Conforme programação que fiz antes de viajar, o domingo seria dedicado às ruínas de Pompeia, mas para a viagem, deveríamos ter acordado mais cedo. O corpo sentiu o ritmo veloz desta primeira semana de viagem. Não acordamos no horário em que deveríamos levantar. Quando me dei conta, já eram mais de 10 horas da manhã. Primeiro dia sem chuva desde que iniciamos a viagem, mas o frio continua forte. Os termômetros marcaram ao longo do domingo a máxima de 12º C. Depois do café da manhã no hotel, decidi trocar o roteiro do dia, fazendo a programação de segunda-feira. Pegamos um ônibus da empresa City Sightseeing Napoli, daqueles que vemos em várias cidades do mundo com dois andares, com várias paradas e possibilidade de descer, ver o que há na região e pegar o próximo ônibus. O local de saída é muito próximo ao hotel, na Piazza Municipio, no Largo Castello. No inverno, a primeira saída se dá às 10:45 horas. São três roteiros diários, com possibilidade de fazê-los todos com o mesmo bilhete. Aos sábados e feriados, um quarta linha também circula. Como neste domingo os napolitanos comemoravam o carnaval, a quarta linha estava em funcionamento. Cada bilhete é válido por 24 horas e custa 22 euros. As três linhas regulares tem um intervalo entre um ônibus e o outro, de novembro a março, de 75 minutos, tempo de sobra para conferir as atrações turísticas da parada. Pegamos a Linha A - I Luoghi dell'Arte (Os Lugares da Arte), com 12 paradas. Escolhemos esta linha porque queríamos conhecer o acervo do Museo Archeologico Nazionale, parada número 4 do roteiro. O ônibus saiu no horário. Quinze minutos depois, descemos em frente ao museu, pagando 6,50 euros cada ingresso. Não se pode entrar com mochilas. Assim, deixei a minha nos armários individuais logo na entrada. O museu segue a linha da cidade, ou seja, carece de um melhor cuidado e algumas salas estavam fechadas para visita, como a parte do acervo de arte egípcia. Mas o que nos interessava estava aberto: tudo o que conseguiram retirar de Pompeia e Herculano nas escavações no final do século XIX. Começamos pelo piso térreo, onde está a Coleção Farnese, uma interessante exposição de estátuas e bustos provenientes do Palatino e das Termas de Caracala, ambos em Roma. O tamanho das estátuas em mármore impressionam. Nesta ala se encontra a maior escultura intacta que sobreviveu da antiguidade, a chamada "Touro Farnese". Outra peça gigante é a estátua de Hércules descansando. Partimos para o piso superior, onde estão os afrescos, mosaicos, vasos, vidros, objetos do dia a dia encontrados nas casas quando das escavações feitas em Pompeia. Um belíssimo acervo. Há também uma interessante maquete da cidade de Pompeia após as escavações. Fizemos compras de magnetos na loja do museu antes de sairmos. Gastamos pouco mais que uma hora para ver todo o acervo aberto à visitação. Enquanto esperávamos o ônibus, visitamos a Galleria Principe di Napoli, bem em frente ao museu, onde funciona hoje o Banco di Napoli. No horário correto, entramos no ônibus vermelho e seguimos todo o roteiro sem mais descer, apenas tirando fotos dos prédios e monumentos que estavam no percurso da Linha A. Chegamos ao ponto de partida às 13 horas. Um tímido sol queria aparecer. Era hora de procurar um restaurante para almoçar. O previsto era a Trattoria Ferdinando, na Via Nardones, 117, no famoso Quartieri Spagnoli (Quarteirão Espanhol). Não era longe de onde estávamos. Fomos caminhando observando a grande quantidade de crianças fantasiadas sendo levadas por seus pais na mesma direção. Seguimos estas pessoas. O destino de todos era a imensa Piazza Plebiscito, onde já tínhamos estado no final do dia anterior, mas agora a luminosidade era outra. O Palazzo Reale, todo restaurado, faz um contraponto à igreja San Francesco di Paola, inspirada no Pantheon de Roma, cujas colunas e paredes estão completamente pichadas. O mesmo acontece com a base de duas estátuas que ficam em frente à igreja. Ali naquela praça, as crianças se divertiam, os pais conversavam, vendedores ambulantes ofereciam confete e serpentina, mas não havia nenhuma música. Carnaval sem música? Parece impossível para um brasileiro, mas era esta a cena que presenciamos no início da tarde deste domingo. Continuamos nossa caminhada, entrando no início da Via Nardones. A rua é estreita, uma boa subida, cheia de roupas penduradas nas varandas dos prédios (coisa muito comum em quase toda a cidade). Subimos até o final da rua, sem encontrar o restaurante, nem mesmo o número 117 achamos. Resolvemos descer pela rua