Getúlio, para quem não sabe, é o nome do meu cachorro. Embora na área de serviço do apartamento onde moro tenha um lugar específico para ele fazer coco e xixi, em um tapete higiênico disponível em qualquer pet shop, ele prefere não fazer nada dentro de casa, esperando a hora em que descemos para ele passear nas áreas verdes da quadra. Se deixar, ele quer descer três vezes ao dia. Ele passeia, com certeza, pelo menos duas vezes ao dia, passeio que dura, em média, vinte minutos cada um. A maioria das vezes fica com Ric a responsabilidade de descer com Getúlio, mas neste mês de janeiro tenho saído quase todos os dias com ele. Basta falar a palavra "passear" que ele se assanha todo, pulando em cima da gente. Fica numa excitação enorme até que a coleira fique totalmente colocada ao redor do seu corpo. Antes de descer, pego um saco plástico para recolher o coco do bichinho. Ele sabe que tem que descer pelo elevador de serviço, mesmo quando saímos pela porta da sala, Getúlio se dirige para a parte de trás e fica esperando a porta do elevador se abrir. Somente procura um canto para fazer xixi já fora do pilotis do prédio. E o faz diversas vezes, cheirando cada cantinho, cada tronco de árvore, poste ou arbusto, levantando a patinha, se posicionando para urinar. Muitas vezes é só uma simulação, marcando território. Andamos uns cinco minutos e ele se posiciona, geralmente perto de um arbusto, na grama, ou na terra, para fazer coco. Assim que ele termina, agacho e apanho suas fezes com o plástico, jogando-o posteriormente em alguma das lixeiras espalhadas na quadra. No último domingo, pela manhã, cumpri este ritual. Quando estava abaixado apanhando o coco de Getúlio, uma senhora com seus cinquenta e poucos anos me chamou, mostrando outras fezes para eu apanhar. E ela estava com um cachorro pequeno que tinha acabado de também fazer suas necessidades. Educadamente disse a ela que apanhava somente as fezes do meu cachorro, o Getúlio, que não era minha obrigação fazer isto com os dejetos dos cachorros alheios. Ela achou um absurdo eu recusar de fazer aquilo, dizendo que eu era homem e, portanto, devia apanhar o coco do cachorro dela. Pedi desculpas, mas argumentei que cada um deveria cuidar do seu cão e que em uma sociedade civilizada, as pessoas respeitavam os outros, contribuindo para um melhor convívio em áreas limpas, sabendo também ler e interpretar as placas espalhadas pelos jardins em frente a todos os prédios da quadra que ilustravam a necessidade de recolher as fezes dos cães. Ela começou a me xingar, dizendo que eu era estúpido e sem educação. Olhei para ela e disse que se tinha alguém mal educado naquela região era ela e que não era empregado dela para ela ficar me dando ordens. A esta altura, algumas poucas pessoas estavam paradas ouvindo o bate boca. Peguei Getúlio no colo, passei em frente à senhora com seu cão, procurei uma lixeira bem próxima a ela, onde joguei fora o saquinho plástico, devidamente fechado com um nó, dizendo em alto e bom som: se todos desta quadra fizessem isto, não haveria nenhum coco espalhado pelos caminhos de pedestres destinados ao passar das pessoas. Uma jovem me aplaudiu e a senhora ficou a lastimar. O porteiro do prédio em frente onde o fato ocorreu me chamou para me parabenizar, dizendo que eu era um dos poucos moradores da quadra que tomava aquela atitude de não deixar coco de Getúlio pelo caminho. E olha que moro em um local onde as pessoas adoram se gabar dizendo pertencerem à classe média de Brasília, com hábitos educados e finos. O que falta é apenas um pouco de humildade para poder agachar e pegar o coco do seu animal de estimação. O que falta é noção de civilidade a estas pessoas. Mas como acredito no ser humano, creio que ainda vou passear na quadra com meu cachorro e não verei nenhum coco deixado pelo caminho.
Fala sério!!!
ResponderExcluirTu és muito gente boa.
Dá próxima vez chega junto...assim meio ao pé do ouvido para que ninguém ouça (só ela, claro)... e manda ela praquelelugar.