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segunda-feira, 30 de julho de 2012

GABY AMARANTOS


Saí correndo da Funarte, onde vi o ótimo espetáculo Luís Antônio-Gabriela, em direção à Praça do Museu Nacional da República, ponto de encontro do Cena Contemporânea e local do show de Gaby Amarantos. Ric já me esperava com as pulseiras de acesso à área próxima ao palco, cortesia de nossa amiga da produção do festival. Apenas esperamos Fabíola, uma amiga do trabalho, para entrarmos na área reservada. Uma multidão já se espremia na grade que separava a área em que ficamos do público. Quem ficou na grade estava muito próximo do palco. O show integrava a programação do Latinidades - Festival da Mulher Afro-Latina-Americana e Caribenha, em parceria com o Cena. Eram pouco mais do que 23:30 horas quando anunciaram a cantora paraense. No palco, sua banda, composta por cinco instrumentistas e duas backing vocals. Gaby entrou com figurino desenhado pelo estilista Walério Araújo, todo preto, com alguns detalhes em dourado, além dos penduricalhos de fibra ótica, comuns nos trajes da cantora. De longe, a roupa parecia ser toda negra, mas quem estava perto, percebia que a blusa, transformada em uma espécie de mini macacão, era uma destas camisetas de malha com estampa da banda de heavy metal Iron Maiden. Não foi à toa que algumas taxas douradas, típicas dos metaleiros, foram aplicadas nos ombros da camiseta. Uma saia com uma calda longa, na qual ela pisou algumas vezes, mas sem perder a pose em nenhum momento, ficava por cima da blusa. Na parte da frente da saia, que era mais curta, saíam fios de fibra ótica, com luzes nas pontas, como se fossem tentáculos de um polvo. Como colar, no estilo de figurinos dos filmes de ficção científica da década de sessenta, mais fios de fibra ótica. Meias pretas que cobriam as pernas por inteiro e uma sapatilha preta com detalhes dourados completavam o figurino. Ela entrou poderosa, cantando de cara uma canção que foi sucesso na voz de Clara Nunes, Canto das Três Raças. Tudo a ver com o tema do festival Latinidades. Depois desta canção, falou um pouco sobre sua origem, em Jurunas, bairro da periferia de Belém, de seu orgulho em ser negra e não ter o padrão de corpo esbelto ditado pela sociedade. Foi um delírio da plateia que já estava nas mãos de Gaby desde a sua entrada no palco. Em seguida, vieram os sucessos Faz o T, com a galera acompanhando na coreografia de braços, Xirlei, a canção que mais gosto, e Ela Tá Beba Doida, cujo refrão era cantado em plenos pulmões pelos milhares de fãs presentes, incluindo uma alegre e ruidosa turma de jovens paraenses que se espremiam na grade e gritavam o nome de Gaby a todo o instante. Muito solta, Amarantos deu seu recado, cantando o que gostava, tanto músicas de seu repertório, quanto sucessos nacionais e internacionais (estes em versões bem humoradas). Assim, ela cantou  Vem Dançar Com Tudo, tema de abertura da novela Avenida Brasil, dançando o kuduro no palco, Ainda Bem, sucesso de Marisa Monte, em versão dançante ao ritmo do tecnobrega, Tchê Tcherê Tchê Tchê, sucesso de Gusttavo Lima, Fogo e Paixão, mega hit de Wando, também cantada em uníssono pela plateia, e versões hilárias, entre outras, para Loka, de Shakira, e Ring My Bell, sucesso da era disco na voz de Anita Ward, onde o refrão "ring my bell" se transformou em "eu não vou pro céu". Quando chegou a hora de cantar seu maior hit, Ex-Mai Love, tema de abertura de Cheias de Charme, ela dedicou a canção a uma das atrizes da novela, Chandelly Braz, que estava presente na área reservada, juntamente com os atores Samuel Toledo e Igor Angelkorte, parceiros de elenco da peça (Des)conhecidos, além de músicos da banda brasiliense Móveis Coloniais de Acaju. A coreografia de  braços como folhas de palmeiras ao vento dominou o público durante a música Ex-Mai Love. Galera da Laje e Chuva, duas outras canções que estão no cd Treme, foram cantadas após insistentes pedidos da turma paraense que estava atrás de mim. Outro pedido atendido foi Hoje Eu Tô Solteira, versão para o sucesso Single Ladies (Put A Ring On It), de Beyoncé, quando ela disse que tinha muito orgulho de ser comparada à cantora americana, sendo chamada de Beyoncé do Pará, mas que ela era Gaby Amarantos do Pará. Nova explosão da galera. Antes de começar a cantá-la, Gaby tirou a saia, deixando à mostra seus atributos que fazem jus à comparação. Com quase duas horas de show, ela se despediu do público, dizendo que voltaria em uma semana para a estreia do projeto Invasão Paraense no CCBB, que seu disco estava à venda nas lojas especializadas, livrarias, no iTunes e na internet para quem quisesse baixar, mostrando que não se importa muito com os downloads gratuitos e piratas que imperam na rede. Ela afirmou que o importante era que as pessoas ouvissem sua música e ficassem felizes. Saiu do palco, mas logo voltou, calçada com uma sandália Crocs todo cheia de purpurina dourada, repetindo dois de seus sucessos: Ex-Mai Love e Xirlei. Foi um show alegre, alto astral. Diversão máxima.






