprar a velinha!!!!!!
terça-feira, 30 de março de 2010
RICK MARTIN
Antes tarde do que nunca. O que todos já sabiam, foi anunciado hoje em carta pelo próprio cantor: Rick Martin saiu do armário! Assumiu-se homossexual.
segunda-feira, 29 de março de 2010
NOSSA LÍNGUA NOSSA MÚSICA - CONSUELO DE PAULA & ROSA MADEIRA
Como já de costume nos últimos domingos, fechei o final de semana em um grande show no Centro Cultural Banco do Brasil. Um não, dois. Comprei ingresso (R$ 7,50 a meia entrada - correntista Banco do Brasil) para ver mais um show do projeto Nossa Língua, Nossa Música. As artistas da noite foram a mineira Consuelo de Paula e a portuguesa da Ilha da Madeira Rosa Madeira. O espetáculo começa como o que vi na última sexta-feira. O ator Gerson Lobo fazendo Pero Vaz de Caminha chega a Brasília e apresenta, de forma bem humorada, o projeto e as cantoras da noite. Chama a mineira Consuelo de Paula e sua companheira de cena, a percussionista Cássia Maria, que também ajuda nos vocais, para a primeira parte do espetáculo. A voz de Consuelo é afinadíssima e a maioria das canções apresentadas são de sua autoria ou por ela adaptada. O tema das músicas é tipicamente mineiro, especialmente para quem conhece as canções de artistas como Rubinho do Vale, Titane, Celso Adolfo, Paulinho Pedra Azul ou Tadeu Franco. Letras com um lirismo ímpar, apenas com voz, violão e percussão. A plateia não lotava o teatro, mas estava em bom número. O público parecia em transe, pois estava quieto, com atenção focada na belíssima interpretação da dupla Consuelo/Cássia que estão juntas há 14 anos nos palcos. Em determinado momento, Cássia perguntou se ninguém cantava ou dançava, achando todos compenetrados. Acho que era a música, envolvente, viajante. Ao final de cinquenta minutos, o show das brasileiras termina e elas são aplaudidas de pé. Consuelo chama a atração estrangeira, Rosa Madeira. Ela entra acompanhada de Pero Vaz de Caminha e seus três músicos Marco Abrantes (violão), Ricardo Araújo (guitarra portuguesa) e Sérgio Borges (baixolão), todos de preto. Rosa Madeira vestia um traje típico de sua ilha, agradeceu a presença de todos e desfilou uma série de fados. Sua interpretação é apaixonada, com garra. Nada de melancolia, pois há fados corridos. Claro que sucessos de Amália Rodrigues são mostrados por ela. Finaliza com Saudades do Brasil em Portugal, música de Vinícius de Moraes, quando convida Cássia Maria para acompanhá-la na percussão. A plateia aplaude muito e pede bis. Ela retorna ao palco, trazendo consigo Consuelo de Paula. Sérgio Borges assume o microfone e canta Isto Aqui O Que É?, de Ary Barroso, com Consuelo tocando ganzá e Rosa Madeira tentando ler a letra da música em um minúsculo papel. No final, ficaram todos sambando no palco ou tentando, caso de Rosa, enquanto o instrumentista cantava a letra, acompanhado pela plateia. Mais um belo show deste projeto que une os países de língua portuguesa pela música.
domingo, 28 de março de 2010
MARIA GADÚ
Muita expectativa em torno do show da nova queridinha da música brasileira, Maria Gadú. Tenho o seu primeiro cd já faz algum tempo e gosto muito. Quando anunciaram o show em Brasília, logo comprei o ingresso (R$ 92,00, inteira, incluindo taxas por ter comprado pela internet), pois tinha notícias de lotação esgotada em todos os teatros nos quais ela vem dando shows pelo Brasil. Em Brasília não foi diferente. Inicialmente com duas datas, dias 26 e 27 de março, a produção do espetáculo abriu um show extra para as 23:30 horas do sábado, em seguida à sessão de 21 horas. Resolvi ir mais cedo para estacionar com tranquilidade no estacionamento do subsolo dos hotéis Royal Tulip, onde está o Teatro Oi Brasília. Do lado de fora do hotel, alguns cambistas paravam os carros perguntando se havia ingresso sobrando. Na portaria, somente quem tinha ingresso estava entrando. Não querendo usar o serviço de manobrista, pois na saída espera-se muito tempo para o carro chegar, fui direto para o subsolo, mas um segurança não estava deixando passar. Disse que iria ao restaurante. Os cones de retenção foram retirados e eu estacionei. No saguão do teatro, filas já se formavam, pois as cadeiras extras não eram numeradas. Houve um atraso na abertura do teatro que geralmente é aberto com meia hora de antecedência da hora marcada para o início do show. Entramos às 21 horas. Logo o primeiro e o segundo sinais soaram. Com quinze minutos de atraso, o terceiro sinal tocou e as luzes se apagaram, mas nada aconteceu. Ficamos no teatro sem saber o que se passava. Havia uma movimentação no palco, mas as luzes não se acendiam. Pensei que estávamos colaborando com a Hora do Planeta, mas nada foi avisado. Com trinta e cinco minutos de atraso, a banda entrou no palco, com Maria Gadú em figurino simples - tênis branco, calça jeans e uma camiseta de malha vermelha, sentanda no banquinho com seu quase inseparável violão. A histeria foi geral. Público majoritariamente feminino. Gritos de eu te amo, maravilhosa, te quero, senta no meu colo, flashs de máquinas foram uma constante durante todo o show. Gadú cantou o repertório do seu primeiro trabalho, incluiu uma homenagem a Renato Russo, que estaria completando cinquenta anos no dia se estivesse vivo, cantando duas músicas, dentre as quais a interminável Faroeste Caboclo (que acho chatíssima). Para esta homenagem chamou ao palco seu amigo Leandro Leo que também cantou uma música de sua autoria, além de fazer um dueto com Gadú na música Laranja. O garoto já tem público na cidade, que gritava seu nome. Se considerarmos apenas as interpretações, foi um belo show. Gadú mostrou sua potente voz tanto nas músicas de sua autoria (Shimbalaiê, Lounge, Bela Flor, entre outras), como em sucessos na voz de outros cantores, como A História de Lili Brown (Chico Buarque e Edu Lobo); Trem das Onze (Adoniran Barbosa); Ne Me Quite Pas (Jacques Brel), Lanterna dos Afogados (Herbet Vianna), e Baba (Kelly Key). Quando analiso o show como um todo, não gostei. Falta direção. Maria Gadú, muito jovem, se comportava como se estivesse tocando em um bar, em um boteco. Respondia aos que perguntam alguma coisa das primeiras filas. Como as respostas eram curtas, seguidas de risadas, e não tínhamos ouvido a pergunta, quem estava mais atrás ficava boiando. Ela ria e conversava baixinho com Leandro Leo no palco, assim como com alguns músicos, ficando um hiato entre uma música e outra. Nos pouco momentos em que largou o violão e cantou de pé, sua postura me lembrou muito a de Cássia Eller no início de carreira. De qualquer forma, como é a queridinha da vez, o público aplaudia e ria de tudo o que ela fazia no palco. Espero que com uma direção em seus shows, ela possa concentrar naquilo que sabe fazer, cantar e muito bem. Ao final, quando apresentava a banda (diga-se de passagem, ela fez a apresentação da banda por duas longas vezes), ao dizer o nome do responsável pela percussão, ela contou que seria madrinha da filha dele e que não se responsabilizava se a menina começasse a fumar aos treze anos. Ele ameaçou repensar o convite. Logo, Gadú emendou que não poderia fazer isto, pois convite feito, convite aceito. Além disto já tinha comprado brinquedinhos para a garota: dois carrinhos e uma bola. As mulheres que amam mulheres presentes gritaram em êxtase. As órfãs de Cássia Eller estão contentes, pois já acharam sua substituta.
