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terça-feira, 8 de janeiro de 2013

ANTONY GOMRLEY: CORPOS PRESENTES (STILL BEING)

Em abril de 2010 estive em New York e quando estava fazendo um city tour pela cidade, observei que uma série de estátuas estavam colocadas no alto dos edifícios, dando a impressão, ao longe, de que um homem estava em pé nas alturas. Assim que cheguei ao hotel, procurei na internet do que se tratava. Era a exposição do artista inglês Antony Gomrley chamada Event Horizon. As imagens pareciam estar em posição  prontas para se jogar, como se fossem cometer um suicídio. Ao final de 2012, passando de carro pela via que dá acesso à plataforma superior da rodoviária, vi uma mesma imagem do tamanho de um homem em pé, mirando fixamente para a Esplanada dos Ministérios. Era sinal de Gomrley tinha aportado em Brasília. Passados quase três anos do meu primeiro contato com a obra do inglês, fui conferir a sua mostra que ficou em cartaz no CCBB de Brasília até o último dia 06 de janeiro, onde as galerias foram ocupadas por obras deste artista plástico. Corpos Presentes (Still Being) era o nome da exposição. No Pavilhão de Vidro estavam algumas obras feitas com diversos materiais, como concreto, aço, ferro fundido, borracha e até mesmo pão de forma, todas elas tendo o corpo humano, mais precisamente o corpo do artista, como elemento comum. A que chama mais a atenção é Flesh (Corpo), uma cruz de concreto no meio do pavilhão, com a marca dos pés do artista em sua base, como se seus pés sustentassem todo o peso da cruz (uma alusão a Cristo?). Por estar na parede, a obra feita com fatias de pão de forma não é a primeira a ser vista, mas todos que entravam paravam para se certificar que era mesmo um pão. Em forma de quadro, chama-se Mother's Pride (Orgulho de Mãe), nome dado a um pão de forma existente na Inglaterra. A imagem que aparece é a de um corpo em posição fetal, esculpida a partir de dentadas do artista nas fatias do pão de forma. A figura que vemos é formada pelo vazio deixado pela ausência do pedaço de pão. O feto brinca com o nome do pão de forma, pois ambos são o orgulho da mãe. Pena que não podia fotografar, mas digitalizei o folder do programa educativo para quem não teve a oportunidade de ver entender o que aqui escrevo (imagem que ilustra o canto direito do início desta postagem). Saindo do pavilhão de vidro, fui para a Galeria 2, onde uma escuridão me esperava. Somente podia entrar pela direita. Fui quase tateando a parede, seguindo a orientação verbal de uma monitora, que conduzia com a voz as pessoas que entravam. O impacto visual que se tem ao terminar o corredor escuro é incrível. A galeria toda é ocupada por uma única obra, chamada Breathing Room (Sala de Respiração). Uma escultura feita com tubos de alumínio e encaixes de plástico que formam paralelepípedos e cubos ocos, onde todos podiam interagir com os espaços vazios que dentro dela se formavam. Não era permitido tocar a obra, nem pisar em suas partes que ficavam no chão. A cor que se via das linhas que contornam as figuras geométricas era um azul fosforescente. Quando menos se esperava, toda a sala ficou iluminada, quando tive uma nova perspectiva da escultura, aquela altura toda branca, mas o vazio que permitia que os corpos nela ingressassem continuava presente, mas de forma menos leve. Voltamos para a escuridão e os corpos pareciam flutuar no espaço. Bela experiência. Dali, fui para a Galeria 1, onde no seu primeiro piso estavam expostos moldes e modelos em escala menor que serviram de estudo para grandes obras instaladas em ambientes abertos, muitas delas em situação permanente. Fotografias com as obras originais possibilitavam ao visitante ver o impacto e a interação destas obras com o meio ambiente. No subsolo da galeria, estava a instalação Amazonian Field (Campo Amazônico), que provocava expressões de espanto dos visitantes. Eram 24 mil figuras de barro em tamanho diminuto representando seres humanos dispostas em pé, num amontoado de gente, formando uma grande massa, algo único, que ocupava uma grande extensão da sala. Foram 60 pessoas de Porto Velho, Rondônia, que ajudaram Gomrley a modelar as figuras em argila. Fotos destes co-autores da obra estavam expostas na parede da sala. Por fim, fui para a mais nova galeria do centro cultural, localizada no jardim, aos fundos do prédio do CCBB. A galeria é aberta, não tendo paredes, apenas chão e teto sustentados por algumas pilastras. Nela, o artista instalou Critical Mass (Massa Crítica). Eram sessenta figuras em tamanho real, em ferro fundido, modeladas segundo o corpo do próprio artista. Tais figuras estavam representadas em várias posições e colocadas em todos os espaços da galeria. Algumas em pé, outras deitadas, penduradas no teto, agachadas e uma série delas amontoadas no meio do salão. Como podia fotografar, era o espaço onde os visitantes mais interagiam com as estátuas. Alguns sentavam ao lado das imagens, outros agachavam imitando a posição em que elas foram moldadas, enquanto outros apenas fotografavam. Ainda bem que não deixei passar em branco esta exposição. Gostei muito.
Tirei 42 fotos da exposição, das quais duas estão logo abaixo e o restante pode ser conferido no flickr


Critical Mass (detalhe)


Amazonian Field (detalhe)


artes plásticas

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