show
música

domingo, 29 de julho de 2012

LUÍS ANTÔNIO-GABRIELA - CENA CONTEMPORÂNEA

No sábado fui ver mais uma peça do festival Cena Contemporânea. Desta vez na Sala Plínio Marcos do Complexo Cultural da Funarte. Como não havia assento marcado, cheguei meia hora antes para garantir um bom lugar. A fila já estava grande. A porta do teatro foi aberta exatamente na hora que estava previsto para ter início o espetáculo, mas o atraso não foi grande, pois o público rapidamente se acomodou e os seis atores da Cia Mungunzá de Teatro, radicada em São Paulo, já estavam em cena, juntamente com dois músicos. Eles faziam alguns exercícios de aquecimento de voz e corpo. Quinze minutos e a peça Luís Antônio-Gabriela teve início. Argumento, dramaturgia e direção cabem a Nelson Barkerville. O elenco é formado por Marcos Felipe, Lucas Beda, Sandra Modesto, Verônica Gentilin, Virgínia Iglesias e Day Porto. Para contar uma parte de sua própria vida, o diretor Baskerville utiliza uma mistura de teatro,  dança, música e projeções de vídeo. É, na verdade, uma espécie de documentário encenado, onde nada tem muita cor, predominando os tons cor de pele, preto e palha. O diretor narra a história de seu irmão mais velho, Luís Antônio, e a relação que ambos tiveram até se separarem para sempre. A história é narrada pelos seis atores, que se apresentam com seus verdadeiros nomes informando à plateia os personagens que irão interpretar. Duas personagens se sucedem na narrativa, desde o nascimento, da infância de Luís Antônio e de Nelsinho (o diretor). A história é triste, mas esta tristeza não é usada para deixar o público sensível e pendente para este ou aquele personagem. O público fica um tanto quanto hipnotizado com a história de vida de Luís Antônio, um garoto que tinha trejeitos femininos desde pequeno, que violentou Nelsinho, seu irmão mais novo, foi vítima de violência familiar, em época que se acreditava curar a homossexualidade com porrada, foi expulso de casa, viveu um tempo com os avós, para, enfim, ganhar as ruas, convivendo com drogas e prostituição em Santos, até se mudar para Bilbao, Espanha, no início da década de 80, onde se transformou na travesti Gabriela, chegando a fazer sucesso com dublagens nas boates da cidade. Fica muito doente, vítima da aids, e recebe, após um longo período, a visita de sua irmã, morrendo sozinho no hospital. Os atores dançam, cantam, manejam a iluminação, as câmeras de vídeo, e montam e desmontam o cenário ao longo dos cerca de noventa minutos de duração da peça. A música é executada ao vivo, tanto por dois músicos quanto pelos atores, que também tocam alguns instrumentos em cena. Há muitas cenas interessantes, como a briga familiar em um domingo dentro de uma Rural (nem me lembrava deste carro mais), da dublagem de Gabriela com uma roupa feita com plástico, ou da visita de Gabriela e sua irmã, Maria Cristina, ele muito doente, em uma exposição no Museo Guggenheim, quando várias telas pintadas pelo artista plástico Thiago Hattner são abertas pelos atores (elas estavam o tempo inteiro enroladas e penduradas no teto. Para abrí-las, eles puxaram uma corda), todas retratando travestis. Uma das telas é toda preta, em frente a qual o ator Marcos Felipe, intérprete de Luís Antônio-Gabriela, se posiciona em pose que remete a mais um quadro da mostra no museu. Sua expressão é de alegria e de tristeza simultaneamente, como se fosse um adeus à vida, mas com uma pose em "fotografia" eternizada em uma pintura. Todo o elenco é muito bom, com performances precisas, mas Marcos Felipe é o grande nome da peça. Sua interpretação não dá um ar jocoso ao homossexual, mas transmite toda a sua afetação durante o espetáculo. Ao final, com as luzes apagadas, apenas um display fica ligado no qual o diretor Baskerville pede desculpas publicamente ao irmão por não tê-lo compreendido na época e por não tê-lo encontrado mais depois que ele se mudou do Brasil. Aplausos longos e calorosos para um ótimo espetáculo. Foi a última peça que vi nesta edição do festival e gostei muito. Mesmo tendo achado Apple Love a pior apresentação que já vi em todas as edições do festival, o Cena Contemporânea 2012 teve uma das melhores programações de sua existência, com peças de altíssimo nível como Estamira, Beira do Mundo; (Des)conhecidos e Luís Antônio-Gabriela. Infelizmente não vi Mi Vida Después, da argentina Lola Arias, peça bastante comentada nas rodinhas nos teatros e no ponto de encontro do festival na praça do Museu Nacional da República. Não se consegue ver tudo. Que venha 2013!

teatro

LA BEAUTÉ DU DIABLE - CENA CONTEMPORÂNEA

Na noite de sexta-feira fui conferir mais um espetáculo do festival Cena Contemporânea. Sessão de 21 horas com o teatro bem cheio. Mais uma vez o cheiro de mofo e poeira da Sala Martins Penna do Teatro Nacional Cláudio Santoro se fez muito presente, potencializando as tosses na plateia, comuns nesta época do ano, com a secura de Brasília. La Beauté du Diable é solo de dança, concebido, coreografado e interpretado pelo artista Koffi Kôkô, africano do Benim. Em cinquenta minutos de espetáculo, ele dança em um palco seco, apenas com um objeto vestido com uma roupa colorida colocado no canto esquerdo e uma bacia com tinta branca. A música é executada ao vivo por um trio de percussionistas. Cânticos africanos são entoados em alguns momentos do espetáculo. O bailarino começa com passos suaves, sem música, em movimentos marcados e precisos, mas muito leves. Kôkô parecia flutuar. Os passos vão se modificando, se acelerando, depois que há um "diálogo" entre o bailarino com o tal objeto colorido, que me pareceu representar uma divindade/entidade. O palco, então, faz as vezes de uma espécie de terreiro, onde o dançarino vai entrando em um transe, pintando seu rosto, seus braços e seu tronco com a tinta branca que estava na bacia. Sua expressão facial demonstra que ele está incorporado e serve de elo entre duas entidades, uma espécie de mensageiro entre deus e o diabo, como está na sinopse escrita no catálogo do festival. Depois que se pinta, ele veste um  paletó branco, completando o figurino, pois já estava com uma calça também na cor branca. Uma dança frenética ocorre em todos os espaços do palco, marcada pelo ritmo crescente da percussão. Então, o dançarino se posta no lado oposto do objeto colorido e transmite a mensagem que lhe foi confiada. Sua tarefa estava cumprida. Era chegada a hora de voltar e festejar. Para tal festejo, um recurso cênico simples, mas de grande impacto visual, pois ele tirava dos bolsos de seu paletó bocados de pó branco e o jogava por cima de seu corpo. Com a iluminação, o efeito ficou bonito e permitiu algumas leituras, como a já citada comemoração ou a purificação do mensageiro. Kôkô utiliza elementos da dança clássica, da dança moderna, de gestos próprios do flamenco (braços erguidos com os dedos apontando para algum lugar, na pose clássica de um toureiro antes de abater o touro) e de passos dos rituais religiosos africanos. Ao final, ele foi muito aplaudido pelo público presente. Gostei de ter visto um espetáculo de um país que jamais imaginaria ver.

dança

sábado, 28 de julho de 2012

GRAND CRU - GASTRONOMIA EM BRASÍLIA (DF)




Endereço: SHIS QI 9/11, Conjunto L, loja 6, Lago Sul, Brasília, DF.

Especialidade: culinária internacional, com cardápio enxuto, sob o comando do chef Marcelo Petrarca.

Quando fui: jantar do dia 26 de julho de 2012, quinta-feira. Chegamos por volta de 22 horas. Éramos quatro pessoas.

