Quinta-feira de muito sol, clima frio e seco. Lábios rachados. Foi dia de um passeio a pé pelo centro histórico de Milão. Depois de um café da manhã no hotel, pedimos para lavar algumas peças de roupa, nos arrumamos e partimos para um grande roteiro. Fomos de metrô até perto da Pinacoteca Brera, para onde já tinha um voucher valendo dois ingressos adquirido em conjunto com a entrada para ver a obra de Leonardo Da Vinci, "A Última Ceia", ingressos comprados via internet. No mesmo prédio onde etá este museu funciona uma escola de belas artes, o que explica o número de galerias e lojas especializadas ao seu redor. O museu fica no segundo piso de um grande edifício. Para entrar, passamos pela loja da pinacoteca, indo para a bilheteria onde fizemos a troca necessária do voucher pelos dois bilhetes para entrar. O valor do ingresso para comprar no local é 5 euros. O museu é muito fácil de se andar, sem labirintos, permitindo ver todo o acervo em exposição seguindo um mapa disponível no balcão da bilheteria. A maioria dos quadros expostos são de artistas italianos, cobrindo um período que vai do século XII ao século XIX. Algumas salas (creio que três ou quatro) expõem algumas coleções particulares, onde pode-se ver obras de outros artistas como Braque e Picasso, por exemplo. Há uma sala pequena com pinturas dos holandeses, com um quadro atribuído a Rubens, além de um retrato feito por Van Dyck e outro por Rembrandt. O restante é o melhor da arte italiana. Tem obras de Bellini, Tintoretto, Mantegna (o famoso quadro "Cristo Morto"), Morandi (várias naturezas mortas), Modigliani, Rafaello, Caravaggio (um belíssimo "Ceia em Emaús"), Hayes, Veronese. Além de apreciar mais um quadro de Caravaggio, já postado aqui que é um dos meus artistas preferidos, também pude ver a obra "Fiumana", de Giuseppe Pellizza. Esta pintura foi reproduzida em uma cena do filme "1900", de Bernardo Bertolucci. Quando avistei a pintura, a tal cena veio logo à minha mente, embora não me lembrei, no momento, a que filme ela se referia. Fiquei admirando, tentando lembrar. Sabia que era um diretor italiano. Não saí da sala até me lembrar do filme de Bertolucci. Só este quadro já vale a visita ao museu. Saindo da pinacoteca, continuamos nossa caminhada pelo centro de Milão, chegando à Piazza della Scala, onde está o famoso Teatro alla Scala, também conhecido como Scala de Milão, considerado um dos melhores palcos do mundo para encenar óperas. Diga-se, de passagem, temos ingressos comprados via iternet e enviados pelo correio para meu endereço em Brasília, para ver na noite desta quinta-feira, o espetáculo "Morte em Veneza". Mais tarde colocarei minhas impressões aqui. No centro desta praça está um monumento com a estátua de Leonardo Da Vinci. O prédio que abriga a prefeitura da cidade também está nesta praça, assim como uma das quatro entradas para a chiquérrima Galleria Vittorio Emanuelle II. Na verdade, são duas ruas que se cruzam cobertas com uma cúpula de vidro, abrigando uma série de lojas de grifes e alguns restaurantes. Por ali, estão filiais da Prada, Louis Vuitton, Mercedes Benz, Tod's, Gucci, entre outras. Na loja da Gucci está o único café da grife existente no mundo. Claro que paramos para um café no local. Pedi um gran cappuccino. Veio um bowl enorme, cheio até a borda. Na outra ponta da galeria se situa a praça mais famosa da cidade, a Piazza Duomo, onde está a terceira maior catedral do mundo. Belíssima por fora, há um rigoroso controle de segurança na entrada desta igreja, onde minha mochila teve de ser aberta, além de passarem um detector de metais manual sobre o corpo. Entrada grátis. O interior é escuro e parte está em obras (como quase tudo na Itália!). Comprei um mapa da catedral por 1 euro para me situar melhor. Os vitrais são considerados os mais altos do mundo em igrejas. Pagamos mais 1 euro cada entrada para ver o tesouro da catedral. Desperdício de tempo e dinheiro. Nada do que já não tenhamos visto nos muitos tesouros de igrejas históricas europeias, além de ter um acervo minúsculo. Já do lado de fora da catedral, observamos o movimento da praça, onde uma multidão passa diariamente, entre turistas, vendedores ambulantes e locais. Ainda havia batalha de confete e serpentina entre crianças fantasiadas. Acontecia também uma apresentação de palhaços dentro da programação do Milano Clown Festival. Do lado esquerdo de quem sai da catedral está o Palazzo Reale, totalmente reformado e, hoje, é sede de exposições de arte temporárias. Como tínhamos reserva em mais um restaurante estrelado (duas estrelas) no Guia Michelin para 13:30 horas, decidimos ir em direção à Piazza della Scala, onde ele está localizado. Trata-se do Trussardi alla Scala, um sofisticado restaurante dentro da sofisticadíssima loja da grife Trussardi. No térreo, a loja e um café. Para o restaurante, pega-se um elevador, todo revestido de mosaico azul. Fomos os primeiros a chegar. Muito bem atendidos, ofereceram guardar nossos casacos antes de nos dirigirmos à mesa, posicionada em um canto com ampla visão para