sábado, 27 de março de 2010
NOSSA LÍNGUA NOSSA MÚSICA - MARIA DAPAZ & NANCY VIEIRA
Em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília (Setor de Clubes Sul, Trecho 02, Conjunto 22) um novo projeto musical. Desta vez, uma celebração à música dos países que falam e cantam a língua portuguesa. Recebeu o ótimo nome Nossa Língua Nossa Música, trazendo à cidade oito shows onde, em cada um, um artista brasileiro convida um artista dos países irmãos. Mesmo com ingresso comprado (R$ 7,50, meia entrada), perdi o primeiro show no dia 25/03/2010, com Maria Dapaz, de Pernambuco e Joana Amendoeira, de Portugal, pois estava muito cansado após um estafante dia de trabalho. Já na sexta, dia 26/03/2010, quando dei for finalizado os trabalhos, segui direto para o CCBB. Cheguei uma hora mais cedo, sentei-me no Bistrô Bom Demais para um rápido lanche, tendo a oportunidade de ouvir uma roda de debate sobre a poesia, com a presença de vários poetas brasilienses em torno do convidado Antônio Cícero. Enquanto comia, ouvi deliciosa história de Nicolas Behr sobre a questão da poesia estar sempre associada à sensibilidade. Mas como não tinha ido para ver o debate, quando estava próximo de 21 horas, me dirigi ao Teatro I. O teatro não estava com lotação esgotada, mas havia um bom público. Muitos africanos de língua portuguesa. Nesta noite, os provenientes de Cabo Verde, por motivos óbvios, estavam em maior número, incluindo a presença do embaixador daquele país em terras brasileiras. O espetáculo começa com Gerson Lobo, um ator pernambucano, paramentado como um navegador português, fazendo a introdução do projeto. Com sotaque lusitano e esbanjando bom humor, conquistou a plateia. Ele é o responsável por introduzir o show da noite, chamando Maria Dapaz para o palco. Entra a cantora pernambucana com um violão a tiracolo, que a acompanha durante todo o show, e apenas um músico, Bruno Serroni, com seu cello. Já na primeira música ela cativa o público, tornando o show um encontro de amigos. Com voz marcante e presença segura no palco, canta clássicos do cancioneiro brasileiro, especialmente composições nordestinas, dando uma interpretação com marca própria. Luiz Gonzaga é o seu homenageado, de quem extraiu para seu repertório as conhecidas Sabiá, Pau de Arara, O Xote das Meninas (numa versão rock'n roll), Qui Nem Jiló e A Vida do Viajante. Sobra também espaço para apresentar composições próprias, como Meu Amor, Meu Amorzinho, quando o público acabou cantando junto. Não a conhecia, apreciei sua voz e seu trabalho. Ao final de sua apresentação, chama a caboverdiana Nancy Vieira para entrar em cena e, juntas, interpretaram lindamente Aquarela do Brasil, de Ary Barroso. Maria Dapaz saiu do palco aplaudida de pé. Nancy Vieira veio acompanhada de três músicos, Jorge Cervantes, peruano (guitarras e cavaquinho), Ciro Berini, português (piano e guitarra), e Marcos Alves, português (bateria e percussão). Com um show menor em duração, mas não em qualidade, Nancy mostrou a que veio. Cantou os ritmos de Cabo Verde , incluindo músicas interpretadas em crioulo, o dialeto local, com uma voz bonita e afinada. Também colocou o público para acompanhá-la, batendo palmas e respondendo na canção Nha Kumadri, que dedicou aos caboverdianos presentes. Perguntou se havia alguém da Guiné-Bissau e uma pessoa se manifestou. Explicou que nascera na Guiné e lá estava enterrado seu umbigo. Mas ressaltou que era caboverdiana de corpo e alma. Confundiu o nome de Maria Dapaz por duas vezes, chamando-a de Maria da Fé. Na segunda vez, o público a corrigiu. Ela se desculpou e dedicou a música É Morna à pernambucana. Explicou que a morna é um ritmo popular em seu país, que um poeta português o conceituou como sendo uma melancolia alegre. É verdade, o ritmo é melancólico, mas não dá sensação de tristeza. Quando começaram os acordes conhecidos de Andar Com Fé, de Gilberto Gil, Nancy chama Dapaz para cantarem juntas. Foi lindo. Aplaudidíssimas, elas deixam o palco, mas a plateia não arreda pé, pedindo mais um. Retornam e interpretam Força Estranha, de Caetano Veloso. O dueto ficou muito bonito, mesmo com Nancy tendo que ler a primeira parte da letra, mas não perdeu a harmonia desta bela canção. Foram duas horas de um show simples, mas cheio de energia, de alegria, de celebração, como é a proposta do projeto. Na medida do possível, vou tentar conferir os demais shows que se estenderão até o dia 11 de abril (haverá uma pausa na semana santa).
quinta-feira, 25 de março de 2010
UM CHORO NO CORREDOR
Quando saí do elevador no andar onde ficava o quarto do hotel onde estava hospedado, virei à direita em direção ao corredor que dá acesso ao apartamento 1623. Olhei para o relógio na parede. Os números 2, 3, 0 e 7 indicavam em um vermelho reluzente que já era tarde da noite. Estava muito cansado, pois o dia fora cheio de reuniões infrutíferas nas quais nada se decidiu. Longe de minha casa, só queria saber de um bom banho, deitar e dormir. Quando cheguei perto da porta do quarto, ouvi um choro. Talvez uma criança com fome ou com dor de barriga, pensei. Mas o choro parecia de uma pessoa adulta. Minha cabeça girava a mil, imaginando várias hipóteses para aquele choro. Parei no meio do corredor, tentando identificar de onde vinha. O hotel em que estava hospedado é muito grande. Cada andar tem dois grandes corredores, em dos quais estava meu quarto, que são interligados por quatro corredores menores. O choro vinha de um dos passadiços. A minha curiosidade falou mais alto. Caminhei em direção ao barulho. Quando virei no primeiro corredor, vi uma mulher, aparentando cinquenta anos, chorando em frente ao apartamento 1638. Ao perceber minha chegada, levantou a cabeça, que até então estava virada para o chão, me fitando nos olhos. Estava bem vestida e usava brincos com pequenos diamantes. Seu semblante era um transtorno só. Olhos inchados, maquiagem borrada, cabelo desgrenhado, mãos trêmulas. Não saiu do lugar. Cheguei perto, perguntando se podia ajudar. A senhora ficou estática, muda, apenas olhava para mim e chorava convulsivamente. Perguntei de novo se precisava de ajuda. Nenhuma resposta. Suas mãos procuravam algo nos bolsos do casaco que usava, sem sucesso. O mesmo ritual de procura foi feito em sua bolsa. Eu estava com minha chave, destas parecendo um cartão de crédito nas mãos. Subitamente, suas mãos vieram em minha direção, tocando na chave. Percebi que queria uma chave para abrir a porta. Recuei um pouco. Talvez tenha sentido medo. O choro era baixo, mas constante. Olhei em volta. Tudo calmo. Nenhum sinal de novos hóspedes. Ela insistia em pegar minha chave. Arrisquei falar em inglês. Seus olhos brilharam. Era estrangeira. Não esboçou nenhuma palavra. Conclui que era muda ou estava em choque. Estava inquieta, mas não se movia. Tentei me concentrar. Achei melhor chamar um empregado do hotel. Ao começar a voltar, na intenção de pegar o elevador, a senhora falou, em francês, que precisava abrir a porta de seu quarto, mas que não achava sua chave. Voltei, pois entendo a língua francesa, e disse que iria procurar ajuda na recepção. Bastou estas palavras para que entrasse em uma crise histérica. Tremia dos pés à cabeça. Balançava tanto, que achei que seu pescoço iria se quebrar. Parecia que estava em transe, recebendo um espírito. Achei que todos os hóspedes do andar sairiam de seus aposentos para ver o que acontecia. Fiquei temeroso de estar ali e alguém pensar que eu era o motivo para aquela cena. Em instantes, sem mais, nem menos, a crise cessou. Ela fixou o olhar no pé da porta. Olhei para o local e vi uma ponta do que parecia um cartão no vão da porta. Apontei, mostrando-lhe que poderia ser sua chave. Com um balanço da cabeça, assentiu. Pediu para que eu o pegasse. Num ímpeto abaixei-me, mas, agachado, não peguei a chave. E se tivesse acontecido alguma coisa dentro do apartamento? E se ela queria um álibi ou uma pessoa que pudesse ser um potencial culpado? Minhas impressões digitais poderiam ficar na chave. Logo imaginei alguém morto dentro do quarto ali em frente. Tenho uma imaginação fértil, sempre voltada para o nefasto. Era melhor não arriscar. Levantei-me e disse que só poderia ajudá-la chamando alguém do hotel. Ela se contorcia, dizendo para não falar nada para ninguém. Só queria minha ajuda. Percebi um cheiro de álcool no ar. Vinha da sua boca. Estava com alguns graus etílicos na cabeça. Percebendo que eu não pegaria o cartão, se abaixou, o puxou para fora e se levantou. Realmente era uma chave usada no hotel. Pediu-me para abrir a porta. Mostrei, com minha chave nas mãos, como se abria, mas ela não queria colocar o cartão na fenda da fechadura. Pedia para eu pegar sua chave, enfiá-la na fechadura e abrí-la. Querendo ajudar, mas com medo, preferi deixá-la no corredor parada em frente à porta. Em tom de súplica, apenas me disse para não ir à recepção. Voltei para meu apartamento. Olhei duas vezes para trás, mas ninguém me seguia. O choro voltou a ecoar no corredor. O incrível é que ninguém aparecia, não havia sinal de vida, além da minha, da senhora chorosa e das plantas que enfeitavam os corredores. Sabia que o hotel estava lotado, pois acontecia uma conferência mundial em suas dependências sobre novos métodos de implantes dentários. Onde estavam todos àquela hora? Entrei rapidamente no meu quarto, tranquei a porta com os ferrolhos internos, deixei as luzes apagadas. Em silêncio, tentava escutar todos os barulhos externos. A campainha do elevador anunciando o andar soou. Coloquei o ouvido na porta para tentar distinguir alguma possível conversa. Uma pessoa passou no corredor. O choro continuava. Os passos eram acelerados, mas logo cessaram. Uma conversa, certamente em francês, em tom baixo, dava para ser ouvida, mas não compreendia o que se falava. O choro parou. Fiquei com vontade de voltar ao corredor, mas não tive coragem. Só pensava em coisas ruins. Tirei a roupa e tomei uma boa chuveirada. Foi relaxante. Depois de enxuto, vesti meu pijama, preparando-me para deitar. Fiquei em silêncio, na esperança de ainda ouvir alguma coisa. Escutei uma porta se abrindo e, em seguida, se fechando. Nenhum passo no meu corredor. O elevador parou novamente no andar e logo seguiu seu destino. Nada mais se ouvia. Passava de uma hora da madrugada.