Serviço: o restaurante funciona dentro da importadora de vinhos Grand Cru, com suas mesas espalhadas no meio das muitas garrafas da adega. Também há mesas na varanda e em um deck externo, perto do amplo estacionamento. Há wi-fi liberado para os clientes, mediante solicitação de senha. Também há uma sala reservada, com uma mesa grande para encontros de grupos ou palestras sobre vinhos. O atendimento nas mesas é deficiente, pois nem sempre os garçons estavam atentos. Alguns pratos chegaram frios à mesa.

O que bebi: água sem gás Prata para acompanhar o vinho tinto uruguaio Pizzorno 2008 (R$ 98,00), produzido com a uva tannat, tendo 13,5% de álcool. Vinho potente, harmonizou bem com o magret de pato, mas não foi feliz com a bruschetta.

O que comi: recebemos como cortesia do chef um potinho com um delicioso e quente caldo de batata baroa, ótima pedida para o frio que estava fazendo na ocasião. De entrada, dividimos uma porção (quatro unidades) de bruschetta (R$ 28,00), indicação do chef, que veio até a mesa nos cumprimentar. O recheio das bruschettas consistia de queijo de cabra, tomate cereja e pesto de salsinha. Levadas ao forno, as bruschettas chegaram quentes, com delicioso perfume, pão saboroso e recheio perfeito. Deu vontade de repetir a dose, mas também tinha na mesa uma outra entrada, um prato com ceviche, com robalo marinado no limão, manga por ficar madura cortada em lâminas, ainda com gostinho de verde, e coalhada. Embora o suco do ceviche estivesse bem cítrico, a colhada e a manga ajudaram a quebrar a acidez excessiva. Uma boa opção para petiscar bebendo um espumante, o que não era nosso caso. A relação dos pratos principais está disposta em um porta retrato trazido à mesa pelo garçom. Eram cinco opções: camarão, pato, filé mignon, peixe (pargo) e mini polvo. Fiquei na dúvida entre o pato e o polvo. Optei pelo primeiro, mas ganhamos uma pequena amostra do polvo, já que meu amigo também ficou em dúvida entre ele e os camarões, optando pelo segundo. O magret de pato é servido em um prato retangular de porcelana branca e vem escoltado por um risoto de figo fresco (R$ 69,00). Chegou frio à mesa, o que prejudicou o sabor, já que pato e risotos frios não descem bem. No entanto, estavam bem feitos e com bom tempero. Uma pequena vasilha com os mini polvos grelhados esteve à disposição na mesa, mas apenas eu e um dos amigos presentes nos servimos. Achei bem melhor do que o pato, mas não houve harmonia com o vinho que escolhi para a noite. De sobremesa, pedi uma cartola (R$ 17,00), ou seja, banana, canela, açúcar, queijo maasdam, calda de chocolate e sorvete de baunilha. A releitura do chef para esta sobremesa comum em Pernambuco é bem diferente da receita original. Enquanto na receita conhecida a banana é levemente frita, o queijo passado na chapa, com açúcar e canela polvilhado por cima e rapidamente gratinado para o queijo coalho derreter, sem chocolate e/ou sorvete, foi servido uma banana cortada em lâminas, com o queijo maasdam por dentro dela, como se fosse um sanduíche, sem passar pelo fogo, com canela, açúcar e calda de chocolate como cobertura. Estava muito boa, mas prefiro ela em sua versão tradicional.


caldo de batata baroa


 bruschetta


magret de pato com risoto de figos frescos


mini polvos grelhados


cartola

Valor total da conta: R$ 516,00.

A avaliação a seguir leva em consideração a experiência por mim vivenciada durante a minha visita ao restaurante, desde o momento da reserva (quando há), passando pela recepção, acomodação na mesa, atendimento, tempo de chegada dos pedidos, até o pagamento da conta. Esta avaliação varia de um a cinco asteriscos, representados pelo símbolo (*), podendo ter a variação de meio asterisco, representada pelo formato (1/2).

Minha avaliação: * * *. Um bom lugar para ir petiscar as entradas, bebendo um dos ótimos vinhos vendidos no local.

Gastronomia Brasília (DF)

sexta-feira, 27 de julho de 2012

(DES)CONHECIDOS - CENA CONTEMPORÂNEA


Após a decepção com Apple Love, assisti a uma excelente peça no Teatro II do CCBB na noite de quinta-feira, sessão de 19:30 horas. Não tinha ingresso, mas na saída do teatro na noite anterior, uma amiga me presenteou com dois ingressos para ver (Des) Conhecidos, da Probástica Companhia de Teatro, residente na cidade do Rio de Janeiro. Como fui só, dei o ingresso que estava sobrando para a primeira pessoa na fila de espera para ver a montagem carioca que acabou por abrir duas sessões extra tamanho o burburinho em torno dela e da propaganda boca a boca. O teatro onde ela é encenada é pequeno, comportando cerca de oitenta pessoas por vez. Há sessões no qual o texto é encenado por dois personagens masculinos, que formam um casal gay, e no qual o mesmo texto é interpretado por um casal heterossexual. Na noite de quinta era a vez da encenação gay. Direção e dramaturgia são de Igor Angelkorte que também atua ao lado de Samuel Toledo. Nas sessões com um casal hetero, Samuel cede lugar para a atriz Chandelly Braz. Dois músicos ficam em cena executando a trilha sonora instrumental ao vivo. O teatro ficou lotado, com público atento ao encontro amoroso entre dois homens. Dois caras se conhecem virtualmente e combinam um encontro em um bar para um primeiro contato real. Enquanto o público vai entrando e se acomodando no teatro, o ator Igor Angelkorte já está sentado em uma mesa de bar ao centro do teatro, enviando e recebendo mensagens pelo seu celular. Já era o início da peça, pois ele sempre está conectado, em contato com seus amigos virtuais. Ele espera alguém que não conhece, mas não se mostra ansioso. Com todos já acomodados, o ator sai de cena, como se fosse ao banheiro do bar, quando o ator Samuel Toledo aparece e se senta na mesma mesa, até que Angelkorte retorna e diz que já estava ocupando aquela mesa. No entanto, com o bar cheio, restou a Toledo pedir para ficar ali sentado até que uma mesa ficasse vaga. Ficam então conversando com ótimas sacadas, fazendo a plateia rir com as ironias e sarcasmos de ambos os lados. Em uma cena previsível, mas hilária e muito bem interpretada, cada um descobre que o outro que espera já está sentado na mesa. Toledo esperava Angelkorte e vice-versa. Afinal, eles se conhecem através de fotos e perfis nas redes sociais, nem sempre correspondentes com a realidade. A partir daí, se inicia um relacionamento entre os dois, com uma discussão que gira em torno de afeto, de amor físico, de fidelidade conjugal, de amor nos tempos cibernéticos. Isto tudo recheado com humor, com erotismo, com lindas cenas, especialmente a do ato sexual, num jogo de sombra e penumbra muito bem feito, dizendo tudo e mostrando pouco. Ao final de setenta minutos, muitos aplausos e a curiosidade para ver o mesmo espetáculo sendo encenado por um homem e uma mulher. Gostei muito.

