Pesquisar este blog

sábado, 15 de outubro de 2011

NAPOLI NAPOLI NAPOLI

Calmamente vou assistindo aos filmes que comprei no formato dvd neste ano de 2011. O último deles foi Napoli Napoli Napoli, produção italiana de 2009 dirigida por Abel Ferrara. Antes de ver o filme, nada sabia sobre ele. Comprei por dois motivos: gosto do diretor e queria ver na tela a cidade de Nápoles que conheci no início do ano. Vício Frenético (1992) e Olhos de Serpente (1993) são dois filmes que Ferrara dirigiu que gosto muito. Ele trata a violência de uma forma especial em seus filmes. Fiquei surpreso quando comecei a ver Napoli Napoli Napoli, constatando que se tratava de um documentário. Mas o diretor não se afastou do tema "violência". Este filme traz à tona a violência que domina a cidade italiana, suas ligações com a Camorra, a famosa máfia da Itália, ou com a total falta de perspectiva de futuro das pessoas mais pobres. Ele tenta chegar ao público as causas dos delitos, do tráfico de drogas, da prostituição, por meio de entrevistas com detentas de um presídio feminino napolitano. Todas as mulheres que cumprem pena na prisão são de origem pobre, da periferia da cidade, onde o Estado pouco se faz presente, e acabaram se envolvendo com furtos e tráfico de drogas. Em meio às entrevistas, o diretor abre espaço para outras pessoas que são ligadas com o tema ou com a periferia, expondo a visão de quem está de fora da prisão, seja na condição de prefeita, de autoridade pública, de juiz, seja na condição de diretores de organizações não governamentais que trabalham com e para a população mais pobre. De leve, ele toca no tema imigração, já que uma das detentas largou os estudos de medicina na Nigéria e acabou se envolvendo com drogas para pagar a quem lhe ajudou a chegar na Itália. É interessante a abordagem que ele faz, mesmo que tangencialmente, da imigração, pois ele desconstrói o discurso dos nacionalistas europeus de que os imigrantes são os responsáveis pela criminalidade, pois a maioria das mulheres presas são italianas da região de Nápoles. Para apimentar seu documentário, Ferrara utiliza atores, muitos deles amadores, para protagonizar uma história de violência pelas ruas da cidade do sul da Itália. Esta ficção dentro do documentário tem final previsível, já que as entrevistas ocorrem, desde o início, no pátio do presídio, deixando pistas do que vai acontecer com os personagens fictícios. Durante as entrevistas, Ferrara pergunta a várias detentas se elas já leram algum livro na vida. A resposta é assustadora. Nunca leram ou só tiveram contato com a literatura quando foram presas. Uma entrevistada fora da prisão também reclama da falta de salas de cinema nos bairros mais carentes da cidade. Indicações de que a falta de acesso à cultura pode potencializar a violência. O filme é um interessante retrato de uma das mais populosas cidades italianas, mas a realidade mostrada pode muito bem ser a de qualquer cidade grande, seja na Europa, nos Estados Unidos ou no Brasil. O final é surpreendente com um show que o diretor faz em um festival gratuito na cidade, quando toca guitarra e assume os vocais. Gostei.

filme
dvd

Nenhum comentário:

Postar um comentário