quarta-feira, 24 de março de 2010
A BANDEIRA QUE PASSA
A BANDEIRA QUE PASSA
Um dia azul, eu me aprontava para ver o desfile. Eu estava querendo ver a bandeira, que era de muitas cores.
Meu pai me levou para ver o desfile; chegando lá eu vi muitas coisas, mas não me interessaram muito.
Quando a bandeira passou:
Papai, me carrega para eu ver minha amiga passar.
Lá estava ela com uma cara de sorriso olhando para mim.
Eu, lá de cima, acenava para ela.
A amiga parou e ficou olhando para mim.
E eu fazia a mesma coisa.
E ela começou a andar.
Desci depressa e corri atrás dela.
Ela acenando para mim, dizia:
- "No próximo desfile voltarei!"
Voltei feliz para casa e fiz seus retratos, muito feliz!
Belo Horizonte, setembro de 1973
Quando tinha nove anos, o Grupo Escolar São Bento, onde estudava, pediu a todos os alunos que fizessem uma redação sobre o desfile do dia 7 de setembro. Fiz a que reproduzi acima, preservando os erros de pontuação e concordância. A professora gostou tanto que minha redação foi uma das escolhidas para integrar o livro anual da escola. Revirando caixas antigas, acabei de achar o livro, em edição bem tosca. Há outras redações minhas de 1973 no mesmo livro. Depois, transcreverei todas aqui.
Momento nostalgia!
terça-feira, 23 de março de 2010
B.B. KING
Em 2004, quando B.B. King esteve em Brasília, não consegui ver seu show, pois estava viajando a trabalho. Fiquei com vontade de assistir a um show deste mito do blues, mas achei que nunca mais teria oportunidade de vê-lo. Ao saber que ele retornaria ao Brasil para uma turnê que incluia Brasília, fiquei de prontidão para comprar o ingresso. Tão logo se definiu local e os ingressos foram colocados à venda, corri para comprar minha entrada. Paguei caro, R$ 300,00 (meia entrada - promoção Sempre Você do Correio Braziliense), para sentar no setor mais a frente. Fiquei em um local ótimo, sem a tietagem das primeiras filas. O show ocorreu na noite de segunda-feira, 22/03/2010, na Sala Master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, que recebeu um público enorme. As dificuldades de estacionamento no local são grandes, mas decidi não mais me estressar com isto. Cheguei faltando vinte minutos para o horário previsto para o início do show. Parei no estacionamento do Clube do Choro, próximo ao local e fui caminhando até lá. No mesmo lugar, ocorria um evento de slow food, portanto, havia muito carro. O show atrasou em meia hora. Às 21:30 horas, anunciam a chegada da banda que acompanha o mito. O começo foi arrasador, com os oito integrantes da banda atacando um set instrumental longo, onde todos puderam solar e mostrar sua performance para a plateia, que correspondia com aplausos. Depois de aproximadamente vinte minutos, B.B.King chega em uma cadeira de rodas, escoltado por dois ajudantes que o levam até a cadeira onde ele faria seu show. Muito simpático e falante, ele é recebido de pé. Faz uma longa introdução apresentando cada membro de sua banda. Ataca, então, os primeiros acordes em sua inseparável guitarra Lucille. Depois, novo discurso, para enfim, cantar a primeira música. A voz é inconfundível e encheu todo o enorme auditório. Como o microfone não estava em local apropriado e devido a falta de mobilidade do cantor, em alguns momentos a sua voz não era ouvida, pois ele cantada longe do microfone. Mais uma música e nova falação. Foi assim até o fim: muito discurso, especialmente sobre o quanto gostava do Brasil, das mulheres em geral, de suas andanças pelo mundo. Música que é bom, quase nada. Fez brincadeiras com as mulheres pedindo que ao contar até quatro, quando disse os números em português, elas beijassem quem estivesse ao seu lado. Depois cantou uma estrofe para os homens presentes. Quando o relógio já demonstrava uma hora e meia que os músicos estavam no palco, o show terminou muito semelhante ao que acontece com os shows de Roberto Carlos, sem oportunidades para um bis. O set instrumental ao final foi longo, enquanto B.B. King, ainda sentado, jogava dezenas de paletas de guitarra para o público e distribua um objeto que, ao longe, me parecia um chaveiro. A cena me lembrou aquelas praças cheias de pombos onde turistas jogam milho para eles se alimentarem. Patético. Ao sair, costumo observar as reações das pessoas. Algumas estavam em êxtase por terem visto o mito do blues de perto, enquanto outras estavam chateadas por ele ter cantado pouquíssimas músicas. Não cheguei a ficar chateado, pois queria conferir uma performance de B.B. King ao vivo e, mesmo tendo executado número pequeno de canções, foi legal ter ido ao show, mas confesso que nunca paguei tão caro para ouvir discurso. Como disse um senhor na saída do espetáculo, foi muita embromação.
segunda-feira, 22 de março de 2010
FRANZ FERDINAND
Domingo. Brasília. Noite agradável. Vou para o Marina Hall (SHTN Trecho 02, Conjunto05), pois comprei (R$ 140,00, inteira) ingresso para ver o show Brazilian Tour 2010 - Franz Ferdinand. Dificuldades, como sempre, de estacionar o carro. Cheguei às 19:40 horas, portanto, bem antes da hora marcada para o show começar: 21 horas. Seguindo alguns carros, deixei o meu na terra, em um descampado próximo ao local do show. Muita gente do lado de fora. Predominância esmagadora de jovens. Entrei sem nenhum tumulto, exatamente nos primeiros acordes da banda brasiliense The Pro, eleita em uma enquete no sítio eletrônico da banda escocesa para abrir o seu show na cidade. Os integrantes da banda nativa estavam visivelmente felizes de estar naquele palco e não decepcionaram. Música autoral, em bom português. Um rock dançante, contagiante, forte, aquecendo a galera, que dançava e batia palmas ao longo da meia hora do show de abertura. Foi um ótimo aquecimento para o que ainda viria. O espaço é muito grande e sempre reclamam da acústica. Fiquei bem na frente, conseguindo ouvir tudo o que a The Pro cantava. Pausa para arrumar o palco. Sentei-me no chão para não cansar as pernas. Perto das 21 horas, me posicionei perto do palco, de onde pude ouvir bem o show do Franz Ferdinand. Com atraso de apenas quinze minutos, os quatro garotos da banda escocesa entraram em cena. O vocalista soltou um "boa noite Brasília" em português e atacou com um dos seus sucessos. Foi uma explosão de alegria. O público pulava e gritava, acompanhando a música. E foi assim até o fim. Um show delirante, cheio de energia. O local foi ficando quente demais. As pessoas suavam em bicas. Minhas roupas ficaram molhadas. O vocalista chegou a reclamar do calor, mas com bom humor. De vez em quando, ele soltava frases em português, como "está tudo bem?" e "mais alto". Com uma hora de show, alguns instrumentos de percussão entraram em cena e, em uma sinergia banda-público incrível, eles tocam um longo set com os quatro nestes instrumentos. Era o final do show. Eles sairam do palco. Os gritos foram insistentes. Eles retornaram e cantaram mais sucessos. Ao todo, o show durou uma hora e quarenta e cinco minutos. Foi dançante o tempo inteiro. No palco, eles tem mais vigor do que no disco (já acho ótimo os três discos que lançaram). As guitarras são mais presentes. A galera de Brasília que presenciou o show saiu em êxtase. A saída do Marina Hall não foi tumultuada, mas para sair com o carro, demorei quase meia hora, pois a única via de saída ficou parada. Foi uma noite memorável. Como dizem os franceses: Vive la jeunesse!