o teatro e a praça. O restaurante só tem três opções no cardápio: dois menus fixos (130 euros e 145 euros cada um, com exigência de todos na mesa pedirem o mesmo menu) e um menu do dia, mais simplificado, ao custo de 55 euros. O atendimento é de primeira. Em nenhum momento ficamos sem assistência e explicações sobre os pratos que chegavam. Logo que sentamos, colocaram uma vasilha com mandiopãs coloridos. Deliciosos. Logo vieram os pães da casa. Resolvi recusar todos, pois não queria me empanturrar de pão em detrimento ao menu escolhido. Ficamos no menu de 130 euros cada um. O sommelier da casa nos ofereceu três opções de taças de espumantes (na verdade, um champagne e dois espumantes) para começarmos. Chutei o balde. Escolhi um espumante italiano sensacional. Além disto, escolhi na enorme carta de vinhos, um autêntico Barolo para acompanhar nosso menu. As boas vindas do chef Andrea Berton chegaram à mesa, com cebola caramelizada, um drink feito de sprite e cerveja, um bombom de queijo e uma espécie de tronco com canela. Tudo muito leve, mas com explosões (literalmente) de sabores na boca. Em seguida, foi uma sequência de quatro pratos salgados, cada um melhor do que o outro, com destaque para o último, uma tenra carne de vitelo. Antes da sobremesa, novo mimo do chef, desta vez uma combinação de sorbet de queijo com creme de manga. A sobremesa, o quinto prato do menu, foi uma versão atualizada do tiramissú. A apresentação dos pratos é um caso à parte. Alegria para olhos e paladar. Junto com a sobremesa, vários mini docinhos, como uma degustação em proporções diminutas das delícias doces da casa. Finalizamos com o sempre forte café expresso. Intrigados com as fotos que tirávamos dos pratos, um dos garçons me perguntou o motivo de tais fotos. Disse que era para eu colocar no blog que escrevo sobre minhas impressões de viagem. Aproveitei e pedi para trazerem a garrafa do Barolo para uma foto. Fui prontamente atendido. Ainda perguntaram se eu queria levar o rótulo, pois muitos clientes pediam isto. Disse que não. Para mim bastava a foto. Perguntaram, então, de onde éramos. Quando falei Brasil, surpreendentemente perguntaram-me se conhecia algum restaurante do chef Alex Atala. Disse que conhecia tanto o D.O.M. quanto o Dalva & Dito. Paguei a conta mais cara desde o início da viagem (468 euros), mas valeu a pena. Na saída, ao entregar nossos casacos, o gerente nos presenteou com as edições 2011 de dois importantes guias gastronômicos: "Les Grandes Tables du Monde" e o "Le Soste" (um guia centrado na gastronomia italiana). Na saída, nova caminhada pelas redondezas. Desta vez, no quadrilátero de ouro, ou Fashion District. São quatro ruas: Via A Mazoni, Via della Spiga, Via S. Andrea e Via Montenapoleone. Só lojas de grifes famosas e caras: Pucci, Prada, Trussardi, Armani, Ermenegildo Zegna, Dior, Chanel, Louis Vuitton, Cacharel, Kenzo, Roberto Cavalli, Moschino, Fendi, Ferré, Hermès, Dolce & Gabbana, Krizia e por aí vai. O povo circulando nestas ruas é de uma elegância ímpar, além de termos visto algumas excentricidades também. Quando terminamos este passeio, fomos para a útlima atração programada para a tarde, uma caminhada dentro dos muros do Castello Sforzesco. Lá, o movimento é intenso. Existem quatro museus. Para visitá-los, basta adquirir um único bilhete. Estávamos cansado e lembramos da ópera da noite, com duração de duas horas e cinquenta e cinco minutos. Preferimos apenas conhecer o castelo, sem entrar nos museus. Voltamos para o hotel de metrô para um merecido descanso antes da programação noturna.
Depois do descanso, colocamos o paletó e fomos para o Teatro alla Scala conferir a ópera "Morte em Veneza" (Death in Venice), de Benjamin Britten, a partir da obra de Thomas Mann. No papel principal John Graham Hall. A ópera é dirigida por Edward Gardner. Confesso que fiquei decepcionado com o teatro, que estava lotado, especialmente de público mais velho, impecavelmente vestido, a maioria de terno, alguns com gravata borboleta. A decepção ficou por conta do desconforto das poltronas, do pouco espaço para as pernas (fiquei com saudades do aperto do Teatro Nacional de Brasília), além de ficar desapontado com a decoração. O Teatro San Carlo, em Nápoles, é muito mais suntuoso. Além do mais, achei a ópera chata, muito longa. Prefiro mil vezes a versão para cinema dirigida magistralmente por Luchino Visconti. Saímos tarde, não achando nenhum restaurante na região aberto para jantarmos. Resolvemos pegar o metrô, que fecha por volta de meia noite, e ficar por perto do hotel. Chegamos a entrar em uma pizzaria, mas fomos informados que a cozinha já estava encerrada. A única opção por perto foi o McDonald's. Ao sentar, fiquei rindo da contradição do dia. Um almoço em restaurante estrelado, cuja conta ficou em 468 euros, e um fim de noite no McDonald's, cuja conta ficou em 12 euros. Voltamos para o hotel e as roupas que mandamos lavar já estavam disponíveis na recepção, limpas, cheirosas e passadas. Hora de dormir.
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