Como sempre acontece comigo em dias de viagem, acordei antes do despertador tocar. Uma hora antes, ou seja, eram 05:15 horas da manhã! Fiquei enrolando na cama, pois a mala já estava pronta desde a noite anterior. Às 06:50 horas, já de banho tomado e pronto para mais um deslocamento, tomei meu último café da manhã nesta estadia em Nápoles. Antes de 07:30 horas, estávamos com as malas na recepção para fazer o check out. Resolvi pagar parte da conta com cinco vouchers do A-Club da Accor, portanto, tinha 200 euros em vouchers. O check out foi demorado, pois pelas regras do cartão fidelidade da Accor, cada voucher deve ser checado pela recepção do hotel. Como os números de identificação são grandes e eles devem ser digitados um por um, quanto mais voucher se usa, mais tempo se gasta. Um agravante na hora de pagar foi que cobraram o café da manhã em dobro em dois dias, pois ele já estava incluído no preço da diária desde a minha reserva, feita pela internet, ainda no Brasil. Depois de tudo resolvido e um insistente pedido de desculpas pelo lançamento errado, liquidei a fatura. Pedi que nos chamasse um táxi. Prontamente atendidos, o táxi não demorou nem três minutos para chegar. O trânsito estava parado, devido a um acidente nas proximidades do hotel. O motorista nos avisou que daria uma pequena volta para sair do engarrafamento. Sem problemas, pois tínhamos tempo e a estação central era perto. Chegamos à Napoli-Garibaldi às 08:10 horas, quarenta minutos antes da partida de nosso trem para Milão, nossa próxima parada nesta viagem de férias. A corrida ficou em 10 euros, embora o taxímetro marcasse bem menos. Ainda não acostumei com viagens de trem, sempre penso que estou em aeroporto e devo chegar com uma hora de antecedência. Para viagens de trem, quinze minutos antes da partida é mais do que suficiente. Um senhor se aproximou querendo nos ajudar, perguntando para onde iríamos. Percebi logo que queria ganhar uns trocados para carregar nossas malas. Agradeci e o dispensei logo. Ainda não aparecia a plataforma de embarque nos paineis da estação em relação ao trem 9516 com destino a Milão. Fui até o balcão de informações da companhia de trens e um mau humorado funcionário me informou que eu devia esperar a indicação no painel, mas que geralmente o trem partia da plataforma número 18. Com tempo de sobra, Ric ficou tomando conta das malas, enquanto eu fui à bilheteria central para comprar passagens para o dia 11 de março, quando faremos o percurso Milão-Verona-Milão. Uma fila grande me aguardava. Na verdade tinha duas filas, uma para bilhetes para trens regionais e outra para trem rápido. A maior era a que eu devia enfrentar: a de trem rápido. Havia uns dez guichês, mas apenas dois estavam abertos. Logo um barraco se armou na fila, pois um africano queria ser atendido, não sabia falar italiano, tinha algo escrito em um papel e o senhor do guichê gritava que não era ele que atendia. Depois de muita gritaria, uma senhora ajudou o africano, que estava na fila errada. Logo chegou minha vez. Um outro senhor mau humorado me atendeu, achando estranho eu querer comprar um bilhete em Nápoles no percurso que saía e chegava em Milão. Ele achava isto estranho porque tinha internet e máquinas automáticas para esta compra. Disse apenas que preferia comprar ali. Ele me atendeu rapidamente, emitindo os dois bilhetes, ida e volta, conforme eu indiquei: Milão-Verona-Milão, dia 11/03/2011, ida às 08:35 horas e volta às 18:02 horas, primeira classe, assentos individuais, um de frente para o outro, na janela. Total da compra: 96 euros. Voltei para onde Ric me aguardava. A plataforma de embarque só apareceu faltando quinze minutos para a partida. Plataforma 18. Tínhamos bilhete em primeira classe, portanto nosso vagão era o de