teatro

quinta-feira, 26 de julho de 2012

APPLE LOVE - CENA CONTEMPORÂNEA

Teatro I do CCBB lotado na noite de estreia de Apple Love, integrante da programação do Cena Contemporânea 2012. Fila de espera para tentar comprar ingressos dos convidados que não compareceram. Muita gente do meio teatral da cidade nas poltronas do teatro. O atraso foi considerável para o início do espetáculo, quase meia hora. Acho que esperaram a peça que estava ocorrendo no Teatro II acabar, já que muitos que estavam nela também tinham ingressos para ver a companhia espanhola Cia Iker Gómez em Apple Love. A peça mistura teatro físico (textualmente lembrado pelo ator principal, Iker Gómez logo na primeira cena), dança contemporânea e vídeo, com direito a interação entre atores que apenas aparecem na tela com os atores/bailarinos da companhia que estavam no palco. Além de Gómez, os atores Rut Balbis, Gemma Galera e Maxime Iannarelli completam o grupo. O mote é o amor total e a busca por sua definição, feita por intermédio de nove estágios. Uma das cenas mais idiotas que já vi foi o estágio chamado Opera Pollo, com uma bailarina dançando, outra chorando em um canto do palco e uma galinha na tela observando a encenação. Outra parte de uma idiotice sem fim, pior que as piadas de mal gosto das peças tipo stand up comedy, foi o estágio em que os quatro atores ficam gemendo no palco, simulando o ápice de um orgasmo. Sofrível. A maçã é figura recorrente durante os sessenta minutos de duração, figurando no título, estando fisicamente compondo um dos cenários, aparecendo nas imagens dos vídeos ou na letra de uma canção que Ike dubla em cena. Fácil explicar esta onipresença, pois a maçã sempre foi ligada aos temas do amor, desde os tempos de Eva, passando pelos contos de fada, chegando a emprestar seu nome para uma iguaria muito comum em festas juninas, quermesses e espetáculos circenses no Brasil, a maçã do amor. Fica difícil, no entanto, de entender o motivo pelo qual outro elemento é  recorrente na peça, a galinha, que dá as caras na tela, assim como nas performances que os atores executam no palco. O que os galináceos tem em comum com os humanos em relação ao amor? Foi a pergunta que me fiz e que não consegui encontrar a resposta em Apple Love (ainda não sei a resposta!). Embora com algumas cenas engraçadas, o texto (se é que tem um) é sofrível, a coreografia é ruim, o figurino é meia boca, tudo revestido de um ar que resvala no brega, com inspirações nas telenovelas mexicanas com dublagens mal feitas (lembrei-me das novelas importadas pelo SBT), mas que não consegue superar o ar kitsch das fontes de inspiração. Para piorar a situação, quem estava na primeira fila sentia o forte cheiro de corpo suado sem banho que exalava do ator principal e fundador da companhia, especialmente quando ficou pulando corda no início da peça. Ao final, aconteceu algo que raramente presenciei nos teatros de Brasília: houve algumas vaias por parte do público presente. Muitos se levantaram e saíram da sala sem bater palmas. Parecia uma unanimidade do lado de fora, com expressões de reprovação e de descontentamento com o que viram. Fazia um bom tempo que eu não via algo tão ruim. Para esquecer!

teatro

quarta-feira, 25 de julho de 2012

TRABALHOS DE AMORES QUASE PERDIDOS - CENA CONTEMPORÂNEA

Na noite de terça-feira, dia 24/07/2012, compareci à decadente Sala Martins Penna do Teatro Nacional Cláudio Santoro para ver mais uma peça do festival Cena Contemporânea 2012. Trabalhos de Amores Quase Perdidos é o curioso título para texto e direção de Pedro Brício. Em cena, os atores Branca Messina, João Velho, Lúcia Bronstein e Pedro Henrique Monteiro. A peça tem dois atos. O primeiro é encenado na parte frontal do palco, com uma cortina azul fechada tampando o cenário do segundo ato, localizado na parte mais ao fundo. O texto brinca com o público, pois fica entre a ficção (com um quê de realidade) e o ensaio de uma peça que aborda o que se passa nesta ficção. Assim, um dos atores sempre esclarece ao público o que acontecerá no palco depois que o texto for encenado, dizendo frases  interessantes como "fulano está em pé no fundo do palco", ou "ciclano pega uma garrafa de champagne", enquanto os atores ficam sentados de frente para o público. Eles alternam, principalmente no primeiro ato, o mais longo, o ensaio e a encenação. Gosto das inovações de Pedro Brício e, mais uma vez, acho que ele acertou, pois a narrativa ficou dinâmica e prendeu a atenção do público. Em alguns momentos, parecia até um ensaio aberto. O texto também é muito bom, com discussões sobre o fim da juventude, já que todos os personagens estão entrando na casa dos trinta anos, quando sentem o peso das responsabilidades que chegam com o avançar da idade. Neste bojo estão os amores e desamores, as idas e vindas de paixões, a explosão carnal, o desejo sexual, os sonhos de jovens que querem um futuro promissor. Outro ponto interessante é a constante troca de papeis dos atores, com homens fazendo personagens femininas e mulheres fazendo as masculinas. Há, ainda, várias falas em espanhol, pois duas personagens são espanholas. Um ótimo diálogo é travado entre um brasileiro, falando o espanhol que todos os brasileiros que não estudaram a língua acreditam saber falar, e a espanhola, com pronúncia perfeita da atriz que a interpreta. Fica evidente que nosso portunhol está longe de ser parecido com o espanhol. Ao final de uma hora e vinte minutos a peça terminou, sendo bastante aplaudida pela plateia, mostrando que texto e atuação agradaram aos presentes. Foi a quarta peça da programação do Cena Contemporânea que assisti nesta edição e até agora gostei de todas. Mais um peça que nos leva a reflexão pós espetáculo.

