Pesquisar este blog

quarta-feira, 4 de julho de 2012

CARAVAGGIO E SEUS SEGUIDORES

No primeiro domingo de julho, em dia ensolarado no inverno na região metropolitana de Belo Horizonte, eu,  Ric, Emi e Rogério, logo após um excelente almoço no restaurante Mello Mercearia, fomos para Nova Lima conferir Caravaggio e Seus Seguidores. Esta exposição está em cartaz na Casa Fiat de Cultura desde o dia 22 de maio, permanecendo aberta para visitação pública até 15 de julho, quando será desmontada e seguirá para o MASP em São Paulo. Em terras mineiras, a entrada é gratuita, mediante a retirada do ingresso na bilheteria do espaço cultural, localizada logo à esquerda de quem entra. A visita aos domingos tem início às 14 horas. Chegamos às 14:39 horas. O local já estava bem concorrido com uma longa fila que subia a rua. Embora o sol estivesse forte, todos esperavam pacientemente. Até que a fila andava, o que dava uma sensação de que logo chegaríamos ao ponto inicial. Decorridos 40 minutos na fila, conseguimos chegar na bilheteria, pegando os ingressos e folders das duas exposições em cartaz na Casa Fiat de Cultura: Caravaggio e Seus Seguidores e De Chirico, O Sentimento da Arquitetura. Nova fila, desta feita para ter acesso ao saguão do local, onde há um café e as entradas para as duas galerias, além do cinema, chapelaria e banheiros. A quantidade de pessoas na galeria onde as pinturas barrocas de Caravaggio estão expostas é limitada, motivo pelo qual entra o mesmo número de pessoas que deixam o ambiente. Assim que entregamos os ingressos, recebemos orientações básicas, como a proibição de fotografar, filmar e entrar com alimentos/bebidas nas galerias, além de ter que deixar mochilas, bolsas grandes e chapéu no guarda-volumes. Era o meu caso, já que usava um chapéu. Respeitadas as regras, fomos para a última fila que se formava em frente à galeria da direita. Cinquenta e cinco minutos depois de nossa chegada, adentramos o espaço expositivo. O ambiente é escuro, com spots iluminando os quadros. Faz frio por causa do ar condicionado. Um alarme é disparado constantemente, pois para proteção das valiosas obras em exposição, um sensor capta qualquer movimento que ultrapasse a linha preta pintada no chão. Um simples movimento de braço pode acionar o alarme. Vigilantes atentos alertam os visitantes sobre o sensor. Caravaggio é meu pintor favorito. Já andei muito só para ver um único quadro dele em Nápoles, além de já ter pedido para ter acesso a locais restritos em uma igreja para também ver uma pintura cuja autoria é atribuída a ele. Assim que tive conhecimento desta exposição, fiz de tudo para conciliar agendas para poder conferí-la. São apenas seis quadros de Caravaggio e quatorze pinturas de alguns de seus seguidores. Ao lado de cada obra, um breve histórico sobre o artista, a pintura, quando foi feita e a que instituição ela pertence. Três ambientes compõem a mostra. No primeiro, assim que se entra, estão as obras de Caravaggio. No segundo, estão expostas as pinturas dos seus seguidores, como Orazio Gentileschi, Giovanni Baglione, Guido Cagnacci, Jusepe de Ribera, Mattia Preti e Orazio Borgianni. No terceiro, o ambiente mais iluminado, estão painéis que fazem uma comparação entre dois quadros muito semelhantes retratando São Francisco, de um total de quatro existentes. Uma pintura tem-se a certeza de ser de Caravaggio, enquanto o outro acredita-se que também seja do mestre da pintura barroca. Comecei pelas pinturas de Caravaggio. A primeira, São Jerônimo que Escreve já impressiona pela luminosidade, traço característico do pintor, e a presença da caveira, um símbolo iconoclasta cristão representando a morte e a mortalidade dos homens, uma constante nas pinturas religiosas barrocas.  Em seguida, o primeiro exemplar de São Francisco: São Francisco em Meditação, com a presença do crânio novamente. O terceiro quadro colocado na mesma parede é um retrato, com iluminação esplendorosa na parte esquerda do rosto de um cardeal. A pintura tem o nome de Retrato do Cardeal (supõe-se que o retratado seja o Cardeal Benedetto Giustiniani). A quarta pintura é a mais concorrida, escolhida para estampar o material gráfico da exposição, a Medusa Murtola, pintada em uma tela de linho aplicada sobre um escudo de madeira de álamo. Um primor. A luz no rosto assustado deste ser mitológico com as cobras no lugar de seu cabelo é fantástica. Quadro para se admirar por um longo tempo. Passei para o quinto quadro, chamado São Januário Degolado ou Santo Agapito. A força da pintura está na morte estampada no rosto do santo, enquanto a posição em que ele se encontra transmite uma serenidade incomum para a situação. Por fim, o segundo exemplar de São Francisco em Meditação. Momento de tentar verificar as diferenças entre as duas pinturas com o mesmo santo. Quase que um jogo dos sete erros. Fiquei em torno de meia hora para apreciar estas seis pinturas, passando para o segundo ambiente, onde fui mais rápido para ver os quatorze quadros, todos com características bem próximas das técnicas utilizadas  por Caravaggio. Todas as pinturas são muito bonitas, mas uma delas me chamou a atenção: Madalena Desmaia, de Guido Cagnacci, pois trata-se de um quadro com cunho religioso, mas retrata Madalena com os seios desnudos (a foto desta pintura está reproduzida abaixo e não foi tirada na exposição, onde não é permitido fotografar, mas sim baixada da internet). Por fim, li todos os painéis que trazem informações sobre duas pinturas de São Francisco e os debates que ocorreram sobre a autoria de ambos. Esta parte da mostra tem o nome de Os Duplos de Caravaggio: As duas versões de São Francisco em Meditação. As técnicas utilizadas para o estudo das duas pinturas (uma delas não está  na exposição) foram bem variadas, como a radiografia, a microfotografia, a macrofotografia, técnicas com infravermelho e fotografia com fluorescência induzida pela luz ultravioleta. Nem todo mundo lê todas as informações e acaba acreditando que as comparações foram feitas com os dois exemplares presentes na exposição. Fiquei em torno de uma hora em Caravaggio e Seus Seguidores. Uma bela exposição. Gostei muito.


Madalena Desmaia, de Guido Cagnacci


artes plásticas

Um comentário:

  1. Prezado Noel, parabéns pela acuidade de seu relato de visita à nossa Casa Fiat de Cultura e à exposição "Caravaggio e seus seguidores", visita metódica, de conhecedor e bom observador. Para se tirar proveito da exposição há, com efeito, de ser assim, com a dedicação de tempo e de mente aberta. Agradecemos pela sua presença e colocamo-nos à sua disposição, sempre que retornar à sua Belo Horizonte. Com toda a atenção, José Eduardo de Lima Pereira, Presidente da Casa Fiat de Cultura.

    ResponderExcluir