número 3, o que nos fez percorrer toda a extensão da plataforma, já que o vagão mais próximo era o de número 12. Os assentos eram os de número 51 e 52. Devidamente instalados, peguei uma revista das várias que trouxe comigo para ler. Em toda a viagem li três revistas. Três volumes a menos na bagagem. O trem partiu na hora: 08:50 horas. Faríamos três paradas antes de chegarmos a Milão: Roma, Florença e Bologna. A hora prevista para nossa chegada à segunda maior cidade italiana era 13:45 horas, Portanto, seria uma longa viagem. No trecho Nápoles-Roma, foi-nos oferecido o serviço de bordo, quando preferi um snack salgado e água mineral San Pellegrino. Nos demais trechos, fomos ignorados pelas duas moças que ofereciam as bebidas e snacks. No segundo trecho, Roma-Florença, ainda consegui arrancar um suco de laranja vermelha delas, mas depois elas passavam qual um foguete por nós. Fiz uma reclamação quando fui ao banheiro, e recebi a resposta de que o serviço de bordo era gratuito apenas uma vez em todo o trecho, mas que eu podia entrar no site da companhia e fazer uma reclamação formal. Vou ainda fazer isto, pois em nenhum lugar na passagem ou no envelope que a envolve isto está escrito. Durante a viagem, o tempo estava firme, com o sol querendo espantar o inverno europeu. Chegamos em Milão às 13:55 horas, portanto dez minutos depois do previsto. A estação Milano Centrale é grande e muito bonita. Anda-se muito para sair dela. Há conexão dela com o aeroporto, com táxi, ônibus e metrô. Preferimos pegar um táxi, em abundância do lado de fora, sem tumulto como em Roma ou em Nápoles. Pegamos um táxi enorme em direção ao hotel, no qual ficaremos três noites: Mercure Milano Centro (Piazza Oberdan, 12). A corrida ficou em 10 euros. O check in foi o mais rápido que já fiz em toda a minha vida. Em menos de cinco minutos já estávamos dentro do quarto. Foi só tirar algumas coisas da mochila, colocar no cofre e sair correndo para almoçar. Diferente de Roma ou Nápoles, em Milão encontramos restaurantes abertos até mais tarde para almoçar. Já tinha previsto almoçar em um bistrô a poucos quarteirões de distância de nosso hotel. Apenas chequei na recepção como chegar até lá, tendo um mapa da cidade nas mãos. Com o caminho desenhado no mapa, caminhamos por quinze minutos até chegarmos ao restaurante Gold (Piazza Risorgimento, ala norte). Com fachada toda dourada, fazendo jus ao nome, é um café-restaurante bem grande. Ao entrarmos, senti que fomos analisados pelas duas moças da recepção dos pés à cabeça. Eram mais de 15 horas. Uma simpática e elegante hostess me perguntou se tínhamos reserva. Perguntei qual lado ficava o bistrô, pois à direita estava vazio e à esquerda, apenas duas mesas ocupadas em um amplo espaço. Ela respondeu que o café ficava à nossa direita e o bistrô ficava à nossa esquerda. Então respondi que uma reserva seria desnecessária para aquele horário, pois havia mais de vinte mesas vazias. Ela trocou algumas palavras com sua colega, perguntou se queríamos guardar as blusas na chapelaria, o que fizemos, e nos levou até um garçom, também muito bem vestido. Duas coisas aprendi naquele momento: em Milão, terra de estilistas famosos, a maneira de vestir sempre é levada em consideração e, no inverno, a calefação é no talo, para que todos possam mostrar o modelito. Acomodaram-nos em uma mesa já preparada, pois a maioria delas estava vazia. O atendimento foi cortês, embora, em alguns momentos, fomos literalmente abandonados no salão onde o dourado e o bege predominam na decoração. Parece que houve uma troca de turnos de garçons no momento que lá estávamos, provocando uma espécie de apagão no atendimento. Pedi uma água com gás e Ric uma sem gás. Na Itália, todos os restaurantes lhe servem água em garrafas de, no