Cheguei cedo na noite de terça-feira, 23 de agosto de 2011, na Praça do Complexo Cultural da República para ver a abertura do Cena Contemporânea - Festival Internacional de Teatro - 12ª Edição. Eram 19 horas e o local já tinha um bom movimento em torno do Espaço Petrobrás, local de encontro de todas as noites do festival. No palco montado ao lado do Museu Nacional da República, a cantora Rita Ribeiro passava o som para o show de logo mais. Comprei uma água mineral no estande do Rayuela ali montado, pois a seca em Brasília está árdua. Dei a volta no museu para chegar até onde estavam montadas as arquibancadas em formato de "U" e cadeiras brancas de plástico para os convidados da abertura do festival. No extremo aberto, em frente à arquibancada em que me sentei, estava o palco, ou melhor, o picadeiro onde aconteceria a peça de estreia desta edição 2011 do Cena Contemporânea, com entrada gratuita. Um vento fresco anunciava uma noite agradável, mas exigindo uma blusa de mangas compridas, destas usadas em meia estação. Aos poucos, o público foi chegando, chegando, até tomar por completo os lugares disponíveis. Entre o picadeiro e as primeiras cadeiras, um espaço vazio que também foi ocupado pela galera mais jovem, que não se incomoda (ou ainda não tem dores nas costas) em se sentar no chão, sem lugar para esticar as pernas ou um bom encosto para relaxar o corpo. Uma trupe da Petrobrás, patrocinadora master do evento, apareceu para uma breve e divertida performance, anunciando as peças que integram a Mostra Petrobrás, dentro da programação do Cena Contemporânea. Finda a performance, foi a vez de Guilherme Reis, coordenador geral do festival, entrar em cena para anunciar a abertura da 12ª edição deste já tradicional festival internacional de teatro na cidade. Coube a Hamilton Pereira da Silva, também conhecido como Pedro Tierra, Secretário de Cultura do Distrito Federal, fazer um breve discurso de abertura. Ele leu uma frase de sua autoria, impressa no catálogo do festival: "...a cultura é o único bem, que ao ser dividido se multiplica...". A participação do Secretário de Cultura na abertura teve um motivo simbólico, mas também forte, pois foi a primeira vez, em doze edições, que o Governo do Distrito Federal apóia o Cena Contemporânea. Encerrados os discursos, o picadeiro foi tomado pela trupe dos Clowns de Shakespeare, do Rio Grande do Norte para interpretar a história de William Shakespeare, Eduardo III, que nesta adaptação recebeu o título de Sua Incelença Ricardo III. Os oito atores do grupo, Camille Carvalho, Dudu Galvão, César Ferrario, Joel Monteiro, Marco França, Paula Queiroz, Renata Kaiser e Titina Medeiros, se revezam interpretando uma enorme quantidade de personagens. No meio da peça, um dos atores dá a dica deste número: 54. A versão potiguar levou para o sertão as artimanhas, as traições e os assassinatos de uma Inglaterra de época elizabetana. Gabriel Vilela, o diretor, tem experiência de sobra em dirigir grupos com linguagem circense e com teatro de rua, como o Grupo Galpão de Belo Horizonte, grupo que abriu a edição 2010 deste festival. Como o próprio nome do grupo diz, os atores são caracterizados como palhaços. Assim, nada mais natural do que o universo desta peça seja o circo mambembe, com elementos usados por artistas de rua, tais como pernas de pau, roupas coloridas, adereços de sucatas e carroças, lembrando também o povo cigano. A adaptação é sensacional. A famosa história do malvado Ricardo III, responsável por vários assassinatos, não perdoando os de seu próprio sangue, para chegar ao trono da Inglaterra, contada como se tudo se passasse no sertão nordestino. A introdução de músicas tradicionais do Nordeste brasileiro, tais como Assum Preto e Sabiá, ambas de Luiz Gonzaga, para pontuar as cenas é fantástico, assim como músicas clássicas do rock inglês, como The Logical Song (Supertramp) e a parte inicial de Bohemian Rhapsody (Queen). Nesta música do Queen, um dos atores, quando interpreta a mãe de Ricardo III, está perfeito na caracterização de Freddy Mercury, com peruca loura e um vestido longo vermelho, ostentando aquele famoso bigode do vocalista do Queen. O figurino também se destaca, e a troca de roupas e máscaras é uma constante no decorrer dos 75 minutos de encenação. Uma das cenas mais bonitas plasticamente é a representação do sonho de Ricardo III, pressentindo que a morte estava por perto. As aves de mau agouro do Nordeste brasileiro eram apenas duas hastes de bambu que, nas mãos dos atores, voavam nos céus de Brasília para depois se transformar em mortais arcos e flechas. Sensacional. Foi a segunda vez que Clowns de Shakespeare participam do Cena Contemporânea. Foi a segunda vez que os vi. Ambas, os achei muito bons. Como eles tem 12 espetáculos em seu portfólio, espero poder vê-los mais vezes. O 12º Cena Contemporânea começou com o pé direito. A seguir, fotos do espetáculo, feitas por mim.
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