Estava jantando no restaurante
Casa de Lisboa, em Salvador, Bahia, com Ric, Emi, Rogério, Marcelo e Cris, na
noite de sábado, dia 24 de novembro. Era um jantar de despedida de uma semana
intensa de programações na capital baiana. Noite quente, mas agradável, com
leve brisa. Não tínhamos reserva no restaurante, mas havia uma mesa disponível na varanda
externa, com vista para a rua, onde resolvemos ficar, apesar dos protestos de
Emi, que queria ficar em ambiente com ar condicionado. Minha garganta não
estava muito boa, pois a semana inteira me sujeitei a ficar em ambientes fechados,
a maioria deles com o ar condicionado no talo de tão frio. Bati o pé para
ficarmos do lado de fora e ficamos. Emi ficou contrariado no princípio, pois
reclamava do calor. Como tínhamos caminhado do hotel até o restaurante, o corpo
ainda estava quente da caminhada. Assim que nos sentamos e uma leve brisa
soprou, algo intermitente, o calor forte foi se esvaindo. Emi reconheceu mais
tarde que a temperatura estava agradável. Ficamos bebendo um vinho branco,
apesar de eu não ser fã deste tipo de vinho, e apreciando as delícias do cardápio
do restaurante especializado na culinária portuguesa, como o próprio nome do
local sugere. Quando já tínhamos finalizado o jantar, ouvimos um grito de uma
mulher vindo do gazebo do restaurante, que era separado da varanda por um
anteparo de treliça com trepadeiras naturais. Ric comentou que devia ser alguma
barata, já que o calor faz com que elas saiam da toca durante a noite. O tão
temido inseto passou a ser tema da nossa conversa, com cada um contando suas
experiências. Nunca entendi o medo que uma barata provoca em muitas pessoas,
especialmente nas mulheres. Um bicho inofensivo, que nem picar ou morder
consegue. Sei que é nojento, pois passeia por esgotos e lixo, mas é fácil de
matar. Já presenciei escândalos memoráveis cujo epicentro era uma barata.
Escândalos protagonizados por mulheres e homens. Ric disse que tem medo de
barata e corre léguas quando uma aparece. De repente, um inseto voou sobre
nossa mesa e foi direto na direção onde Ric estava sentado. A princípio pensei
que era uma destas borboletas que procuram a luz e ficam cegas em volta de uma
lâmpada. O inseto bateu asas e pousou na boca de Ric, tentando entrar. Era uma
barata. Ele deu um pulo da cadeira, colocou uma das mãos tampando a sua boca,
enquanto abanava a outra, afastando um inseto que não mais estava lá, pois tinha
pousado no chão. Uma mulher que estava na mesa ao lado gritou para ele matar a
barata, mas Ric estava cego e surdo. Apenas pulava, gritava e ficava vermelho.
Todos riam na mesa e eu fiquei apoplético vendo aquela cena teatral. O pior é
que, passados quase dez minutos do episódio, Ric ainda estava de pé, respirando
ofegantemente e cuspindo muito, como se a barata ainda estivesse tentando
entrar em sua boca. Pensei que ele iria vomitar, pois tínhamos acabado de
comer. Fiquei mais surpreso ainda por saber que Ric é reservado, não gosta de
aparecer em público, e aquela barata o tirou do eixo. Ele não se importou se
tinha mais gente no local, algo impensável em se tratando de Ric. Gritava,
saltava, abanava a mão no ar e cuspia. Como diria Emi: um horror, um horror, um
horror. A barata sumiu, voltando ao seu mundo escuro, talvez preparando uma
nova surpresa para outro ser humano. Nós ainda rimos muito da situação. Ric
acendeu um cigarro para tirar um gosto imaginário deixado pelo inseto em sua
boca. Pagamos a conta e voltamos para o hotel. Claro que o assunto foi a
barata.
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