Assim que anunciaram a segunda edição do Gastronômade em Brasília, tratei de garantir meu lugar, pois recebi indicações positivas de quem participara do primeiro deles no Jardim Botânico no primeiro semestre deste ano. A compra do ingresso foi muito simples, tudo feito pelo site do evento e o pagamento de R$ 269,00 foi efetivado via PayPal em 24 de agosto. A concepção do projeto é bem interessante. Um almoço feito por um chef renomado da cidade, utilizando produtos da região, com todos os comensais sentados em uma única mesa ao ar livre, em local aprazível. A segunda edição aconteceu em 22 de setembro, domingo, a partir de 13 horas, no Clube de Golfe de Brasília. O mesmo chef da primeira edição pilotou os fogões nesta segunda etapa de 2013, William Chen Yen. Eu e Karina fomos de carona com Hélida. Fomos os primeiros a chegar, às 12:50 horas. A mesa estava montada no gramado, perto do restaurante Le Jardin du Golf. No horário em que chegamos, o sol forte do início da tarde tomava conta de boa parte da mesa. Resolvemos marcar nossos lugares na ponta oposta, onde os galhos das árvores ofereciam uma providencial sombra. Era hora também de tirar várias fotos, aproveitando a mesa montada sem ninguém ao seu redor. Por cima de cada prato, estrategicamente colocada dentro dos guardanapos de linho branco, estava a descrição do menu do nosso almoço. A organizadora do evento chegou até nós, dizendo que a mesa só estaria liberada após o coquetel de boas vindas, que seria servido em área próxima. Fomos para o local, onde já recebemos água mineral Minalba Premium e uma taça do espumante brasileiro Villagio Grando Brut Rosé 2012, vinícola de Santa Catarina responsável por todos os vinhos daquele dia. O espumante estava em temperatura adequada, com linda cor na taça, bastante perlage, e sabor levemente tostado, bem elegante no paladar. Os comensais foram chegando devagar, enquanto três entradas do menu foram servidas, no melhor estilo finger food. Neste momento, as outras amigas chegaram ao evento: Cláudia, Vera e Lívia. Por causa de minha dieta, nem tudo pude experimentar. Das três entradas descritas a seguir, provei duas delas:
01) bruschetta de beijú com mousse de gorgonzola e pera - não experimentei, mas minhas amigas a classificaram como a menos interessante das entradas.
02) roulade de abobrinha com ricota, castanhas e pó de bacon - servidas em colheres individuais de porcelana. Na boca, revelou-se suave, quase sem tempero. A abobrinha estava levemente cozida, cortada em forma longitudinal, em ponto adequado para envolver o recheio de ricota, castanhas trituradas e o tal pó de bacon, que dava um longe toque de defumado à entrada. Boa.
03) canapé de tapenade com "esfera natural" de tomate - o melhor na opinião de todas que estavam comigo. Um tomate cereja sem pele, cozido no ponto para o seu interior virar líquido, era "colado" em uma torradinha com uma fina camada de tapenade de azeitonas pretas. A indicação da garçonete era para colocar o tomate todo na boca, pois ao morder, uma leve explosão preencheria a boca. Deixei a torrada de lado e coloquei o tomatinho na boca. Uma sensação gostosa e fria se fez sentir na língua. Muito bom.
Para jogar a torradinha fora, não havia nenhum lixo por perto. Pedi ao garçom um guardanapo de papel e não tinha. Conclusão, tive que colocar, discretamente, a torradinha ao lado do pé da mesa de apoio do local. Enquanto ficamos ali em pé, com o sol quente na nossa cabeça, espumante e água foram servidos à vontade. Foi oferecido um tour pelo campo de golfe a bordo de carrinhos elétricos, mas declinei do convite. Queria me sentar logo na mesa, o que só aconteceu perto de 14 horas, quando o sol já não mais castigava a mesa. Muitos não aguentaram esperar e se acomodaram nas mesas de pic nic que ficavam bem perto da nossa mesona. Bem próximo estava a mesa de finalização dos pratos, onde William Chen e equipe davam os retoques finais dos quatro pratos que se seguiram. Durante este processo, muitos se levantaram para tirar fotos, incluindo a minha pessoa. Vamos aos pratos e respectivos vinhos que os acompanharam:
04) carpaccio de poisson blanc - peixe branco filetado (anchova negra), vinagrete de limão siciliano, minicrouton, gotas de framboesa, endro e flor de sal - prato com bela montagem, mas que não aprovei no paladar. O peixe estava com gosto de maresia, sabor que não saiu da boca enquanto não tomei um bom gole do vinho branco Villagio Grando Chardonnay 2012. Como bebi comedidamente, não posso tecer comentários sobre a harmonização. A flor de sal era da marca brasileira Cimsal, produzida no Rio Grande do Norte. Foi o único prato servido à mesa que houve possibilidade de repetição. Eu não quis.
