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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

MANAUS - DIA 2: RIO NEGRO

O domingo foi quente, calor úmido, com sol castigando nossos corpos. Compramos um passeio de dia inteiro pelo Rio Negro, incluindo uma van para levar o grupo a um local de votação para que fizéssemos a devida justificativa de ausência em nossas zonas eleitorais. Logo cedo, todos já estavam a postos no lobby do hotel, onde já nos esperava um guia e o motorista da van. Justificamos nossa ausência eleitoral em um colégio público. Foi muito rápido, pois já tínhamos os formulários preenchidos previamente, embora três tiveram que preencher novo formulário no ato da justificativa. Do tal colégio, paramos em uma agência do Banco do Brasil para alguns efetuarem saque, já que o passeio somente poderia ser pago em dinheiro. Foi o bastante para uma brincadeira que partiu daqueles que não sacaram dinheiro: nós precisamos sacar, pois deixávamos o dinheiro em conta corrente para fazer saldo médio. Hilária esta observação, que nos remeteu em épocas de inflação galopante no país. Voltamos ao hotel, pois o nosso barco tinha como ponto de partida o pier do decadente Hotel Tropical Manaus. O barco era tipo as voadeiras que navegam no Rio Preguiças, nos Lençóis Maranhenses. Era pequeno com lugar para dez pessoas: nosso grupo de oito, o guia e o barqueiro. O barco tinha o singelo nome de Lady Sylvia. O passeio, que custou R$ 300,00 por pessoa, incluía três visitas: o arquipélago fluvial de Anavilhanas, nadar com botos cor-de-rosa e conhecer o hotel de selva Ariaú Amazon Towers. Gastamos quase uma hora e meia para chegarmos a uma pequena balsa flutuante no Rio Negro que estava lotada de turistas nadando e tirando fotos com os sempre mansos botos cor-de-rosa. Nosso guia achou melhor deixar os botos para depois. Ali, fizemos uma rápida troca de barco, pois o nível da água não permitia que o barco em que estávamos seguisse até o hotel. Entramos em uma canoa pequena, com um motor controlado por um barqueiro do hotel. Fomos em direção à margem para pegar um canal entre a floresta. Chegando perto do canal, encalhamos. Pediram para que balançássemos o barco de um lado para o outro. Fizemos, inicialmente, totalmente sem sincronia. Foi preciso um comando de um dos amigos, que gritava esquerda e direita, para que o barco se balançasse. Foi em vão nosso esforço. O barqueiro teve que entrar na água e empurrar a canoa até que ela ficasse livre novamente. Entramos no canal do Rio Ariaú. A água estava muito barrenta e era bem raso. A canoa teve que subir vagarosamente para não encalhar novamente. No caminho, apreciando a paisagem, vimos onde a água costuma atingir em época de cheia. É impressionante a altura que a água chega. Muitas árvores enormes ficam totalmente submersas. Vimos muitos pássaros no caminho, com plumagens coloridas e tamanhos diversificados. Gavião, pato selvagem, pica-pau, canarinho, entre outros, voavam entre as árvores da floresta, exuberante, à nossa frente. O sol castigava. Fiquei, em alguns momentos, refletindo sobre aquele domingo, especial para mim, por ser meu aniversário. Nunca tinha passado um aniversário tão diferente. O trajeto até a escada de madeira que dá acesso ao hotel durou cerca de quarenta e cinco minutos. Desembarcamos em um pequeno pier flutuante. Subimos as escadas, ávidos por uma sombra. Logo ao final da escada, a entrada para a primeira torre de madeira, onde ficam os quartos do hotel. Fomos recebidos por um bando de macacos pequenos. Entre as torres de madeira, várias passarelas, na altura da copa de algumas árvores, fazem a ligação entre as torres e as atrações do hotel. Nestas passarelas, vimos macacos maiores nos galhos das árvores. Chegamos na área da piscina. Achei decepcionante. A piscina é pequena, com uma escultura de