Sábado, 07 de setembro. Ingresso para os shows de Lulu Santos e de Nando Reis comprado antecipadamente por R$ 110,00, com open bar e direito a ficar em frente ao palco, montado na Prainha da ASBAC. Início previsto para 22 horas. Iria aos shows com Karina, Fabiola, Renata e Alex. Karina enviou uma mensagem para mim às 19:50 horas, propondo irmos de táxi. Respondi que preferia ir no meu carro, mas que dava carona para ela e Fabiola. Assim, combinamos de nos encontrar na quadra onde moro às 23 horas, pois nunca os shows ao ar livre em Brasília começam na hora marcada. No horário acertado, Karina chegou em seu carro trazendo de carona Fabiola. Foi só o tempo de ela estacionar, as duas entrarem no meu carro e seguimos para o local do show. No toca discos rolava Beyoncé, um esquenta para a primeira noite do Rock in Rio para a qual eu e Fabiola tínhamos ingresso. Ao entrar na L4, perto da ASBAC, vimos que seria muito difícil estacionar. Muitos carros já estavam ocupando o gramado central da avenida, assim como o estacionamento do TST, um pouco distante da entrada do local do show. Peguei o primeiro retorno, ficando na L4, direção Ponte JK. Resolvi fazer como todos, liguei a seta e virei o volante para a esquerda, com o intuito de subir no gramado central. Antes de fazê-lo, cheguei a comentar que o meio-fio era alto, mas coloquei em primeira marcha, segurei na embreagem e acelerei. A roda dianteira do lado do motorista passou o obstáculo, caindo em um pequeno buraco, prendendo o carro. Não consegui sair do lugar. O carro não ia para frente, nem para trás. A roda patinava na grama, levantando muita poeira, fato corriqueiro nesta época de seca na cidade. Desci do carro, pedindo para uma das duas amigas assumir o volante, pois tinha ideia de empurrar o carro. Karina foi para o volante, enquanto eu e Fabiola tentamos empurrar. Primeiro para frente, depois para trás. Em vão. Um casal que acabara de estacionar veio oferecer ajuda. Os quatro empurramos para frente. Mais uma vez em vão. O casal saiu em direção ao carro da polícia que estava perto para pedir que eles colocassem um cone na faixa onde meu carro estava com a traseira descoberta, pois somente o triângulo naquela escuridão não adiantaria muito. No entanto, a polícia saiu do local antes. O casal, muito prestativo, cortou alguns galhos de árvore e jogou na avenida, facilitando na sinalização. Enquanto isto, continuamos tentando empurrar. Karina acelerava, a roda patinava. Fabiola chamou a atenção de que uma fumaça estava saindo por debaixo da roda, motivada pela fricção com a grama seca. Quando vi, já havia chamas. Gritei para Karina sair do carro imediatamente. Ela não entendia nada e quando saiu, começou a dar risadas, sinal de seu nervosismo, confessara depois. Nem lembrei que existia extintor de incêndio no carro, pois nunca em minha vida precisei de usar. Olhei no chão ao redor e vi um pedaço de cano de PVC. Com ele nas mãos comecei a bater no foco com força e rapidez. Também pisava forte nas chamas que foram se apagando até restar poucas brasas. Neste momento, o cara do mesmo casal que estava ajudando apareceu com o extintor do seu carro e completou o serviço. Fiquei tão absorvido na situação que nem lembrei de pegar o telefone dele para pagar a recarga ou a troca de seu extintor de incêndio. Só lembrei de agradecer mais uma vez pela ajuda. Decidi chamar a assistência 24 horas do seguro, falando para Karina e Fabiola que se elas quisessem entrar para o show, eu não me importava. Elas disseram que ficariam comigo até resolver o problema. O atendimento foi rápido, mas houve um rosário de perguntas que parecia que não tinha fim. Ao final, a atendente informou que o guincho demoraria cerca de uma hora para chegar ao local. Pedi pressa, pois o local era perigoso tanto para uma eventual colisão de quem vinha acelerado pela via, quanto para assaltos, já que estávamos em local de pouco movimento de pedestres e bem escuro. Falei para as meninas que o socorro demoraria cerca de meia hora. Quando desliguei o telefone eram 23:32 horas e os primeiros acordes do show de Lulu Santos eram ouvidos pelo lado de fora. Novamente insisti para que elas entrassem, mas preferiram ficar comigo. Um cara estacionou o carro em frente ao meu, já no gramado, desceu com uma garrafa de cerveja na mão, e com um bafo de álcool disse que nos ajudaria, perguntando se tinha um macaco no carro. Confesso que nem lembrei que o macaco poderia ser útil. Agradeci a ajuda, mas disse que já tinha chamado um guincho. Alguns carros foram estacionando na grama perto de onde estávamos, o que me preocupava, já que não sabia como o guincho iria agir e qual o espaço que seria necessário para ele. Até tentei conversar com alguns, mas desisti depois que uma mulher disse que iria quebrar o meu galho. Achei totalmente sem civilidade e sem noção de ajuda ao próximo. Outro cara chegou perto, dizendo que iria ajudar as meninas a tirar o carro dali. Ele não tinha me visto. Assim que falei que não precisava, ele deu meia volta e se foi. Era um sujeito estranho, descalço, mais parecia que queria tirar proveito da situação do que ajudar. Com 18 minutos de espera, vimos um caminhão guincho do outro lado da avenida. Com certeza era o nosso socorro. Ele demorou a fazer o retorno. Demorou exatos 22 minutos desde o final de minha ligação para o BB Seguros para prestar o socorro, portanto, dentro do prazo que eu tinha amenizado para as minhas amigas. O cara foi muito rápido. Pediu para eu entrar no carro, virar totalmente a direção para a direita. Colocou o guincho embaixo da roda dianteira do lado do carona, ligou o equipamento, pedindo para eu segurar o carro no freio. Em seguida, tirou o guincho, fazendo sinal para eu manter a direção para a direita, colocar primeira e acelerar. A roda traseira estava presa no meio-fio. As meninas pediram para eu fazer o contrário, virando a direção para a esquerda e colocar a ré. Deu certo. O carro voltou todo para a avenida. Perguntei se elas viam algo de diferente no pneu. Aparentemente nada de anormal. O cara do guincho disse para eu dar uma volta com o carro para ver se tudo estava em ordem. Foi o que fiz. No primeiro retorno, notei que o meio-fio para o gramado central era como uma rampa. Não tive dúvidas, entrei logo para estacionar, parando o carro bem próximo de onde ele tinha acabado de ser retirado. Karina buscou o triângulo e Fabiola o guardou, enquanto eu preenchia o formulário de atendimento do socorro. Assim que estávamos liberados, olhei para minha roupa. Eu estava completamente coberto de pó. Bati o máximo que pude. Atravessamos a avenida e continuamos em caminhos empoeirados até a entrada da ASBAC. Quando chegamos em frente ao palco, Lulu Santos cantava seu sucesso Sábado à Noite, aquela que começa com a frase TODO MUNDO ESPERA ALGUMA COISA DE UM SÁBADO À NOITE. O susto e a aventura que passamos não eram esperados, mas a sinergia com a canção foi perfeita. Era o início de uma ótima madrugada.
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