paralela, uma rua comercial, a Via Chiaia. Procurávamos onde almoçar, quando vi uma placa indicando uma pizzaria chamada Brandi (Salita S. Anna di Palazzo, 1/2). Lembrei-me vagamente que li algo sobre ela quando preparava o roteiro da viagem. Já que ali estávamos, fomos conferir. Quando chegamos em frente à pizzaria, vendo um cartaz dizendo se tratar da Antica Pizzeria Regina D'Italia, existente no mesmo local desde 1780, resolvemos entrar. Do lado direito de quem sobe a rua, fica a parte para os fumantes, do lado esquerdo, a maior quantidade de mesas, inclusive do lado de fora, o local para nós, os não fumantes. Quando chegamos, só havia uma mesa ocupada. Logo encheu de turistas. Todos querendo conhecer o local onde foi criada a Pizza Margherita. Criada em 1889 pelo proprietário e pizzaiolo da época para oferecer à Rainha Margherita, esposa do Rei de Nápoles, Umberto I. Embora ela tenha experimentado três tipos de pizzas levadas pelo pizzaiolo, a rainha gostou mais da que leva tomate e mussarela. O pizzaiolo aproveitou a deixa e batizou sua criação com o nome da rainha. Hoje, esta pizza simples é consumida com o mesmo nome no mundo inteiro. Obviamente que pedimos para comer a criação da casa, a opção mais barata do cardápio. A casa também produz seu próprio vinho. Resolvemos experimentar uma garrafa do seu vinho tinto, mas não nos agradou, muito ácido. A pizza é gostosa, individual, grande, com fartura de mussarela e molho de tomates frescos, mas a massa é muito parecida com todas aquelas que comemos na Itália, ou seja, difícil de partir com faca. Sem desmerecer, diria que a massa é borrachuda. O senão fica por conta de um cantor italiano que chegou, tocou seu violão, cantou três músicas e passou um pandeiro pedindo alguns euros, muito parecido com os repentistas que lotam as praias nordestinas. Terminado o almoço, voltamos ao Largo Castello, onde pegamos o último ônibus turístico do tipo Hop On Hop Off da Linha C - San Martino, a tal linha que só funciona aos sábados e feriados. São dez paradas, mas como era o último a sair no dia, embora fosse ainda cedo, 15 horas, ninguém descia do ônibus. Neste roteiro, conhecemos a parte da cidade mais rica, onde não há muita sujeira nas ruas, não há roupas penduradas nas varandas dos belos prédios, muitos de frente para o mar, e onde ficam as lojas das maiores grifes mundiais, especialmente as italianas. O ônibus foi subindo um morro, em curvas para lá e para cá, com belas vistas do Golfo de Nápoles. Quanto mais subia, mais frio sentíamos. Quando chegamos ao Largo San Martino, uma vista de toda a cidade apareceu à nossa frente. O ônibus fez uma parada de meia hora, tempo suficiente para um café, ir ao banheiro e tirar fotos tanto da cidade, quanto da fachada do Museo Nazionale San Martino e do Castel Sant'Elmo, ambos no local. Passada a meia hora, voltamos ao ônibus, mas ficamos na parte coberta, pois uma leve chuva ameaçava cair, o que acabou não ocorrendo. Chegamos de volta do passeio perto de 17 horas. Voltamos para o hotel descansar, pois não queremos perder o trem para Pompeia nesta segunda-feira.
"Hércules Descansando" - Coleção Farnese - Museo Archeologico Nazionale - Nápoles
Afresco - Ala dos Retratos encontrados quando das escavações em Pompeia - Museo Archeologico Nazionale - Nápoles
"Touro Farnese" - Coleção Farnese - Museo Archeologico Nazionale - Nápoles
Almoço na Brandi - Antica Pizzeria della Regina D'Italia, onde foi criada a Pizza Margherita - Nápoles
Terminamos a noite jantando perto do nosso hotel. Estávamos cansados e iremos acordar cedo nesta segunda-feira. Assim, preferimos um restaurante nas imediações do hotel. São várias opções, mas a culinária não muda, sempre trattorias e pizzarias. Entramos naquela que nos pareceu melhor: Trattoria e Pizzeria Ciro a Medina (Via Medina, 19). Local simples, com dois pisos. Ficamos no primeiro piso, onde havia algumas mesas ocupadas. Não há carta de vinho. As opções ficam em cima de um balcão. Escolhi um Chianti Classico, sem medo de errar. Era o vinho mais caro das poucas opções (18 euros). Quanto ao jantar, pelo menos conseguimos fugir das pizzas, mas ficamos bem perto delas. Escolhemos comer calzone. O meu era recheado com ricota, tomate, beringela e mussarela. A massa estava deliciosa, levemente salgada e o recheio bem leve. O atendimento também foi muito bom. Ficamos surpresos com a qualidade do local. A conta foi menos de 40 euros para duas pessoas. Nápoles é bem mais barata do que Roma, com certeza.
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