Cheguei de São Paulo no domingo no meio da tarde. Foi o tempo de buscar Getúlio, ir para casa, desfazer a mala, tomar um banho para acordar e seguir na maratona do Cena Contemporânea 2011, já que não pude ver nada na sexta-feira (26/08 - dia 4) e no sábado (27/08 - dia 5). No domingo, tinha ingresso (R$ 16,00 a inteira) para a peça Ivan e Os Cachorros, encenada no Teatro da Caixa, cuja sessão tinha horário de início às 20 horas. O teatro estava bem cheio. O texto é de Hattie Naylor e nos conta a história real de um garoto, Ivan, que fugiu de casa, pois não conseguia conviver com as constantes brigas entre sua mãe e seu padrasto, além da violência física e psicológica que ele sofria. Foi viver nas ruas de Moscou, em plenos anos 90, na companhia de cães, até que um dia ele foi recolhido para viver em um orfanato. A direção da versão brasileira, já que a peça estreou em Londres, é de Fernando Villar, conhecido na cidade por seus trabalhos no teatro e como professor na Universidade de Brasília. No palco, apenas o ator paulistano Eduardo Mossri, que interpreta Ivan. A cenografia é limpa: um telão ao fundo, que passa desenhos lúdicos, com traços infantis, dos cães que fizeram companhia ao garoto em sua vida nas ruas, um banco de madeira branco que servia como mesa, esconderijo, assento, entre outros objetos, dependendo do que era encenado e dois suportes de madeira, um de cada lado do tal banco. O da esquerda sustentava um gravador de fita de rolo e o da direita uma mesa de luz. Todo o trabalho de controle do som e da iluminação em cena coube ao próprio ator. O texto é bom, mas o que mais chama a atenção é o trabalho do ator. Um trabalho visceral, onde corpo, expressões faciais, voz são sincronizados perfeitamente, refletindo os momentos aflitivos e de felicidade por que passou Ivan. No início, tive dificuldades de compreender certos trechos da fala de Mossri, especialmente quando ele estava mais eufórico, mas meu ouvido foi acostumando com o ritmo e com a intensidade do seu falar, chegando ao final com compreensão perfeita da história. Todo o trabalho do ator, tais como gestos, marcação no palco, timing para a luz e para o som, mostram a excelente direção de Fernando Villar. Mesmo que a história fosse chata, e ela não é, já valeria a pena ver a peça, pois nos possibilita vivenciar uma perfeita sinergia entre interpretação e direção. Ao final dos 65 minutos de encenação, aplausos calorosos pelo belo espetáculo. Gostei muito.
Faço aqui um adendo. Pode parecer que não estou prestigiando as peças de Brasília, mas já vi quase todas que integram a programação do Cena Contemporânea deste ano, algumas delas já tendo resenhas neste blog. Assim, já havia visto antes:
Pulsações (Teatro do Instante) (para ler o post, clique aqui)
Bacantes e Brincantes (O Hierofante Cia de Teatro)
Diário de Um Louco (Transe Teatro)
Uma Última Cena Para Lorca (Teatro Caleidoscópio)
Heróis, O Caminho do Vento (Grupo Cena) (para ler o post, clique aqui)
Ultrapassa (Cia.Nós no Bambu) (para ler o post, clique aqui)
A Despedida (Chang Produções)
Danaides (Basirah)
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