Teatro I do CCBB lotado na noite de estreia de Apple Love, integrante da programação do Cena Contemporânea 2012. Fila de espera para tentar comprar ingressos dos convidados que não compareceram. Muita gente do meio teatral da cidade nas poltronas do teatro. O atraso foi considerável para o início do espetáculo, quase meia hora. Acho que esperaram a peça que estava ocorrendo no Teatro II acabar, já que muitos que estavam nela também tinham ingressos para ver a companhia espanhola Cia Iker Gómez em Apple Love. A peça mistura teatro físico (textualmente lembrado pelo ator principal, Iker Gómez logo na primeira cena), dança contemporânea e vídeo, com direito a interação entre atores que apenas aparecem na tela com os atores/bailarinos da companhia que estavam no palco. Além de Gómez, os atores Rut Balbis, Gemma Galera e Maxime Iannarelli completam o grupo. O mote é o amor total e a busca por sua definição, feita por intermédio de nove estágios. Uma das cenas mais idiotas que já vi foi o estágio chamado Opera Pollo, com uma bailarina dançando, outra chorando em um canto do palco e uma galinha na tela observando a encenação. Outra parte de uma idiotice sem fim, pior que as piadas de mal gosto das peças tipo stand up comedy, foi o estágio em que os quatro atores ficam gemendo no palco, simulando o ápice de um orgasmo. Sofrível. A maçã é figura recorrente durante os sessenta minutos de duração, figurando no título, estando fisicamente compondo um dos cenários, aparecendo nas imagens dos vídeos ou na letra de uma canção que Ike dubla em cena. Fácil explicar esta onipresença, pois a maçã sempre foi ligada aos temas do amor, desde os tempos de Eva, passando pelos contos de fada, chegando a emprestar seu nome para uma iguaria muito comum em festas juninas, quermesses e espetáculos circenses no Brasil, a maçã do amor. Fica difícil, no entanto, de entender o motivo pelo qual outro elemento é recorrente na peça, a galinha, que dá as caras na tela, assim como nas performances que os atores executam no palco. O que os galináceos tem em comum com os humanos em relação ao amor? Foi a pergunta que me fiz e que não consegui encontrar a resposta em Apple Love (ainda não sei a resposta!). Embora com algumas cenas engraçadas, o texto (se é que tem um) é sofrível, a coreografia é ruim, o figurino é meia boca, tudo revestido de um ar que resvala no brega, com inspirações nas telenovelas mexicanas com dublagens mal feitas (lembrei-me das novelas importadas pelo SBT), mas que não consegue superar o ar kitsch das fontes de inspiração. Para piorar a situação, quem estava na primeira fila sentia o forte cheiro de corpo suado sem banho que exalava do ator principal e fundador da companhia, especialmente quando ficou pulando corda no início da peça. Ao final, aconteceu algo que raramente presenciei nos teatros de Brasília: houve algumas vaias por parte do público presente. Muitos se levantaram e saíram da sala sem bater palmas. Parecia uma unanimidade do lado de fora, com expressões de reprovação e de descontentamento com o que viram. Fazia um bom tempo que eu não via algo tão ruim. Para esquecer!
teatro
Oi, Noel.
ResponderExcluirVi o espetáculo e não concordo com tua avaliação, ainda que a respeite e saiba que teu argumento não é inválido, na medida em que traz pontos realmente pertinentes, mas que são praticamente todos contextualizados e ressignificados propositadamente. No site de divulgação da peça há uma bela explanação sobre as escolhas de cena, música, coreografia e objetos (sobre a maçã principalmente).
No mais, grande abraço e mais arte nas nossas vidas!
P.S.: o site é o www.dvdanceart.com
Obrigado Sandra pela visita e pelo comentário. Sem querer polemizar, deixo a seguinte pergunta: Para entender o que uma peça, temos que consultar o site de divulgação? Este entendimento não deveria vir na própria leitura, mesmo que individual e personalíssima, que o público faz quando a ela assiste?
ExcluirForte abraço e arte em, nossas vidas, sempre!
Olá Noel, sempre leio o que vc escreve aqui e gosto bastante. Fui ver Apple Love no mesmo dia e concordo com tudo o que está na sua resenha. Sua frase final diz tudo: é pra esquecer mesmo. Abraço. José Henrique
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