cobra gigante e dois botos de  gosto duvidoso. Esta piscina é de fibra de vidro. O calor era intenso. Quase todos tomaram uma chuveirada e entraram na tal piscina. Chegamos na hora do almoço. Assim, tivemos um tempo curto para descansar. Pedimos toalhas na recepção do hotel, nos enxugamos, subindo, em seguida, para almoçar. O almoço já estava incluído no pacote, com exceção das bebidas. Era um bem montado buffet, com comida simples para agradar a todos. O prato da culinária local era o pirarucu. O ambiente é bem rústico, com grandes mesas em madeira e bancos as ladeando. Saciamos nossa fome, mas a comida não tinha nada de excepcional. Terminado o almoço, voltamos para a área da piscina, onde tiramos fotos com tucano, papagaio e arara. Fomos levados a um quarto standard recentemente reformado. O cheiro da madeira era muito forte, parecia o que chamamos de pau-bosta. O quarto é simples, sem televisão. É para ficar totalmente em sintonia com a natureza. Do quarto, foi a vez de conhecermos a boate do hotel, onde há um aquário com peixes da região, como o tambaqui e o pirarucu. Para chegar à boate, passamos por uma passarela para conhecermos o local de desembarque dos hóspedes e visitantes em época de cheia, além de vermos o heliponto. Continuamos a andar pelas passarelas até uma escada que nos levava para a copa de uma árvore enorme. Era uma das suites, chamadas de Casa do Tarzan. Apenas quatro subiram as escadas. Eu fui um deles. O quarto é maior, com televisão. Também não gostei. Em outra árvore está uma suite presidencial, batizada com o nome de Luís Inácio Lula da Silva. Ao final da passarela, chegamos ao local de embarcar novamente na canoa. Tivemos que descer um barranco, o que foi ruim para um dos amigos que está usando uma bota ortopédica (ele teve um dos ligamentos do tornozelo rompido antes da viagem). Quando chegamos no pier flutuante, tivemos a surpresa de não haver barqueiro para nos levar. O nosso guia telefonou pedindo ajuda. Subimos novamente as escadas de madeira para esperar na sombra. Enquanto aguardávamos, vários barqueiros apareceram, mas diziam que não podiam nos levar. Mais um sinal da qualidade da prestação de serviços por aqui. Não há um compromisso com a qualidade desta prestação de serviços. Mesmo com toda beleza e exuberância da natureza, um serviço ruim acaba comprometendo o turismo. Enquanto nós estávamos esperando, o guia pegou uma vara de pescar e, em segundos, já pescava uma piranha. Passada meia hora, um grupo de estrangeiros desceu as escadas, nos cumprimentou amavelmente, e foram para o pier. Neste momento, o barqueiro que nos levara atracou a canoa. Nosso guia nos chamou. Entramos no barco. Uma breve discussão foi travada no local entre nosso grupo e o grupo de estrangeiros. Eles queriam a canoa para eles. Dissemos que estávamos esperando há mais tempo. Pediram para quatro pessoas também seguirem em nossa canoa. Dissemos que a canoa já havia encalhado quando da nossa ida ao hotel, que não havia colete salva-vidas para as novas pessoas e que a segurança vinha em primeiro lugar. Achei interessante a reação do grupo estrangeiro, pois não ficaram satisfeitos, insistindo na tal "carona". Já não eram tão amáveis quanto nas escadas. Não cedemos e pedimos para o barqueiro seguir rio abaixo. Nosso guia ficou calado o tempo inteiro. Deixou a decisão e a discussão para nós. Este bate-boca, em inglês, diga-se de passagem, me fez fazer uma reflexão: caso déssemos a carona pedida e houvesse um acidente que machucasse alguém, os estrangeiros seriam os primeiros a irem para a imprensa internacional se queixar da segurança nos serviços de turismo no Brasil. Não é só brasileiro que tenta dar um jeitinho... Quanto ao hotel, coloquei um X. Tinha curiosidade em conhecê-lo, mas não me agradou. Achei feio, além de desconfortável. Também tive a impressão