domingo, 21 de março de 2010
IN ON IT
Para fechar o sábado cultural em São Paulo, nada como uma bela peça de teatro. Escolhi a elogiada In On It, do canadense Daniel Macivor. Com direção segura de Enrique Diaz, Fernando Eiras e Emílio de Mello são duas virtuoses no palco do Teatro da FAAP (Rua Alagoas, 903, Higienópolis). Muito a vontade, os dois atores fazem uma parte do aquecimento em pleno palco, enquanto as luzes ainda estão acesas e o público se acomoda em seus lugares. Paguei R$ 50,00 para ver a peça, com teatro bem cheio. Eles fazem várias personagens, sempre com a mesma roupa. Um surrado casaco, ao ser vestido por um dos dois atores, dá o tom de que há troca de cena. Um casal de amantes conta sua história, entremeada com a peça que um deles acaba de escrever e que ambos encenam. Original, em alguns momentos parece um bate papo com a plateia, que chega a dar nome para um personagem que aparece em vários momentos da história, mas ainda não havia sido batizado pelo autor. Surpresas no final, quando o público bate palmas entendendo que a peça chegara ao fim. Eles voltam a encenar. Os papeis femininos são um caso a parte, pois apenas detalhes de postura e de voz identificam que são mulheres. Realmente a peça merece os elogios que vem colhendo desde sua estreia no Rio de Janeiro.
ILHA DO MEDO
Depois do ótimo almoço, subo a pé até a Avenida Paulista, vejo as horas, 15:30. Já que estou em frente ao Center 3 (Avenida Paulista, 2.064, Bela Vista), era hora de um cinema. Cine Bristol, sala 6. em cartaz o novo trabalho de Martin Scorsese, com Leonardo DiCaprio e Mark Ruffalo. Ilha do Medo (Shutter Island), produção americana de 2010. Dois policiais são enviados a uma ilha onde há uma clínica psiquiátrica, na verdade um hospital prisão onde estão encarcerados criminosos com distúrbios mentais. Os dois policiais tem como tarefa desvendar o misterioso desaparecimento de uma paciente. O filme tem referências diretas ao mestre do suspense, Alfred Hitchcock, bem como aos filmes de Bergman, dois diretores declaradamente referências para Scorsese. Ele trabalha, inclusive com Max Von Sidow, identificado como um ator bergmaniano. Bem construído, o filme é cheio de reviravoltas, deixando-nos sempre com uma pulga atrás da orelha sobre os fatos que se sucedem. Assim como Teddy (DiCaprio) tem seus sonhos e paranoias, vamos nos envolvendo tanto na trama, tirando conclusões que logo em seguida são desfeitas. Scorsese mostra mais uma vez que é um mestre e está cada vez melhor. DiCaprio constrói um personagem tão intenso, também mostrando porque é o novo queridinho do diretor. Final aberto e muitas dúvidas na plateia. Excelente filme.
D'OLIVINO
Há muito nada posto sobre os restaurantes que frequento. Porém, neste sábado, conheci um gostoso restaurante em São Paulo, quando decidi almoçar na região dos Jardins. Descendo a rua Haddock Lobo, um banner me chamou a atenção. Nele, a informação de que o restaurante foi eleito pelo público do Guia da Folha de São Paulo como o melhor novo restaurante de 2009. Resolvi entrar. Sorte a minha que havia apenas uma mesa disponível. D'Olivino (Rua Haddock Lobo, 1.159, Jardins) é um restaurante com seis meses de atividade onde somos atendidos pelos proprietários, pai e três filhos. No local, há dois pisos, sendo o segundo andar reservado para grupos. É também um empório que vende azeites. Logo se formou uma fila de espera e enquanto não vagavam mesas, as pessoas degustavam alguns azeites. Como ainda estou com restrições alimentares, preferi não experimentar os pães, indo direto para o menu. Escolhi uma salada Creta de entrada. Consiste de alfaces, lascas de azeitonas pretas, cebola roxa (que pedi para retirar e fui prontamente atendido), cubinhos de queijo feta regados com pouco azeite e um molho de iogurte com pepino. A salada chegou à mesa com quinze minutos. Muito bem servida, estava deliciosa. Em seguida, esperei mais quinze minutos e o peixe que pedi chegou à mesa. O peixe, uma pescada, vem em um envelope de plástico no qual é assado com abobrinha cortada em cubos, tomate cereja, alcaparras, limão siciliano e azeite. Acompanha este prato, rodelas de berinjelas grelhadas e folhas verdes. O garçon, ao servir o prato, abre o envelope, quando um bom perfume do limão siciliano chega às narinas. Ele me aconselha a também comer o limão. Ponto para o garçon, pois o limão assado é tudo de bom. O prato tem sabor, é leve e surpreendente. Durante minha estada no local, os proprietários foram mais de uma vez até mim, perguntando se estava bem servido. Não é um restaurante barato, mas também caro não é. Minha conta ficou em R$ 67,10. Fiquei uma hora no D'Olivino, onde tive uma ótima impressão. Espero voltar outras vezes.
sábado, 20 de março de 2010
WIFREDO LAM - GRAVURAS
Já que estava na Estação Pinacoteca (Largo General Osório, 66, Luz) para ver a exposição de Andy Warhol, aproveitei a oportunidade e conferi outra bela exposição, bem menos concorrida, montada no terceiro piso do museu. Trata-se de uma exposição de mais de 100 gravuras do artista cubano Wifredo Lam. A primeira vista, tem-se a impressão que as gravuras e desenhos expostos são todos iguais. Mas um olhar com mais atenção, percebemos que os traços são os mesmos, mas a leitura de cada obra tem um siginifcado diferente. O traço acabou por imortalizar Lam como um grande gravurista. Na exposição, séries completas que ele fez para ilustar obras de grandes escritores, como André Breton e Gabriel García Marquez. Nunca tinha visto nada deste artista, apenas fotos em revistas especializadas. Foi uma surpresa para mim. Gostei bastante.