05) très classique - espuma de batata, ovo perfeito e trufas negras - a apresentação do prato carecia de cor, parecendo uma sopa em tom pastel. O ovo, segundo explicações do chef, foi cozido a uma temperatura entre 62 e 63ºC durante cerca de uma hora e meia. A gema não solidificou, mas ficou consistente, grossa. O perfume da trufa dominava o prato. Pouco provei da espuma de batata, mas se não fosse a gema do ovo misturada com a trufa pouco sabor teria. Gostei do ovo. Para este prato, serviram o vinho branco Villagio Grando Sauvignon Blanc 2012, que se perdeu em meio ao aroma da trufa.
06) mignon-de-sal, molho rôti, emulsão de biquinho e espaguete de pupunha - o prato era bem montado e com belo visual, com uma rodela de pimenta "bunda de velho" adornando a carne. Os tamanhos dos filés variaram muito de prato para prato. Por ser uma carne de sol, faltou nos acompanhamentos um molho mais consistente, para lhe dar maciez. Algumas pessoas reclamaram que o filé estava ressacado demais. Não foi o meu caso, mas o prato careceu de sabor. Não gostei. Já o espaguete de pupunha estava com bom cozimento, mas lhe faltou tempero. Foi servido o premiado vinho tinto Villagio Grando Innominabile Lote IV, que tinha aromas com toques de compota de frutas vermelhas e couro. Não há safra definida, pois utiliza, em sua elaboração, os melhores caldos de 2004 a 2008. Gostei do vinho.
Antes de servirem a sobremesa, foi colocado em frente a cada comensal um pratinho redondo com uma "pílula" branca que, ao entrar em contato com o chá quente perfumado, cresceu e virou uma refrescante toalhinha para as mãos.
07) fondant de chocolate Prawer com priprioca, sopa fria de cítricos, amêndoas confitadas com menta, merengue, supremo de laranja e crisp de harumaki com canela - mesmo sem poder comer doce, abri uma exceção, porque o prato era muito bonito e aparentava ser apetitoso. Realmente estava. Vários sabores em um só prato: doce, ácido, forte, cremoso (devido ao chocolate), líquido (a sopa cítrica), forte (a amêndoa), refrescante, enfim, muito saboroso. O vinho de sobremesa Villagio Grando Colheita Tardia acompanhou o fondant, mas não gostei, pois ele não tem aquele sabor adocicado dos vinhos desta natureza. Parecia mais um vinho branco seco.
Durante o almoço, representantes da Minalba e da Chocolates Prawer (Gramado, RS), além dos donos da vinícola Villagio Grando, fizeram exposições sobre os seus respectivos produtos servidos no menu. Ao final, um pacote com alguns brindes (garrafa de água mineral Minalba, pote com a flor de sal Cinsalt, caixa com castanhas confitadas com chocolate Prawer e algumas revistas).
No balanço geral, achei o evento interessante, pois me propiciou uma agradável tarde de domingo, com esmero no serviço (taças, faqueiro, porcelana, guardanapo, serviço de vinho, entre outros), mas a comida deixou a desejar. Nada me surpreendeu. Além do mais, não houve informação de quais ingredientes utilizados na preparação do menu eram de produtores locais, o que não confirmou um dos pilares do Gastronômade. Espero que a terceira edição corrija estas falhas. Fica também a torcida de variar o chef. Creio que um chef para cada evento seria mais interessante, com possibilidades de conhecer novas ideias, técnicas e práticas, redundando em outros tipos de pratos.
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