de que a natureza é constantemente agredida com a sua presença. Sentimos forte cheiro de esgoto, por exemplo, enquanto ficamos à espera de uma canoa. A volta foi mais rápida, não só porque estávamos a favor da correnteza, mas também porque o motor utilizado era um com hélice menor, facilitando a sua retirada da água quando em águas rasas ou no encontro de troncos de árvores e outros obstáculos. Ao sairmos do canal, encalhamos novamente, mas, desta vez, o balançar dos nossos corpos foi suficiente para a canoa voltar a se mover. No entanto, o combustível terminou, mas já estávamos em uma posição no Rio Negro que permitiu que nossa voadeira encostasse na canoa, possibilitando nossa passagem de um barco para o outro. Já na voadeira, fomos para o pier flutuante, onde se nada com os botos. Um funcionário do Ariaú nos acompanhou o tempo todo. Ele joga peixes para atrair os botos cor-de-rosa. Em questões de segundos, os tais botos já chegam no local. Primeiro um, depois mais dois, ao final, contei seis botos. Na água, junto com o empregado do hotel, somente entram de três em três. Preferi não entrar no rio. Fiquei na borda do pier, vendo os botos se contorcerem no ar para pegar os peixes. Ficamos apenas vinte minutos no local. Já passava das três horas da tarde. Hora de voltar, pois as Anavilhanas não poderiam ser vistas de perto porque o nível do rio estava muito baixo. Vimo-nas, de muito longe, quando iniciamos o passeio. A volta durou uma hora e quinze minutos. A voadeira ia rápido, o que facilitava o balançar mais frequente. Chegamos no hotel no final do dia, vendo o belo por-do-sol no Rio Negro de dentro da sua piscina de borda infinita. A piscina estava lotada e assim ficou enquanto lá estivemos. Subimos para os quartos já de noite. Foi tempo para um banho relaxante, arrumar e descer para o lobby, onde, depois de muito tempo e sugestões, optamos por uma pizzaria para encerrar o domingo e, mais uma vez, comemorarmos o meu aniversário. Seguindo recomendações dos recepcionistas do hotel, fomos para a Pizzaria Carluccio (Estrada Ponta Negra, 6.089 - Ponta Negra). Pedimos dois táxis, mas antes perguntamos o valor da corrida. O motorista que lá estava disse que cobrava o valor do taxímetro. Esperamos o outro táxi chegar para irmos juntos. Entrei no primeiro táxi. Logo um amigo do outro carro nos liga e diz para não esperarmos, pois trocariam de táxi. O outro motorista não quis ligar o taxímetro, dizendo que o valor da corrida era fixo, ou seja, R$ 49,00. Eles não aceitaram e pediram paro o hotel chamar um táxi que ligasse o taxímetro. O valor correto da corrida era R$ 26,00. É a ganância de querer tirar proveito dos turistas. A pizzaria é grande, com pé direito alto, mas peca por ter um telão passando a programação da Globo. Todos pediram esfihas de entrada e três calzones para oito pessoas. Os calzones chegaram primeiro que as entradas. Ponto negativo para o serviço. Ainda não comi em Manaus nenhum prato que pudesse merecer grandes elogios. O calzone estava correto, mas faltava tempero em seu recheio. Faltava personalidade. Nesta pizzaria, o serviço é um pouco melhor do que nos outros locais que já visitamos. Para voltar ao hotel, telefonamos para o motorista que nos levou. Ele nos atendeu prontamente, levando consigo um outro táxi. No hotel, ficamos no lobby conversando, quando pedimos sorvete para refrescar do calor. Pedi sorvete de tucumã. Achei ótimo. Fim do domingo. Fim de um aniversário diferente: nada de lugares sofisticados, restaurantes de primeira e conforto da vida urbana moderna. Foi natureza, simplicidade e muita alegria compartilhada com queridos amigos. A sofisticação deixei para Brasília. No quarto, antes de deitar, fiquei com a sensação de que o chão balançava, reflexo do passeio de barco durante o dia.

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