ANDY WARHOL - MR. AMERICA
Apesar da insistente cólica na bexiga, decidi dedicar o sábado à cultura em São Paulo. Comecei pegando o metrô na estação Anhangabaú, próxima ao hotel onde estou hospedado, fazendo uma baldeação na estação Sé e descendo na estação Luz. O movimento em frente à Pinacoteca e ao Museu da Língua Portuguesa era intenso, com muitos ônibus de turismo estacionados. Mas meu destino não era nenhum destes dois ótimos museus paulistas. Caminhei em direção à Estação Pinacoteca (Largo General Osório, 66, Luz) onde estava estreando a maior exposição de Andy Warhol já montada no Brasil. Entrada gratuita aos sábados. Cheguei meio dia em ponto. Ainda havia pouca fila. Estava de boné. Pediram-me para deixar a aba para trás, pois assim não corria o risco de esbarrar nas obras expostas. Preferi tirar o boné. A exposição ocupa todo o quarto piso e uma parte do terceiro. Nela, os famosos retratos de Marilyn Monroe, parte da série das sopas Campbell's, o retatro de Mao Tsé Tung, o retrato de Nixon (com cores que o pintam como o diabo), Jackie Kennedy, uma interessante instalação com travesseiros de material de balão prateados, cheios de hélio, que ficam voando sem parar no teto, vários filmes, os famosos retratos de personalidades feitas com uma máquina Polaroid, serigrafias, pinturas, autoretratos e retratos do artista. Foi uma excelente oportunidade de rever algumas obras e apreciar outras pela primeira vez. Há textos explicativos em cada obra, situando-nos e contextualizando o momento vivido por Warhol. Ele nunca escondeu que queria fama e dinheiro. Conseguiu ambos. É a expressão máxima da pop art e influenciou muitos artistas no final do século passado. Gastei cinquenta minutos para conferir todas as obras com calma, com exceção dos filmes, já que tenho a maioria em dvd. Quando saí, a fila para entrar já era enorme, mas antes conferi uma outra exposição no terceiro piso da Estação Pinacoteca.
sexta-feira, 19 de março de 2010
O INFERNO SOU EU
Sexta-feira bem puxada em São Paulo. Final da reunião para especificação das modificações em sistema de uso no trabalho. Muitas ligações de Brasília para decisões à distância. Cólica na bexiga, sinal que o cálculo renal desceu e está pronto para ser expelido. Buscopan de seis em seis horas. Almoço rápido, compras na Livraria Cultura e nova reunião, desta vez na regional de São Paulo, com os chefes locais. Consigo retornar ao hotel no início da noite, com fome e cansado. Confiro as atrações teatrais da cidade. Decido ficar no próprio hotel, onde está localizado o Teatro Jaraguá. A bilheteria é no piso térreo. Compro uma entrada (R$ 50,00 - inteira) para ver O Inferno Sou Eu. Texto de Juliana Rosenthal K. e direção de José Rubens Siqueira. No elenco Marisa Orth e Paula Weinfeld. A história se passa no quarto de um apartamento em Recife, quando Simone de Beauvoir (Marisa Orth) está se recuperando de um tifo que contraiu em sua visita ao Brasil. Para acompanhá-la, a dona da casa e amante de Sartre, contrata uma estudante de letras, Dorinha (Paula Weinfeld). Beauvoir totalmente entediada, com vontade de retornar à França, quer distância de Dorinha no início, mas, aos poucos, ela trava um diálogo com ela, deixando-se afeiçoar. Nestes dias, falam sobre amores, sexo, livros, paixão, vida, condição feminina, entre outros temas. Quem espera ver uma Marisa Orth comediante, pode se decepcionar, pois ela faz uma Simone amarga, bruta, sem senso de humor, em contraste com a jovialidade e a alegria da estudante de Letras. Achei diferente ver Marisa em um papel dramático. Gostei de sua interpretação, porém não gostei muito do texto. Acho que ficou faltando mais filosofia nos diálogos, afinal, mesmo mostrando a faceta mulher, Simone Beauvoir era uma feminista, uma intelectual. Não conhecia a atriz Paula Weinfeld e também gostei de sua interpretação. A peça é bem curta e, embora baseada na vinda da escritora francesa ao Brasil, o encontro entre Simone de Beauvoir e Dorinha é fictício e isto é deixado bem claro antes do início do espetáculo, quando é anunciado os apoiadores da peça.
HAIRSPRAY
Em São Paulo a trabalho. Aproveito a noite de quinta, depois de um longo dia de reunião de especificação de sistema de informática, resolvo conhecer o Shopping Bourbon (Rua Turiassú, 2.100 - Pompéia) e de quebra, tentar ingresso para o musical Hairspray, em cartaz no Teatro Bradesco, situado no terceiro piso do shopping. Chego um pouco antes das 20 horas. Fila pequena na bilheteria. Havia apenas um ingresso na plateia. Era o meu! Desconto de 25% para pagamento com cartão de crédito com a bandeira Visa. Assim, meu ingresso ficou em R$ 82,50. O musical tem duração de 2 horas e 45 minutos, contando um intervalo de quinze minutos. Baseado no filme de John Waters, a peça estreou com sucesso na Broadway e agora recebe uma versão brasileira feita por Miguel Falabella, que também é o diretor. No elenco, Edson Celulari, fazendo um papel feminino com muita espuma para simular que é gorda, Arlete Salles, Danielle Winits, Simone Gutierrez (a protagonista Tracy) e vários outros atores-cantores-bailarinos. Comédia deliciosa, com grandes números de música e dança. Simone Gutierrez é muito carismática e arrasa como a gordinha que faz de tudo para conseguir ser integrante de um famoso programa de televisão na cidade de Baltimore, nos Estados Unidos, no ano de 1962. Celulari está muito bem no papel da mãezona. Ele canta e dança também, mas a maior parte do tempo, interpreta a mãe, com diálogos bem interessantes. Foi uma noite deliciosa, com o teatro lotado.
quarta-feira, 17 de março de 2010
A-HA
Noite de terça-feira. Vinte e duas horas. Estava no Ginásio Nilson Nelson (Centro Esportivo Cláudio Coutinho) para assistir ao show da turnê de despedida do grupo norueguês A-Ha. Comprei o ingresso com bastante antecedência. O show seria na Ala Sul do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, mas devido à procura de ingressos, os produtores mudaram o local para o ginásio, bem maior. Ingresso na mão para a pista premium, mais próximo do palco. Paguei R$ 120,00 por meia entrada, já que imprimi o cupom do Sempre Você do Correio Braziliense. O show começou no horário, uma raridade para shows em Brasília. Muita gente chegou atrasada, pois esta é a tônica na Capital Federal. O show já rolava havia quarenta minutos e ainda entrava gente. O vocalista da banda tinha dificuldades de cantar, pois, conforme explicou, estava com dor de garganta. O show foi morno, com plateia sem entusiasmo, sem muita empolgação. A maioria do set list era de músicas do mais recente trabalho do grupo, pouco conhecido entre os presentes. Já perto de terminar, o sucesso Cry Wolf e a saída. Alguns apupos e eles voltam ao palco, cantam três mega sucessos da banda, como a melenta Hunting High and Low, acompanhados por um público que começava a esquentar, mas já era o fim. Saem de cena, dizendo em português que amam Brasília. O público pede o maior sucesso Take On Me. Eles voltam para atender. Lembrei-me dos meus tempos de Santa Tereza Cine Show em Belo Horizonte. Como dancei esta música na minha juventude... Fim de música, no painel uma mensagem em português: Brasil Para Sempre. Obrigado Brasília. Acabou, não haverá mais A-Ha em Brasília. A saída foi muito tranquila, sem empurra empurra. Como disse, um show bem morno, sem muita graça.
terça-feira, 16 de março de 2010
segunda-feira, 15 de março de 2010
PERNAS PRO AR
Uma dona de casa, na faixa dos quarenta anos, acorda e descobre que suas pernas não mais a obedecem. Adquirem vida própria. Este é o mote do musical Pernas Pro Ar, com argumento de Luís Fernando Veríssimo, texto de Marcelo Saback, direção de Cacá Carvalho e coreografia de Alonso Barros. A estrela do espetáculo é Cláudia Raia, que interpreta, canta e dança. Começa morno, com as três primeiras músicas sem empolgação. Mas a partir do quarto número, o musical só cresce. Achei divertido, hilário até. A cena em que Helô, a personagem de Cláudia Raia, vai até um terreiro se consultar com o pai de santo e seu assistente, é muito divertida. Mas o melhor é o encontro de Helô, dentro de uma igreja, com três santas: Fátima, Aparecida e Guadalupe. Impagável a cena. O musical é grandioso, com muito uso de tecnologia em cena. Algumas músicas são versões para o português de sucessos internacionais, como Fever, eternizada na voz de Madonna e, bem depois da gravação da diva da música pop, na voz de Michael Bublé. Outro sucesso internacional vertido para o português é You Can Leave Your Hat On, de Joe Cocker, que ficou conhecida como a música do streap tease de Kim Bassinger no filme 9 1/2 Semanas de Amor. Conferi este musical na noite de domingo, pagando R$ 60,00 a meia entrada (utilizando o cartão sempre você do Correio Braziliense), na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional Cláudio Santoro.
