Segunda noite do 12º Cena Contemporânea. Ingressos para duas peças. A primeira no Teatro I do CCBB, com ingresso custando R$ 15,00 a inteira. Marcada para ter início às 18 horas, cheguei bem antes. Tempo para um lanche no Café Cristina Roberto, em frente à entrada do teatro, e tentar colocar a leitura de jornais em dia. Meu assento era na primeira fila, cadeira do meio, visão privilegiada. A peça é Rá!, texto, direção e atuação do ator cearense Ricardo Guilherme. A sessão é solene, pois o homenageado do festival está presente: B. de Paiva, a história viva do teatro brasileiro. Com quinze minutos de atraso e pouco público, as cortinas se abrem. No palco, apenas uma cadeira, um microfone de pé e um pedestal. A entrada de Ricardo Guilherme é triunfal. Ele preencheu todo o espaço cênico com sua presença. Apenas o olhar e a boca já dominam a atenção da plateia. Ele se senta na cadeira e começa uma leitura dramática de seu texto. Ao término de cada folha, ele a joga no chão, colocando mais ou menos energia neste jogar conforme exige o texto. À medida que o tempo passa, a leitura é parte integrante da interpretação, cabendo improvisações, mas nunca deixando o que está escrito de lado. Olhares, trejeitos, expressões faciais fortes, vozes diferentes, mãos para cima e para baixo, sempre sentado. Em cerca de setenta minutos, Ricardo Guilherme conta a história de Waldemar Garcia, encenador, cenógrafo, pianista, aderecista, pintor, maquiador, enfim, um faz tudo, que saiu do Crato, se mudando para Fortaleza para marcar uma época no teatro cearense e formar importantes nomes da cena teatral brasileira como B. de Paiva, Aderbal Freire-Filho e ele próprio, com prêmios acumulados ao longo dos anos. Ao contar a história de Waldemar, ele conta um pouco de sua própria história e a de B. de Paiva. Ricardo Guilherme nos fez rir, nos emocionou, nos furtou lágrimas, nos proporcionou um momento único, lindo, mágico, uma aula de teatro. Ele mostrou a força que um ator pode ter em cena, se utilizando de pouquíssimos elementos cenográficos. Foi emocionante. Aplaudido de pé por vários minutos ao final da peça. Este espetáculo ficará para sempre em minha memória afetiva. Um dos grandes momentos de todas as edições do Cena Contemporânea. Finda a peça, Guilherme Reis, o coordenador geral do festival, sobe ao palco parabenizando a excelente performance de Ricardo Guilherme, pedindo que B. de Paiva, o homenageado do Cena, subisse ao palco do Teatro I do CCBB. Reverenciado com flores e aplaudido de pé pelo público, B. de Paiva, com sua já característica vivacidade quando fala sobre o teatro brasileiro, contou algumas passagens de sua vida no Ceará, no Rio de Janeiro e em Brasília, mostrando com documentos o que nos contava. Parabéns aos responsáveis pelo Cena Contemporânea por esta justa homenagem a B. de Paiva, que completará 80 anos em 2012, como ressaltou em sua fala. Parabéns ao Cena por incluir Rá! na programação do festival deste ano. Quando li o título da peça, logo associei à saudação cósmica, inventada por Thomaz Morton como uma maneira de atrair energia positiva e muito utilizada por artistas no início dos anos 90, mas Rá!, neste texto de Ricardo Guilherme, reproduz a famosa gargalhada de Waldemar Garcia. Show! Uma pena que o público não tenha comparecido em peso nesta sessão.
Ricardo Guilherme, B. de Paiva e Guilherme Reis
B. de Paiva, o homenageado do 12º Cena Contemporânea em fala no Teatro I do CCBB
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