mínimo, 750 ml. Assim, devido ao pedido, tínhamos à mesa 1,5 litros de água. Uma cesta de pães feitos na casa chegou à mesa logo que fizemos os pedidos dos pratos. Como primo piatto, escolhi uma salada de polvo em cama de purê de batatas, que chegou rápido. O polvo estava em cozimento adequado e bem temperado, mas o purê de batatas deixou a desejar. O secondo piatto demorou muito a chegar. Pedi um golden burger, ou seja, um hamburger grelhado. O diferencial do prato era o toque dourado, pois o hamburger veio em cima de um pão de abóbora levemente tostado, conferindo uma coloração amarelada no fundo do prato. Em cima da carne, dois pedaços de foie gras envolvidos em uma fina lâmina de ouro comestível. Luxo e sofisticação, como diria meu amigo que acaba de se mudar para Belo Horizonte. Ainda no prato, batatas fritas (deixei tudo no prato, pois estavam ruins), rodelas de tomate (muito doce) e rodelas de pepino. O prato de Ric também teve seu toque dourado, pois ele pediu um risoto aromatizado com abóbora moranga, com ragu de pato e cogumelos frescos grelhados. O tempo voava. Ficamos sem a sobremesa, mesmo porque a comida pesou no estômago. Apenas dois expressos para espantar o sono e a conta. Mas para fazer este pedido, era o momento do apagão, tive que me levantar e ir até quase à recepção, quando um outro garçom veio nos atender. Muito simpático, perguntou de onde éramos. Ao descobrir que éramos brasileiros, disse que torcia pela Internazionale, time do craque Leonardo e ainda trouxe uma cortesia da casa para acompanhar o forte café (que já vem com uma barrinha de chocolate amargo), um doce típico da Itália, preparado durante o Carnaval, chamado carnavale. Trata-se de uma massa assada, com leve toque de creme e ricota. É bem sequinha. Gostei e ainda vi várias delas nas vitrines das docerias da cidade. Não sei o motivo, mas o tratamento que nos foi dispensado na saída pela mesma moça da recepção foi totalmente diferente, com um sorriso aberto, nos falou para voltarmos, especialmente à noite, quando a casa fica lotada de gente interessante, de gente que vai para o bistrô ou para o café para ver e ser visto. Afinal, os donos do restaurante são os famosos estilistas da marca Dolce & Gabbana. Tirei a conclusão que o que menos importa ali é a comida. De qualquer forma, saímos satisfeitos. Andamos em direção à estação de metrô mais próxima: Santa Babila. Na estação, não há bilheteria, mas somente máquinas de venda automática. Escolhi um bilhete para quatro viagens (há uma variedade enorme de opções, mas não tínhamos muito tempo para pensar qual era a melhor) ao custo de 4 euros. Enfiei uma nota de dez euros na máquina e aguardei a impressão de dois bilhetes e do troco de 2 euros. Tudo certo, verificamos a direção correta e pegamos o primeiro trem que passou. Descemos na estação Conciliazone. Nosso destino era a igreja Santa Maria delle Grazie. Anexo a esta igreja está a principal razão de nossa visita ao local: a pintura "A Última Ceia", de Leonardo Da Vinci. Para entrar, é uma dificuldade, pois é exigida uma reserva antecipada, há horário marcado para entrar e sair, com entrada de vinte pessoas por vez. Quando lembrei-em disto, ainda no Brasil, me apressei para tentar uma reserva. No site do local, já não havia mais disponibilidade para as datas em que estaria em Milão. Enviei um e-mail na esperança de ter outro site que fizesse a reserva. Responderam-me rapidamente que havia um site em inglês que vendia ingressos conjugados para museus na Itália - The Italian Museuns, mas alertaram-me que era mais caro o ingresso neste site. Tentei e consegui uma única vaga, justamente para o dia 09/03/2011, às 17:15 horas. Comprei o ingresso para Il Cenacolo Vinciano, como eles chamam a obra em Milão, conjugado com a entrada