Uma cena engraçadíssima aconteceu pouco antes do início do espetáculo, quando o teatro já estava praticamente lotado e já tendo dado o segundo sinal para que as luzes fossem apagadas. Simplesmente na mesma fila em que eu estava, mas no setor 1 do teatro, uma mulher soltou um grito e foi como um dominó, pois todas as mulheres gritavam e se levantavam, algumas pularam as cadeiras para a fila da frente. O teatro se levantou e ficou vendo a luta de dois homens para matar uma barata. As luzes se apagaram sem que as pessoas tivessem voltado para os devidos lugares. A gritaria foi grande. Voltaram a ascender as luzes. Não conseguiram pegar a barata, que deve ter se escondido em alguma fresta das cadeiras. Foi divertido. Parecia que a barata queria entrar no clima do musical, deixando a plateia de pernas pro ar...
domingo, 14 de março de 2010
O CAPOTE
Tenho hábito de ler jornais velhos. Assino dois jornais e nem sempre consigo fazer a leitura diariamente. Neste domingo, depois de fazer o inusitado: caminhei uma hora no Eixão Norte, fiz compras de verduras e frutas e, para surpresa geral, fiz o almoço todo. Depois de almoçar uma salada de rúcula, manga, cenoura cozida e atum, acompanhados de quinoa negra refogada com shimeji, tomates frescos e novamente rúcula, fui ler os jornais acumulados desde a última segunda-feira. E foi lendo estes periódicos que fiquei sabendo que o grupo britânico Gecko, famoso por suas interpretações viscerais no lado físico, estava em curta temporada na Sala Martins Penna do Teatro Nacional Cláudio Santoro. O melhor de tudo, gratuito. Para conseguir o ingresso, bastava chegar meia hora antes do início do espetáculo. Duas sessões finalizavam a temporada brasiliense, umas às 15 e outra às 17 horas. Escolhi a primeira. Cheguei com a antecedência necessária, peguei o ingresso com o programa da peça e entrei na pequena fila que já se formava na porta do teatro. A maioria eram jovens que apreciam o teatro e uma boa literatura, já que a peça é inspirada na obra de Nikolai Gogol, O Capote. Dirigida por Amit Lahav, o elenco conta com um ator brasileiro, Rodrigo Matheus, carioca radicado em Londres, especialmente convidado para a turnê em nosso país, que faz o protagonista Akakki. Completam o elenco os atores Natalie Ayton, François Testory, Sirena Khalatian, Robert Luckay, Dai Tabuchi, Dave Price e Vinicius Salles. O idioma falado? Vários. Cada ator fala em uma língua. Temos português, inglês, francês, russo, japonês, espanhol. É uma babel, sem tradução, mas a estória é facilmente assimilada. Akakki, funcionário burocrático, se apaixona por uma colega de trabalho e tenta conquistá-la, mas para isto, tem que ser promovido e conseguir trocar de casaco, e comprar um novo, o capote do título. A peça tem momentos oníricos, quando o protagonista sonha com sua amada, sonha com seu casado, onde elementos circenses são colocados em cena. O que chama a atenção é a performance física de cada ator. Movimentos milimétricos, simulações de multidão, de câmera lenta. A música também é destaque, com alguns instrumentos executados ao vivo pelos atores. Confesso que achei monótono, gritado e repetitivo, mas valeu conhecer o vigor físico que é imposto aos atores.
AINDA AS PONTES DE MADISON
Alguns amigos leram o post anterior e me perguntaram se eu concordava com a frase que ouvi antes do início do espetáculo, ou seja, que a peça As Pontes de Madison agrada mais às mulheres do que aos homens. Minha conclusão é que ela está correta. A felicidade fica estampada no rosto das mulheres na saída do teatro, enquanto vários homens, em minoria na plateia, não tem um sorriso estampado no rosto. Creio que a identificação com a mulher que vivia uma vida pacata no interior dos Estados Unidos, com um casamento sem graça, lá nos idos de 1965, quando encontra um homem agradável, sedutor, bom papo, é evidente entre as mulheres. A história é romântica, o que agrada ao público feminino, é tem um amor avassalador de quatro dias que muda a vida de Francesca para sempre. Os homens devem se identificar com Rick, o marido, que não aparece em cena. Todos se sentem um pouco traídos, a dor de corno é grande. Quem sabe Rick não está em cada homem casado da plateia? Assim, eles se sentem ameaçados. Esta foi minha impressão.
sábado, 13 de março de 2010
AS PONTES DE MADISON
Chega o sábado e vou conferir mais uma peça de teatro. Sessão extra, 19 horas, lotação esgotada. Há fila de espera para tentar comprar ingresso. Comprei o meu com antecedência de sete dias. A peça é As Pontes de Madison, baseada no romance de Robert James Waller, já vertida para o cinema, quando teve a direção de Clint Eastwood. A versão brasileira tem tradução e adaptação de Alexandre Tenório e direção de Regina Galdino. No elenco Denise Del Vecchio (Francesca), Marcos Caruso (Robert), Luciene Adami (Caroline) e Paulo Coronato (Maylon). Quis ver esta peça por duas vezes quando estive em São Paulo, mas não consegui entradas, quando os ingressos custavam entre R$ 60,00 e R$ 80,00 a inteira. Em Brasília, consegui o ingresso pagando R$ 7,50 a meia por ser correntista do Banco do Brasil, uma vez que o espetáculo está em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil. Quando cheguei, um pouco adiantado, passei na livraria do local e ouvi uma jovem dizer para uma senhora que a peça era linda, mas que agradava mais às mulheres do que aos homens. Fiquei com o diálogo na cabeça. Ao entrar reparei que a maioria era mulher na plateia.
Os filhos de Francesca - Caroline e Maylon - mexem nos documentos e objetos que sua mãe, já morta, deixara em um cofre no banco. Descobrem um passado e um amor que ela viveu do qual não sabiam. Francesca deixou um caderno com seus relatos dos quatro dias intensos que ela viveu ao conhecer um fotógrafo da revista National Geograph na pequena cidade de Madison, onde ele esteve para fotografar as pontes cobertas do local. A história é contagiante e cresce na medida em que o tempo passa. Marcos Caruso está muito espontâneo na pele do fotógrafo, chegando a interagir com uma pequena mariposa que insistia em sobrevoar a mesa onde encenava com Del Vecchio. Esta mostra que é atriz de teatro, com interpretação segura, contida quando tem de ser e pura paixão quando a cena assim o exige. Diria que é uma comédia romântica, pois há tiradas sensacionais nos diálogos travados pelos dois. Mas também é drama, especialmente perto do fim. Há muita gente que chora no final da peça. O amor de quatro dias é avassalador, vital, para sempre. Gostei muito.
sexta-feira, 12 de março de 2010
MUITO TRABALHO
Semana difícil esta que acaba aqui, pelo menos em dias úteis. O trabalho foi de enlouquecer. Preciso de 24 horas de sono. Tylenol PM já!
quinta-feira, 11 de março de 2010
quarta-feira, 10 de março de 2010
CALÇADÃO
Manhã de quarta-feira lindíssima no Rio de Janeiro. Céu azul, totalmente límpido, com excelente visibilidade. Mar quebrando nas pedras do Arpoador. Os morros do Rio em suas colorações de verde e marrom. Gaivotas no céu. Sol brilhante. Um convite a uma caminhada no calçadão. Como meus compromissos de trabalho já estavam terminados e com voo marcado para o início da tarde, optei por deixar o ar condicionado do quarto do hotel para fazer uma caminhada. Tinha duas opções. Ir para o lado de Copacabana ou ir para o lado de Ipanema. Escolhi o segundo trajeto. Saindo do hotel, na Rua Francisco Otaviano para a esquerda logo à frente fica a entrada para o Parque Garota de Ipanema. Basta atravessá-lo para se chegar ao calçadão do Arpoador. Foi acionar o cronômetro do relógio e em passos largos ir em direção ao Leblon. Caminhei toda a extensão da Praia de Ipanema, passando pelos postos 8, 9 e 10. Andei até o posto 11, já no Leblon, quando o cronômetro apontava meia hora de caminhada. Fiz meia volta e caminhei em direção ao hotel. Como estou há muito parado, senti um pouco de cansaço no final do percurso. Aproveitei a manhã saudável e parei numa loja da Yogoberry, que há aos montes no Rio de Janeiro, para experimentar o novo sabor, mirtilo. Pedi um pote pequeno, sem nenhuma cobertura. Uma delícia e bom para quem está de dieta. No hotel, foi só banho e arrumar as malas. Hora de partir de volta para Brasília. No caminho do aeroporto, um trânsito muito lento, mas com a bela vista de Copacabana e do Aterro do Flamengo. O Rio de Janeiro continua lindo!