teatro

terça-feira, 24 de julho de 2012

ASAS

Asas (Wings) foi o primeiro filme a ganhar o Oscar no longínquo ano de 1927. Produção americana dirigida por William A. Wellman, tem 138 minutos de duração, em preto & branco, e mudo. Tem como pano de fundo a Primeira Guerra Mundial, especialmente as batalhas aéreas entre americanos e alemães nos céus da França. Para dar um contorno romântico ao roteiro, um jogo amoroso está presente, em uma situação que se repete à exaustão em filmes hollywoodianos até os dias de hoje. Mary Preston (Clara Bow) nutre uma paixão secreta por seu vizinho Jack Powell (Charles "Buddy" Rogers), amante de carros e aviões, que, por sua vez gosta de Sylvia Lewis (Jobyna Ralston), que tem um romance com o milionário David Armstrong (Richard Arlen). Os dois mancebos acabam por se alistar na Aeronáutica e tornam-se dois importantes ases da aviação, pilotando aviões de guerra na luta contra os perigosos alemães. Inicialmente inimigos por causa de Sylvia, acabam consolidando uma bela amizade. Sylvia pouco aparece no filme, enquanto Mary Preston também se alista e vai para a guerra, servindo em Paris, onde se encontra com Jack totalmente bêbado nos salões do Folies Bergere, em uma das cenas mais interessantes do filme em termos de efeitos especiais, com borbulhas do champanhe saindo das taças, dedos, olhos, seios e vestidos das garotas, em situação de bebedeira do mocinho do filme. No mais, o enredo caminha para um final previsível, sendo bem fraquinho. O que vale são as cenas das acrobacias e batalhas aéreas. Há críticos que dizem que são as melhores cenas de combate nos ares já realizadas na história do cinema mundial. Pode não ser verdade, mas as cenas são bem feitas, especialmente se considerarmos a limitação da época. O diretor, um ex-piloto de avião de guerra, tendo lutado na Primeira Guerra Mundial, estava muito à vontade nas cenas de batalhas. Ainda há a presença, mesmo que rápida, de Gary Cooper, vivendo um aviador, o cadete White, que deixa uma mensagem para os novatos Jack e David antes de partir para seu último voo. No mais, filme fraco, que vale apenas por seu valor histórico de ter sido o primeiro laureado como o melhor filme na primeira festa da entrega do Oscar. A cópia do dvd da Continental está ruim, o que potencializa a necessidade de ter paciência para ver um filme mudo em suas mais de duas horas de duração.

filme

segunda-feira, 23 de julho de 2012

HOSTARIA DEI SAPORI - GASTRONOMIA EM BRASÍLIA (DF)



Endereço: SCLS 212, Bloco A, loja 4, Asa Sul, Brasília, DF.

Especialidade: culinária italiana, sob o comando do chef Gino. O slogan do restaurante é "la cucina italiana tradizionale" (a cozinha italiana tradicional).

Quando fui: almoço do dia 22 de julho de 2012, domingo. Cheguei por volta de 13:30 horas. Éramos duas pessoas.

Serviço: fomos recebidos por um dos proprietários, falando em italiano misturado com português. Muito simpático, se preocupou com nossa mesa o tempo inteiro em que lá ficamos. O garçom era muito gentil, explicando tudo que perguntávamos e não tendo medo de se informar com o proprietário quando tinha alguma dúvida. Há serviço de wi-fi mediante solicitação de senha. Taças de cristal para o vinho, como il fault. Os pratos chegaram rapidamente à mesa.

O que bebi: água com gás São Lourenço para acompanhar o vinho tinto italiano Rèmole 2010 (R$ 108,00), produzido com as castas sangiovese e cabernet sauvignon pela viníciola Marchesi di Frescobaldi na região da Toscana. Sabor marcante, harmonizou bem tanto com a entrada quanto com a massa que escolhi. Ao final, uma xícara de café descafeinado Segafredo Zanetti.

O que comi: pedimos como entrada uma porção de bruschetta (R$ 15,00). São três unidades servidas em uma porcelana branca, cada uma com um recheio vegetal diferente: berinjela, pimentões e tomate fresco. O pão estava muito macio, levemente tostado, o que deu um sabor diferenciado na iguaria italiana. Estava bom, mas prefiro quando o pão é mais crocante. Em seguida, veio o prato principal por mim escolhido. Não arrisquei. Já que a casa diz que pratica a lcozinha italiana tradicional, escolhi um spaghetti ala carbonara (R$ 29,00). Massa al dente, saborosa, recheada, na medida certa, com bacon picado, ovo e parmesão, além de pimenta do reino que também enfeita a borda do prato fundo no qual a massa é servida. Gostei, embora não tenha apreciado a pimenta do reino em pó "rondando" minha massa (não aprecio muito esta especiaria). Para sobremesa, seguindo uma recomendação que li no Foursquare, pedimos um tiramisù (R$ 15,00). Também pedimos um parfait de gengibre (laranja ao vinho com frutas frescas). Realmente o tiramisù é muito bom, um dos melhores que já provei. Já o parfait estava muito amargo, cujo sabor não conseguiu ser amenizado pelos pedaços de kiwi e pera que o acompanham. Se tivéssemos pedido dois tiramisù teria sido bem melhor.



bruschetta


spaghetti ala carbonara


tiramisù


parfait de gengibre

Valor total da conta: R$ 258,50.

A avaliação a seguir leva em consideração a experiência por mim vivenciada durante a minha visita ao restaurante, desde o momento da reserva (quando há), passando pela recepção, acomodação na mesa, atendimento, tempo de chegada dos pedidos, até o pagamento da conta. Esta avaliação varia de um a cinco asteriscos, representados pelo símbolo (*), podendo ter a variação de meio asterisco, representada pelo formato (1/2).

Minha avaliação: * * * 1/2. O local é aconchegante, com fotografias antigas enfeitando a parte mais alta das paredes, enquanto o restante é coberto com um pano colorido, parecido com uma chita. Vou voltar para um jantar, pois o local inspira.

