Nas galerias da Caixa Cultural, em Brasília, há quatro exposições. Uma delas, a que ocupa o maior espaço, é Transit - Sindika Dokolo Coleção Africana de Arte Contemporânea. Está em exibição desde 06 de outubro, ficando até 18 de novembro, com entrada gratuita. As obras, todas de artistas africanos, pertencem à Fundação Sindika Dokolo, sediada em Angola. O recorte do acervo desta fundação que chega a Brasília já passou por Salvador, Bahia, onde esteve em exibição no MAM de março a abril deste ano. São vídeos, instalações, fotografias e vestimentas que não só nos mostram beleza, mas também nos fazem refletir sobre o mundo globalizado. A maioria das obras é concentrada nos vídeos, dispostos em duas paredes, frente a frente, onde uma série de monitores de televisão nos convida para colocar o fone de ouvido e apreciar a obra em movimento. Alguns possuem estética de desenho animado, muito interessantes. Mas o que me chamou mais a atenção foram três obras. A primeira delas é "L'Initiation", de 2004, do artista de Mali, Abdoulaye Konate. Trata-se de um grande painel de tecido onde, em retângulos verticais, há uma silhueta humana. Dentro de cada silhueta, uma visão particular do artista sobre alguns países do mundo e abaixo desta figura, alguns símbolos que traduzem esta visão. A visão para a China é provocativa, pois a silhueta está dividida ao meio, enquanto a bandeira chinesa preenche o espaço das duas metades. Soma-se a isto o fato de que os chineses invadiram, comercialmente falando, o continente africano. Fiz a leitura de que o artista vê a China dividida entre os mundo capitalista e o comunista, ainda mais quando levamos em consideração que entre os países retratados na obra estão os Estados Unidos, o Japão e Israel. Este último, em um visão bem sombria, com a cor negra preenchendo toda a silhueta. A segunda obra a me chamar a atenção foi o tríptico fotográfico "Le Principe de La Faim Nº 4", 1997, do artista de camaronês Bili Bidjocka. As fotografias retratam um monte de bananas em forma de um elegante vestido longo. Na primeira foto, as bananas estão maduras, amarelas, prontas para o consumo, mas não o são, passando por um estágio de decomposição, retratadas nas fotos 2 e 3, quando elas ficam totalmente negras. Uma dura crítica à falta de perspectivas para a fome na África, representando que com o valor de um vestido de grife, pode-se comprar uma quantidade grande de bananas. Uma imagem metafórica que dá um soco no estômago da gente. Momento reflexão total durante a minha passagem pela exposição. A terceira obra que chamou minha atenção ocupa toda a parede do fundo da sala, à direita de quem entra. De longe, vemos uma sombra na parede branca que nos faz lembrar o skyline de New York. A sombra é proveniente de dezenas de caixas de som, de variados tamanhos, que estão colocadas um pouco à frente da parede. Uma luz branca posicionada em frente das caixas é a responsável pela projeção da sombra atrás delas. Para completar, sons das ruas de Manhattan saem destas caixas de som. Assim, ouvimos barulho do trânsito, do metrô, entre outros. A vídeo-som instalação data de 2006, cuja autoria é do marroquino Mounir Fatmi, que deu a ela o sugestivo nome de "Save Manhatten 03". O curioso é que a obra foi feita após o atentado de 11 de setembro, mas a sombra das torres gêmeas ainda permanece intacta. Ao todo são dezesseis artistas africanos que representam os países Mali, África do Sul, Camarões, Angola, Quênia, Marrocos, Nigéria e Argélia. Conhecia poucas obras de artistas africanos. Acho que os vi apenas representados em exposições em uma ou duas Bienais de São Paulo. Achei providencial esta oportunidade de ver obras de artistas contemporâneos africanos em Brasília, especialmente para ver e entender o que cada um vem produzindo, mostrando que a linguagem da arte atual segue a globalização, mas tem um toque especial, um toque regional, uma necessidade de manter uma tradição, um olhar diferenciado sobre todo um continente. Gostei muito e recomendo.
artes plásticas
exposição
Nenhum comentário:
Postar um comentário