terça-feira, 9 de março de 2010
MAIS UMA VEZ NO RIO DE JANEIRO
Estou novamente no Rio de Janeiro, desta feita a trabalho. Como sempre, muito quente, mas suportável. Cheguei na noite de segunda-feira em voo da Ocean Air. Foi a primeira vez que voei nesta companhia. Gostei muito do avião, com bancos de couro, atendimento eficiente, espaço adequado entre as fileiras. O avião é um Foker 100, porém com nome alterado. O voo saiu na hora exata e as malas não demoraram a sair na esteira de bagagens. Uma colega de trabalho me esperava no aeroporto e me levou até o hotel em que estou hospedado, no Arpoador. A terça-feira foi toda dedicada a reuniões no Centro da cidade, com bela vista para a Baía da Guanabara, incluindo a Ponte Rio-Niterói e o Palácio da Ilha Fiscal. Dia lindo. Almocei no próprio Centro em um restaurante self service a quilo chamado Espaço Debret (Rua Debret, 23, Centro), onde há de tudo: comida árabe, comida japonesa, saladas, peixes, carnes, frango, ensopados, frituras, salgadinhos, enfim, uma orgia gastronômica. É muito cheio e a rotatividade é grande de pessoas nas mesas. Como sigo com restrições alimentares, fiquei na salada e no peixe grelhado. A parte da tarde foi dedicada a mais reuniões de trabalho e à noite jantei com a mesma colega de trabalho que me buscara no aeroporto, em um restaurante próximo ao meu hotel, com bela vista para a Praia do Arpoador e suas famosas pedras.O restaurante é o Azul Marinho (Avenida Francisco Bhering, s/nº, Arpoador) com extensa carta com variadas opções de peixes e frutos do mar. O atendimento é muito bom. Escolhi um filé de badejo grelhado acompanhado por quibebe de baroa e couve rasgada. A couve estava muito boa, assim como o peixe. Noite agradável, com excelente papo com minha colega. Gostei muito do restaurante, que por ficar em um trecho sem movimento de carro, nunca tinha percebido sua existência.
FINAL DE SEMANA CULTURAL
Como disse meu amigo Pek, minha vida cultural continua a mil. O ano cultural de Brasília começou mesmo agora em março, pois nos dois primeiros meses do ano, estava um pouco morno, sem grandes opções. Já neste primeiro final de semana de março, vi de tudo: peça de teatro, exposição de artes plásticas, filme no cinema, show musical, balé. Além disto, ainda li um livro. Entre os intervalos, muita música no ipod e cd player, especialmente Franz Ferdinand, de quem vou conferir o show ainda em março em Brasília.
4 X 4
Domingo à noite. Fechei o final de semana cultural com chave de ouro. Fui ver, pela segunda vez, a montagem 4 X 4, da Cia de Dança Deborah Colker. Paguei R$ 50,00 a meia entrada, pois levei o cupom Sempre Você, disponível para os assinantes do Correio Braziliense. A sala Villa-Lobos do Teatro Nacional Cláudio Santoro estava bem cheia. Para mim, é a melhor montagem desta companhia carioca. Já tinha visto em 2003 e lembro-me bem que gostei mais do segundo ato. O espetáculo mistura dança com artes plásticas. A peça tem dois atos. No primeiro, três movimentos. O primeiro deles é Cantos, com obra de Cildo Meirelles. O segundo, Mesa, do coletivo Chelpa Ferro. O terceiro, Povinho, do artista Victor Arruda. Já o segundo ato, cheio de vasos, é todo de Gringo Cardia, parceiro de longa data de Colker. Quando vi pela primeira vez, a dança entre os vasos me fisgou. Os bailarinos tem que ter leveza e precisão ao mesmo tempo, dançando entre uma série de vasos dispostos em um quadrado. Coincidentemente, nas duas vezes em que vi esta montagem, apenas quatro vasos foram derrubados. Com um olhar mais apurado, desta vez o número que me fisgou foi o primeiro, quando cantos enormes são dispostos no palco e a coreografia se dá nestes cantos. Foi de longe, o que mais gostei. O número com a mesa andante do Chelpa Ferro acho chato, monótono até. O linóleo e o painel de fundo do terceiro número é um festival de cores de Victor Arruda e a dança é bem descompromissada, lembrando um jardim de infância. Valeu a pena ter visto novamente. Realmente foi um final de semana recheado de cultura.
domingo, 7 de março de 2010
O DIREITO DE AMAR
Seguindo recomendação de amigos que ligaram de Porto Alegre, onde estão em viagem de férias, para assitir o filme, fui conferir O Direito de Amar (A Single Man), dirigido por Tom Ford. Produção americana de 2009 que tem no elenco Colin Firth (George), cuja interpretação lhe valeu a indicação para o Oscar de melhor ator de 2010, e Julianne Moore, em uma pequena, mas brilhante atuação. Tom Ford, famoso estilista, estreia na direção cinematográfica com um tocante filme sobre um professor universitário que tem que enfrentar seus medos após a morte de seu companheiro com quem vivia há 16 anos. Ele tenta manter as aparências, mas chega um dia em que não suporta mais continuar vivendo. Num rito de despedida, ele rememora bons momentos ao lado de Jim, seu companheiro. No dia em que chega ao seu limite, alguns belos homens aparecem em situações cruciais. Tom Ford coloca figurinos impecáveis, cabelos e maquilagem perfeitas nas mulheres e escolhe jovens atores lindos, mas isto não tira a força do enredo. Colin Firth está ótimo como o professor atormentado e mereceu a indicação ao Oscar. Gostei do que vi. O que não gostei foi do local onde vi. As salas de cinema do Liberty Mall são acanhadas, velhas, com projeção ruim, mas era a única opção no Plano Piloto.
CLARICE LISPECTOR - A HORA DA ESTRELA
Aproveitei que fui ao CCBB (SCES, Trecho 2, Conjunto 22) para comprar entrada para assistir a uma peça no dia 13 de março para ver, enfim, a exposição sobre Clarice Lispector. Fiquei duas horas na Galeria 2 onde está Clarice Lispector - A Hora da Estrela. Foi um final de manhã muito interessante, conhecendo um pouco mais desta escritora de quem gosto muito. A montagem da exposição, já vista em São Paulo, no Museu da Língua Portuguesa, é um convite à leitura da obra desta magnífica escritora. Com curadoria de Júlia Peregrino e Ferreira Gullar e cenografia criada por Daniela Thomas, a visita ao espaço expositivo é um deleite para os olhos. Frases da escritora sobre a vida e a arte de escrever já enfeitam as paredes negras da primeira parte da exposição, onde também há quatro grandes fotos de Clarice. No segundo ambiente, com paredes brancas e mais frases retiradas de seus livros, há um colchão velho e partido no meio do quarto. Passa-se para o terceiro ambiente, com mais frases em paredes negras, com efeitos de luz que descortinam um pequeno ambiente com paredes de vidro no meio da sala, onde há uma espécie de mapa de todas as cidades onde Clarice esteve ao longo de sua vida. Mas é no próximo ambiente que mais me detive, quatro paredes com gaveteiros de madeira do chão ao teto, com algumas cadeiras e bancos servindo de apoio quando da leitura das gavetas mais baixas. Ao todo, cinquenta e quatro gavetas, marcadas com uma chave e respectivo número, se abrem e nos permitem entrar em contato com fotografias, livros publicados no Brasil e no exterior, documentos pessoais (carteira de trabalho, passaporte, carteira de jornalista, carteira de motorista) e o melhor de tudo, textos, rascunhos, cartas escritas por Clarice e por seus amigos, tais como Érico Veríssimo, Maria Bonomi, Carlos Drumond de Andrade (há um lindo poema escrito para ela), Rubem Braga, Fernando Sabino, entre outros. Li absolutamente o conteúdo de todas as gavetas. Foi ótimo ter contato com estes documentos históricos. Ao final, no último ambiente da exposição, um sofá, uma máquina de escrever, cinco bancos e um vídeo passando a entrevista que a escritora concedeu à TV Cultura. Segundo informações do folder da mostra, é a única imagem em movimento de Clarice. O vídeo é curto, mas demonstra toda a sinceridade e clareza da escritora. Manhã de domingo magnífica na companhia de Clarice Lispector. Para quem se interessar, a exposição ainda fica em cartaz até o dia 14 de março no CCBB de Brasília.
