Mina terça-feira foi corrida, pois estava viajando a trabalho, chegando em Brasília no final da tarde. Foi o tempo de chegar em casa, trocar a camisa e ir para o Shopping Iguatemi, mais precisamente para o Teatro Eva Herz, localizado dentro da Livraria Cultura. Era a abertura da décima terceira edição do festival internacional de teatro Cena Contemporânea, que neste ano está se realizando um pouco mais cedo do que o habitual. Serão treze dias de muita cultura espalhada por vários locais da cidade. Duas peças abriram a programação do Cena. Escolhi o monólogo Estamira, Beira do Mundo para iniciar minha maratona de espetáculos. Antes de ir para a porta do teatro, dei uma rápida passeada na livraria, olhando as novidades. Programada para ter início às 20 horas, a peça teve um considerável atraso de meia hora, fato que a produção pediu desculpas à plateia, quando todos já estavam acomodados em seus lugares no confortável teatro. O público compareceu em peso, embora a lotação não tenha sido de 100%. Quando entramos, a atriz Dani Barros já estava sentada em um banco no centro do palco, rodeada de sacos plásticos e algumas estátuas de garças colocadas nas pontas do cenário. O cenário remetia a um lixão, local de trabalho da personagem Estamira. Ela é a mesma pessoa do documentário de Marcos Prado, que recebeu o mesmo nome. A atriz dá um interessante depoimento, quase no final da peça, que ao conhecer a história de Estamira, ela fez uma ligação com sua própria caminhada, sua história. Com esta interface, ela resolve levar para os palcos um pouco da vida e da filosofia de Estamira, uma senhora que recebeu o diagnóstico que sofria de distúrbios psíquicos. Alternando momentos de lucidez e de loucura, quando achava que era controlada por um controle remoto, uma vida triste e comovente é contada, com especial destaque para questionamentos sobre o sistema de saúde brasileiro, quando médicos atendem em cinco minutos seus pacientes, prescrevendo remédios roboticamente, ou sobre Deus. São setenta minutos de monólogo, o que pode cansar a quem não está acostumado, pois há muita repetição de texto. Embora eu tenha apreciado o texto, para estas pessoas que não aguentam ficar mais do que uma hora sentadas em uma sala de teatro, a minha dica é esquecer o texto e focar no trabalho da atriz. Simplesmente sensacional. Não é por acaso que Dani Barros foi premiada por mais de um veículo por este trabalho. Ela sai da narrativa linear para incorporar uma velha louca, voltando para momentos de lucidez da personagem, quando recorda uma carta de sua mãe, de quando foi estuprada por seu avô, de quando foi levada para a prostituição aos 12 anos, do primeiro filho aos 17 anos, dos casamentos, retornando à loucura, ouvindo vozes, conversando com o além. Ela faz rir e comove a plateia num piscar de olhos. Nas cenas mais tocantes, muita gente lacrimejou no teatro. Destaco também o belo efeito cênico que faz voar as sacolas de plástico no palco. A plástica do efeito ficou linda. A peça vai além do mero registro documental, é uma bela experiência de vida, tanto da senhora Estamira, quanto da atriz, que se fundem no palco em um só personagem. Grande trabalho da atriz Dani Barros, com direção segura de Beatriz Sayad. Para quem perdeu, ainda há uma chance de ver, pois está agendada nova apresentação nesta quarta feira, dia 18/07/2012, às 20 horas no mesmo local. O Cena Contemporânea 2012 começou bem!
teatro
Noel,
ResponderExcluirAdorei este espetáculo, e, sobretudo, a atriz.
A Estamira é a mesma do filme homônimo, você sabe né?
Bjs
Pek
Oi Pek, que bom tê-lo aqui escrevendo comentários.
ResponderExcluirSim, sei que é a mesma do filme homônimo.
Bjs.