Gastronomia Brasília (DF)

domingo, 22 de julho de 2012

MARCELO JENECI - FEITO PRA ACABAR


Com tantas opções no sábado, deixei de lado as programações de festivais de teatro e cinema que acontecem na cidade para ver o show de Marcelo Jeneci no Teatro Oi Brasília, pelo qual paguei R$ 70,00. Marcado para 21 horas, o espetáculo começou com vinte minutos de atraso. O teatro não estava lotado, mas recebia um bom público, a esmagadora maioria jovens na faixa dos vinte e poucos anos. Todos com celulares e máquinas digitais a postos. E show da nova geração da música brasileira é sem encanação, não há anúncios de que é proibido fotografar. Novos tempos, enfim. O palco tinha apenas os instrumentos do cantor e sua banda, com luzes e gelo seco fazendo o papel de cenário. Os quatro músicos que o acompanham entraram primeiro e quando tocaram os primeiros acordes de Copo d'Água, Jeneci e Laura Lavieri, a vocalista que o acompanha o tempo inteiro no palco, entraram em cena. A canção é animada e antenada com a nova geração, já que menciona redes sociais que fazem parte do dia a dia da galera (e da minha também). Por falar em redes sociais, muita gente tirava foto e tentava postar imediatamente no Facebook (disse tentava porque o sinal das operadoras de celular no teatro não é bom, o que não é novidade para ninguém!). Em seguida, uma sequência de canções do cd lançado em 2010, Feito Pra Acabar, único registro solo do cantor até aqui. Desta forma, ouvimos Felicidade, Café com Leite de Rosas, Pra Sonhar, Dar-Te-Ei, Longe, Show de Estrelas, Pense Duas Vezes Antes de Esquecer, Por Que Nós? e Longe (não foi nesta ordem). Apenas três músicas do cd ficaram de fora do set list do show: Jardim do Éden, que algumas pessoas pediram ao final do espetáculo, mas não foram atendidas, Quarto de Dormir, que é a música do cd que mais gosto, e Tempestade Emocional. Em compensação, o cantor interpretou duas músicas de Roberto Carlos, dizendo que ele cresceu ouvindo as canções do rei. Li que recentemente ele fez um show em São Paulo e outro no Rio de Janeiro só cantando músicas de Roberto Carlos (atenção produtores de Brasília, queremos ver este show também!). Laura Lavieri emprestou sua bela e afinada voz para a canção O Astronauta, música que Roberto Carlos gravou em 1970, enquanto Jeneci interpretou Eu Te Amo, Te Amo, Te Amo, com direito a coro da plateia. Outra canção que entrou no set list, esta sim de autoria de Jeneci e Arnaldo Antunes, Alice Ruiz e Zélia Duncan, mas não gravada por ele, foi Borboleta, já gravada por Zélia Duncan. Com uma hora de show, todos deixam o palco para voltar em seguida, apresentando mais três canções. Enquanto Laura cantava Longe, Jeneci desceu do palco com sua sanfona, dando um passeio pela plateia, para delírio de quem estava no teatro. A última canção, com todos de pé em frente ao palco, foi a dançante Show de Estrelas. Show vibrante, com muita energia positiva, com uma banda afinada e em sintonia com os cantores, que demonstraram muita felicidade em estar em Brasília fazendo aquele espetáculo.








show
música

sábado, 21 de julho de 2012

CONFRARIA VINUS VIVUS - 67ª REUNIÃO

A Confraria Vinus Vivus se reuniu pela 67ª vez no apartamento de Ricardo para degustar, às cegas, dois vinhos portugueses 100% touriga nacional produzidos nas regiões do Dão e do Douro, e dois vinhos espanhóis 100% tempranillo produzidos na região de Ribera del Duero. Mais uma vez não estávamos completos, pois André não pode comparecer. Foi a estreia de Keller no grupo, ocupando a vaga deixada por Rita. Noite fria, propícia para vinhos, bate-papo e um jantar. Foi o que fizemos em 19 de julho de 2012. Foi a reunião em que mais houve disparidades nas preferências dos confrades. Eis os vinhos degustados:

Vinho 1 - Pinteivera


Safra: 2009.
Álcool: 14,5%.
Casta: 100% touriga nacional.
Produtor: M. Chapoutier.
Região: Douro, Portugal.
Cor: rubi bem fechado.
Aromas: balsâmico com toques vegetais, violeta francesa, fermentação, gás carbônico. Quando descansou na taça, evoluiu para um café bem açucarado.
Boca: tem boa salivação, por causa da boa acidez, com taninos presentes, o que o faz um pouco amargo, mas sem ser incômodo no paladar.
Estágio: passa por barricas de carvalho, mas não há informação sobre o tempo que estagia nelas.
Harmonização: carnes cozidas, goulash, cordeiro assado.
Importador: Mistral.
Valor: R$ 125,00.
Observações: fermenta em tanques de cimento cru. Recebeu 94 pontos de Robert Parker.
O preferido da noite por Fernanda e Keller.


Vinho 2 - Alenza Gran Reserva


Safra: 2001.
Álcool: 14%.
Casta: 100% tempranillo.
Produtor: Bodegas Condado de Haza.
Região: Ribera del Duero, Espanha.
Cor: rubi, com leves reflexos granada na unha.
Aromas: baunilha, couro, compota de frutas, charuto, animal.
Boca: tem leve adstringência, taninos presentes, mas gostosos, redondo, mostra-se com uma pequena doçura no paladar.
Estágio: 23 meses em barricas de carvalho.
Harmonização: cordeiro, carnes mais pesadas. Excelente vinho para "meditação".
Importador: Mistral.
Valor: R$ 375,00.
Observações: só é produzido em safras excepcionais, como é o caso do ano 2001. Recebeu 93 pontos de Robert Parker.
O preferido da noite por Cláudia, Ricardo e Marcos. Foi o campeão da degustação.


Vinho 3 - Figuero Noble


Safra: 2005.
Álcool: 14,5%.
Casta: 100% tempranillo.
Produtor: Viñedos y Bodegas Garcia Figuero.
Região: Ribera del Duero, Espanha.
Cor: rubi bem escuro.
Aromas: tangerina, cítrico doce, romã, defumado. Quando descansou em taça, evoluiu para uma bala de caramelo.
Boca: ácido, salivando bem a boca. Retrogosto de chocolate amargo, que permanece por um longo período.
Estágio: 21 meses em barricas, sendo 15 meses em carvalho americano e 6 meses em carvalho francês.
Harmonização: cordeiro.
Importador: Del Maipo.
Valor: R$ 536,00.
O preferido da noite por Vera e Bruno.


Vinho 4 - Quinta da Pellada


Safra: 2004.
Álcool: 13%.
Casta: 100% touriga nacional.
Produtor: Álvaro Manuel Albuquerque de Figueiredo e Castro.
Região: Dão, Portugal.
Cor: rubi bem fechado.
Aromas: mentol, hortelã, floral, herbáceo, melaço de cana.
Boca: deixa um certo amargor no paladar, mas não é incômodo. Intenso, longo, azedo-doce.
Estágio: 14 meses em barricas de carvalho.
Harmonização: carnes de caça, cordeiro assado.
Importador: Mistral.
Valor: R$ 265,00.
O preferido da noite por Leo e Abílio.