PELO SABOR DO GESTO
Zélia Duncan em Brasília em duas noites apresentando o show Pelo Sabor do Gesto no Teatro Oi Brasília (Royal Tulip Brasília Alvorada - SHTN Trecho 1, Conjunto 1B, Bloco C). Fui conferir o show na noite de sábado, dia 06/03/2010, pagando R$ 92,00 a inteira (R$ 80,00 + R$ 12,00 de taxa de conveniência, pois comprei no ingresso.com). Casa lotada, com cadeiras extras. É o início do projeto Encantadoras que trará ao espaço uma série de cantoras até junho. O show começou com vinte e cinco minutos de atraso. Zélia inicia com um novo arranjo, mais rock'n roll, para a gostosa Boas Razões. Coisa rara de acontecer em shows, Zélia canta todas as músicas de seu mais recente trabalho, entremeando com alguns covers, como a pouco conhecida I Love You, gravada por Roberto Carlos no início da década de setenta. O repertório do show é potente, cheio de swingue e felicidade, tema de uma interessante performance no meio do show, quando ela declama e canta uma longa dúvida sobre uma pessoa que não sabe o motivo por que está tão feliz. A plateia se divertiu muito nesta hora. Algumas fãs que se sentaram na primeira fila faziam um espetáculo próprio, levantando as mãos, rodando camisas com a foto de Zélia, colocando narizes luminosos na face e oferecendo flores à cantora quando ela está intepretando... Flores. É claro que gritos pedindo música eram ouvidos quando havia um espaço entre duas músicas. Momento delicado do show quando Zélia faz uma homenagem a uma fã portuguesa que tem problemas auditivos. Ela interpreta Todos Os Verbos magnificamente, encerrando dizendo a letra da música na linguagem gestual de LIBRAS. O bis teve três músicas, entre elas dois eternos sucessos que não podem faltar em seus shows, Catedral e Alma. Gostei muito. Shows em espaços menores são muito melhores e mais interessantes.
DEZ MIL PÁGINAS VISITADAS
O BLOG ATINGIU A MARCA DE 10.000 PÁGINAS VISITADAS DESDE PRIMEIRO DE AGOSTO.
SIGAMOS EM FRENTE!
sábado, 6 de março de 2010
O ANIVERSÁRIO DA INFANTA
Em cartaz no Teatro Dulcina de Moraes (Faculdade Dulcina de Moraes - Conic - Setor de Diversões Sul), o novo trabalho dirigido por Adriano e Fernando Guimarães. Trata-se de uma livre adaptação do conto de Oscar Wilde, O Aniversário da Infanta. Com ingresso custando R$ 20,00 a inteira, a peça tem cerca de 80 minutos. No elenco, atores de Brasília, quase todos ex-alunos dos irmãos Guimarães: André Reis, Eduardo Félix, Leandro Menezes, Lívia Bennet, Mateus Ferrari, Michelly Scanzi, Nathalia Mello, Natália Leite, Rodrigo Lélis, Tati Ramos e Valéria Rocha. Os Guimarães também são os responsáveis pela cenografia, de longe, o ponto alto da peça. Público pequeno na noite de sexta-feira, quando fui conferir o espetáculo. Cenografia e figurinos são um show à parte, muitos vezes suplantando algumas deficiências de interpretação e da narrativa. Já conhecia o texto de Wilde e nele há pouco diálogo. Para dar um ritmo na história, algumas atrizes fazem o papel de narradoras, o que cansa quem está assistindo, pois o tom da voz soa monocórdio. Interessante a colocação em cena de manipulador de bonecos. Na verdade, são duas bonecas que interpretam a infanta, embora também haja uma atriz neste papel. Destaco a encenação de Romeu e Julieta, de Shakespeare, durante a festa de aniversário da infanta. A peça é feita com bonecos, interpretados pelos atores, dando um caráter de comédia pastelão, mas lúdico e bem feito. Não gostei da interpretação do anão. Ficou uma coisa caricata, mais parecida com um macaco. Não passa a ideia de ser um homem rejeitado por todos pela sua feiúra. O diálogo entre as flores no jardim do palácio também é digno de nota, pois nos leva a refletir sobre a questão da beleza e da necessidade de sempre estarmos produzidos esteticamente perante a sociedade. Mais uma vez, os irmãos Guimarães mostram que sabem dirigir atores pouco experientes e com níveis diferentes de atuação. Como o espetáculo visual é deslumbrante, as deficiências nem sempre são notadas.
quinta-feira, 4 de março de 2010
terça-feira, 2 de março de 2010
COLDPLAY
O show do Coldplay aconteceu na Praça da Apoteose (Rua Marquês de Sapucaí, s/nº, Centro) na noite de domingo. O dia inteiro o tempo esteve nublado, chuviscando de vez em quando. Eu, Ric e os amigos de São Luís nos encontramos às 17:30 horas na Praça General Osório, em Ipanema, para pegar o metrô, conforme orientação dada pelos jornais para o deslocamento até o local do show. O bilhete unitário custa R$ 2,80. Já compramos a ida e a volta, evitando eventual fila quando do nosso retorno. São quatorze estações no trajeto até a Praça Onze, onde descemos. Fizemos este percurso em meia hora. Mesmo sem saber a direção, foi fácil chegar à Praça da Apoteose, pois bastou seguir o grande fluxo de jovens que também iam para o show. Não houve nenhum tumulto para entrar. Revista meia boca nas pessoas e conferência de ingressos. Todos de capa de chuva, pois o tempo estava bem fechado. Chegamos no início do show da banda matogrossense Vanguart. Meia hora de show apenas, mas achei muito chato. O vocalista fez um discurso defendo o rock nacional, a importância de bandas brasileiras estarem em eventos como aquele e, em seguida, num paradoxo total, cantou duas músicas em inglês. O intervalo entre este show e o próximo foi de apenas vinte minutos, conforme cronograma anunciado. Com o palco pronto e um chuvisco insistente, entrou em cena a banda irlandesa Bat For Lashes em um espetáculo que durou quarenta minutos. A voz da vocalista não é potente. O repertório da banda me lembrou Bjork, ou seja, não era apropriado para um espaço aberto com público ávido para dançar, espantando a agonia de esperar molhado a atração principal da noite. O show das irlandeses deveria ser em um local menor, com a plateia devidamente assentada. Arrumaram o palco em meia hora para a entrada do Coldplay, mas uma forte chuva caiu às 20 horas, prejudicando o início do show. Com meia hora de atraso, os acordes de Danúbio Azul soaram na Apoteose, acompanhados com palmas pelo público. Era o início do show. As luzes se ascenderam e lá estavam os quatro integrandes da banda atacando de Life in Technicolor. A partir daí, foi um festival de sucessos, especialmente do excelente disco Viva La Vida. A banda se utilizou de vários recursos durante sua apresentação. Quando tocaram Yellow, vários balões amarelos gigantes foram jogados para o público que proporcionou um belo número, aliado às luzes amarelas no palco que pareciam bolas caindo. Durante o show, ainda houve fogos de artifício em duas músicas, apresentação em palcos menores instalados no meio do público (recurso também usado por Beyoncé em sua passagem pelo Brasil), chuva de milhares de borboletas de papel durante a música Lovers in Japan. A plateia também participou cantando todas as músicas e ascendendo os celulares quando Chris Martin assim solicitou. O show termina como começou, ou seja, com a música Life in Techicolor em novo arranjo, menos poderoso do que o do disco. Gostei muito do show. Na saída, me senti em uma lata de sardinha, pois o espaço para sair era menor do que a Praça da Apoteose. Seguimos direto para a estação Praça Onze do metrô, onde enfrentamos uma enorme fila para entrar, além do já tradicional empurra-empurra. Conseguimos passar rápido pelas catracas, já que tínhamos o bilhete unitário, bastando entregá-lo para o segurança. Pegamos um carro bem cheio e fomos em pé até quase o ponto final, na Praça General Osório, em Ipanema. Com muita chuva e a capa rasgada, voltamos a pé para casa, muito cansados. Só deu para tomar um remédio para melhorar a dor nas costas, deitar e dormir.
Assinar:
Postagens (Atom)