para a Pinacoteca Brera, para a manhã do dia 10/03/2011. Recebi, após três dias, um e-mail com o voucher que deve ser trocado na recepção onde fica a obra-prima de Da Vinci. Chegamos com quarenta minutos de folga. Tempo suficiente para trocar o voucher pelos ingressos, para visitar o interior da igreja Santa Maria delle Grazie (o seu acesso é gratuito, independente de se ter o ingresso para ver a "A Última Ceia") e ainda ler sobre a obra, em escritos colocados no pequeno corredor que dá acesso à pintura. O interior da igreja impressiona. Ela está em reforma, não sendo possível ver seu altar. Mas pude ver suas capelas restauradas, todas com indicações da autoria de cada quadro, escultura ou lápide funerária. Em uma das capelas, um belo exemplar de Caravaggio. Ainda pudemos ver o trabalho de restauração de pinturas na primeira capela à esquerda de quem entra. Faltando dez minutos para nosso horário, voltamos para a sala de espera. No horário exato, fomos convidados a entrar. A segurança do local é gritante. Em grupos de aproximadamente sete pessoas, aguardamos em frente a uma porta de vidro, que se abre automaticamente, dando acesso a uma outra sala de espera. Quando todos do horário já estão nesta sala de espera, muito quente, por sinal, nova porta de vidro se abre. Um funcionário do local avisa de imediato sobre a proibição de filmagens e fotografias. Entramos, então, no antigo refeitório dos dominicanos, onde na parede à esquerda está a famosa pintura de Leonardo Da Vinci, executada diretamente na parede entre os anos 1494-1498. Ao longo destes mais de quinhentos anos, ela sofreu muitas avarias, incluindo um inusitado aumento da porta que dava acesso à cozinha, quando foi destruída parte da pintura onde ficavam os pés de Jesus. O local foi depósito e quartel, quando também não se importaram com a obra, fora o bombardeio que o prédio sofreu quando da Segunda Guerra Mundial. A última restauração durou vinte anos, concluída em 1999. Ao ver a pintura, fiquei emocionado. Estar ali era um desejo desde 1995, quando estive em Milão pela primeira vez (e única até então) e não consegui entrar porque já se exigia uma reserva prévia (na época, apenas por telefone). Diferente de outras obras famosas ("Mona Lisa", do próprio Leonardo Da Vinci ou "A Criação de Adão", de Michelangelo), que são pequenas (em tamanho, obviamente), frustrando muita gente que espera encontrar algo de grandes proporções, "A Última Ceia" é enorme, dominando toda a parte superior de uma parede. Mesmo com todo o esmero da restauração, percebe-se que a deterioração da pintura é algo irreversível. Há vários pontos onde não se distingue mais as cores ou mesmo a forma dos objetos. Na face de Simão, o apóstolo que está na ponta da mesa à direita, já não se nota mais seus olhos. Por este detalhes, a emoção se tornou maior ainda, pois ninguém sabe quanto tempo ainda resistirá a pintura. Todos os olhos ficam paralisados e concentrados na parede à direita de quem entra, mas um lindo afresco, mostrando a crucifixação de Cristo, também feito na mesma época da obra de Da Vinci, pelo artista Donato Montorfano, está na parede oposta. Quinze minutos passam voando. Uma mensagem nos lembra que a visita terminou. Era hora de sair. Estávamos muito cansados. Pegamos o metrô de volta, descendo na estação Porta Venezia, cuja saída é bem em frente à entrada do nosso hotel. Tomei um banho relaxante, deitei e dormi um pouco. Acordei sem fome. Resolvi não mais sair. Ric saiu, disse que ia procurar alguma coisa para comer (enquanto escrevo este post, ele me ligou dizendo que todos os restaurantes nas imediações já estavam fechados, o que o motivou a comer no próprio restaurante do hotel).
aplausos!!!
ResponderExcluirObrigado pela visita!
ResponderExcluirAbraços.