Ao final, o anfitrião nos ofereceu um belo jantar, harmonizado pelos mesmos vinhos degustados na noite, quando tivemos um pernil de cordeiro assado com molho de alecrim, escoltado por vagens fininhas e batatas, ambos cozidos, e com um molho levemente picante. Como sobremesa, tivemos torta de chocolate.

A 68ª reunião será em agosto com vinhos da casta cabernet franc, de preferência um rótulo por país. Assim, poderemos perceber as diferenças dos vinhos produzidos em países diversos.

vinho




VILLA Y DISCURSO - CENA CONTEMPORÂNEA

Mais uma noite de Cena Contemporânea. Mais uma peça a conferir. Escolhi a minha primeira atração estrangeira da programação, o programa dois em um chileno Villa Y Discurso, cuja dramaturgia e direção coube a Guillermo Calderón. Tive que sair correndo do trabalho para conseguir chegar a tempo no Teatro Eva Herz da Livraria Cultura do Shopping Iguatemi, pois a sessão estava prevista para começar às 20 horas, mesmo sabendo que o costumeiro atraso mínimo de quinze minutos iria ocorrer. Mesmo com lugar marcado, havia uma fila na porta do teatro. Conversas animadas sobre as peças já assistidas eram a tônica nesta fila. Estamira era uma unanimidade, todos falando muito bem. Permitiram a entrada exatamente às 20 horas. Fiquei na primeira fila, poltrona centralizada, com ótima visão do palco. O cenário era simples, com uma mesa de madeira ao meio sobre a qual estava uma maquete, três cadeiras ao redor da mesa e mais três em posições diferentes no tablado. Em cada uma destas cadeiras longe da mesa estava pendurado um casaquinho branco. Ainda havia uma mesa na lateral esquerda cheia de copos de vidro com água. No alto, uma projeção de legendas, já que a peça é falada em espanhol. Antes de entrar, a produção entregou uma folha com uma nota introdutória contextualizando a história chilena, especialmente a longa ditadura militar e a eleição da primeira presidenta da história daquele país, Michelle Bachelet. Antes do início, informaram que a primeira parte duraria setenta minutos e que todos deveriam sair da sala para o rearranjo do cenário, retornando em exatos dez minutos para a segunda parte, que duraria quarenta minutos. O teatro tinha muitos lugares vazios. Com vinte e cinco minutos de atraso, as atrizes Francisca Lewin, Macarena Zamudio e Carla Romero entraram em cena. Elas interpretam três Alejandras, integrantes de uma comissão que tem a função de decidir o que fazer com a Villa Grimaldi, local onde presos políticos eram torturados durante a ditadura Pinochet. A peça começa chata, mas vai melhorando e, a partir de sua metade, prende a atenção da gente. Mérito das atrizes, que tem uma forte sintonia em cena e interpretação certa, sem exageros, mostrando que Calderón tem uma direção precisa. A conversa das três gira em torno do que fazer em Villa, com defesas emotivas de cada proposta, de mudanças de opinião, de traços de uma esquerda que não existe mais. Diga-se, de passagem, que as três não sofreram diretamente os horrores do período Pinochet, mas tem uma relação com esta época. Além de temas conhecidos como alguns métodos de tortura utilizados, as discussões das três Alejandras nos permite fazer outras leituras. Uma delas é o método de discussão sem fim que entidades da sociedade civil utilizam para definir determinados assuntos, quando as pessoas defendem coisas que não necessariamente acreditam, que trazem à tona resquícios de uma época que não mais existe, além dos conchavos e intrigas que fazem entre si. Também se discute a existência de Deus. Outra leitura interessante, e mesmo jocosa, é a crítica que se faz à arte contemporânea, pois uma das propostas para a Villa é a construção de um museu. Ao final, as três vestem os casaquinhos brancos, deixando à vista de todos uma faixa presidencial. Ali elas fazem menção aos rumos que muitos do presos políticos tomaram na vida, entre eles uma que virou Presidenta da República. O texto é forte, mas o que me impressionou mais foi a interpretação fantástica das três chilenas, sem nenhuma se sobrepor à outra. Cada uma teve seu momento solo e o fizeram muito bem. Durante esta parte, o calor era quase insuportável dentro do teatro. Assim que terminou esta parte, saímos da sala. Muita gente procurava alguém da produção do festival para reclamar do calor, incluindo eu. Disseram que foi um pedido das atrizes para desligar o ar condicionado para não prejudicar a garganta, já que os diálogos eram muitos na peça (como elas tomam água durante a encenação!). Garantiram que daria para ligar o ar da plateia e deixar o do palco desligado, e assim o fizeram. Com exatos dez minutos de espera, abriram a sala novamente. Havia menos gente do que na primeira parte. As três atrizes já estavam em cena, sentadas em cadeiras à esquerda do palco. A mesma mesa da primeira parte foi deslocada para a direita e os muitos copos que estavam espalhados em Villa foram colocados em cima desta mesa ao redor da maquete. Quando houve o sinal para começar, as atrizes se posicionaram no centro do palco, postadas como em um jogral. Cada atriz tinha uma faixa presidencial, sendo uma na cor vermelha, outra azul e outra branca, cores da bandeira chilena. Elas interpretavam a mesma personagem, ou melhor, a Presidenta Michelle Bachelet em seu discurso de despedida do mandato presidencial. Obviamente que o discurso não é o verdadeiro. O texto reflete o pensamento de uma parte da população chilena que votou em Bachelet quando ela tentava a reeleição e não obteve êxito. Assim, o discurso tem questionamentos sobre o que não foi feito, sobre o sistema econômico, sobre a realidade de um país que vinha de anos de submissão ao poderio dos ianques, sobre frustrações, sobre futuro do país com novas forças o governando. O final é impactante, pois rememora o forte terremoto que o país sofreu justamente no final do mandato de Bachelet. Fica até uma reflexão: mesmo com toda a discussão em torno da existência de Deus, presente em ambas as partes da peça, o terremoto seria um sinal divino? Mais um bom espetáculo!

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sexta-feira, 20 de julho de 2012

GASTRONOMIA EM RECIFE (PE) - TIO ARMÊNIO


Endereço: Rua Padre Carapuceiro, 777, Boa Viagem, Shopping Recife, Recife, PE.

Especialidade: embora com forte influência da culinária portuguesa, há pratos de outras paragens, agradando a todos os paladares.

Quando fui: almoço do dia 16 de julho de 2012, segunda-feira. Cheguei por volta de 13:15 horas. Éramos duas pessoas.

Serviço: serviço rápido, típico de restaurantes localizados em shopping centers. Fica na Praça de Alimentação 2, onde não há área coletiva. Cada restaurante tem seu espaço, com garçons atendendo as mesas.

O que bebi: uma lata de água tônica Schweppes e um café expresso ao final, que estava muito forte, com sabor marcante de pó.

O que comi: deixei de lado as iguarias portuguesas do cardápio, como bolinhos de bacalhau e pratos com este famoso peixe da culinária dos patrícios para escolher um picadinho carioca. Com exceção das sugestões do dia, todas individuais, os pratos do cardápio podem ser escolhidos na porção 1/2 dose ou 1 dose, esta última serve bem duas pessoas, conforme explicou o garçom que atendeu a nossa mesa. Pedimos a porção generosa, ou seja, 1 dose. Rapidamente o prato chegou fumegante à mesa. Vem arroz branco, farofa de banana, filé picadinho em molho espesso feito da própria carne e ovo pochê, com a gema dura. Gosto deste prato e já comi melhores, com certeza, mas achei interessante o picadinho do Tio Armênio. Embora o arroz fosse totalmente sem graça, a carne estava bem temperada, macia e saborosa. O inusitado foi a farofa, pois eles fazem um purê de banana e o misturam com farinha. Diferente e gostoso. Quanto ao ovo, seria melhor se ele viesse com a gema mole. Já que tinha no cardápio, pedi como sobremesa pastéis de belém. São duas unidades, servidas em um prato pequeno, com açúcar temperado com canela ao lado, deixando o cliente colocar a quantidade que achar melhor. Preferi comer sem o açúcar. Estava com bom aroma. No entanto, não se pode chamar o que comi de pastel de belém, pois a massa é folhada, levemente salgada, como se fosse uma esfiha aberta, recheada com creme de nata. Estava bom, mas prefiro a receita que respeita a tradição desta famosa iguaria portuguesa.

Valor total da conta: R$ 83,71.

A avaliação a seguir leva em consideração a experiência por mim vivenciada durante a minha visita ao restaurante, desde o momento da reserva (quando há), passando pela recepção, acomodação na mesa, atendimento, tempo de chegada dos pedidos, até o pagamento da conta. Esta avaliação varia de um a cinco asteriscos, representados pelo símbolo (*), podendo ter a variação de meio asterisco, representada pelo formato (1/2).

Minha avaliação: * * 1/2. Opção razoável para um almoço despretensioso no shopping.

Gastronomia Recife (PE)

quinta-feira, 19 de julho de 2012

FOI CARMEN - CENA CONTEMPORÂNEA

Segunda noite do Cena Contemporânea 2012. Ingresso para a peça Foi Carmen, uma concepção de Antunes Filho, dirigida por ele e encenada pelos atores Mariah Teixeira, Lee Thalor, Emile Sugai e Patrícia Carvalho, integrantes do Grupo de Teatro Macunaíma & Centro de Pesquisa Teatral (CPT) do SESC de São Paulo. Muita gente no foyer da Sala Martins Penna do Teatro Nacional Cláudio Santoro para conferir o espetáculo. A sala está cada vez mais decadente, com cheiro de mofo, carpetes imundos e rasgados. Fora o desconforto natural das poltronas (há muito já deveriam ter trocado todo o conjunto de poltronas das salas que integram o complexo do Teatro Nacional), há muitas delas rasgadas ou com braços quebrados. Mas ainda assim o público comparece quando a programação é de qualidade. Com quinze minutos de atraso, anunciaram que as pessoas que estavam mais atrás poderiam ocupar os lugares vagos nas primeiras fileiras. O teatro não ficou lotado, mas recebeu um bom público. Depois da acomodação da plateia, as luzes se apagaram, a gravação do festival foi executada e, enfim, a peça teve início, com o palco sem cenário. Mariah Teixeira entra em cena vestida de colegial carregando duas cadeiras de madeira contando os passos. Coloca as cadeiras no lado oposto, olha, as pega de volta e regressa de costas, diminuindo a contagem inicial até o centro, onde as coloca, saindo para buscar a terceira cadeira. Ao longo da peça, ela vai aparecer várias vezes fazendo uma contagem quase que infinita. A forma como anda me lembrou aqueles patinhos que são alvo em barraquinhas localizadas em parques de diversão. Juro que deu vontade de pegar uma espingarda e atirar nela quando estava perto do número 100. Os outros três atores, vestidos de negro e com movimentos que lembram o teatro tradicional japonês, o butô, entram em cena para se sentarem nas três cadeiras, como espectadores de um show de Carmen Miranda. Carmen é a inspiração para o espetáculo, mas não é a história dela, mas sim o que ficou da cantora luso-brasileira no imaginário popular. Lee Thalor, depois de sair como um dos três personagens vestidos de negro, volta como um malandro carioca, todo de branco, mas falando uma língua diferente, não identificável (li depois que é uma língua criada pelo Macunaíma), como se tivesse discorrendo sobre a pequena notável, deixando escapar em  português palavras que a identificam, como banana, balangandãs, morro e samba. Em seguida, é a vez de Emile Sugai surgir vestida à caráter, lembrando a cantora, mas com uma meia preta escondendo seu rosto. Ficava nítido que o importante era mostrar ao público apenas os elementos que ficaram no imaginário popular. Com uma pulsante trilha sonora, a atriz vai dando a volta no palco com uma cesta nas mãos, tirando de dentro dela peças fortemente ligadas à Carmen, numa espécie de desconstrução do mito. Desta forma, ficam pelo chão do palco colares, panos com paetês coloridos, pandeiro, bananas de plástico com purpurina, uma flor vermelha, uma boneca e as famosas sandálias plataforma. Com nenhum diálogo entre os personagens, a peça não agradava a todos, com gente saindo antes do final. Em outra performance, a atriz Patrícia Carvalho, quase deitada no tablado, entra em uma espécie de transe, incorporando a cantora, saindo sambando pelo salão. Com esta performance, encerrava-se a identificação dos elementos que remetem à Carmen, pois nada melhor do que um carnaval, com direito a confete no ar, para fazer o público lembrar da cantora. Com cerca de 60 minutos, a peça termina com os quatro atores em cena, como se estivessem em um baile de carnaval, dançando ao som de um sucesso da homenageada. As luzes se apagaram, aplausos protocolares por parte de alguns, que permaneceram sentados, e apupos e gritos entusiasmados por parte de outros. A reação do público mostrou que Antunes Filho continua dividindo opiniões. Bela reflexão sobre mitos, sobre o imaginário do povo. Belo espetáculo.

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