Clássico do neorrealismo italiano dirigido por Vitorio De Sica, tendo como protagonistas Lamberto Maggiorani (Antonio Ricci) e Enzo Staiola (Bruno Ricci).
Revi o filme para o ciclo Cinema & Filosofia do Clube de Análise Fílmica, com aulas ministradas on-line pelo Prof. Alisson Gutemberg. E novamente uma explosão de emoções tomou conta de mim durante a projeção. Sentimentos de tristeza, raiva, compaixão, impotência, tudo junto e misturado.
Em uma Itália devastada no pós guerra, quando a miséria, a fome, o desemprego e o descaso com o ser humano imperavam, Antonio consegue um emprego de colador de cartazes nos muros da cidade, mas para ser admitido, ele precisava ter uma bicicleta. Ele tinha, mas a tinha penhorado para poder comprar comida para sua família. Maria (Lianella Carell), sua mulher, recolhe os lençóis da casa e os leva até a casa de penhor, onde conseguem o dinheiro para tirar a bicicleta, na mesma casa de penhor.
No primeiro dia de trabalho, após deixar Bruno, seu filho de uns 7/8 anos no trabalho (a criança era frentista em uma bomba de gasolina), começa a trabalhar, levando consigo uma escada e os cartazes para colar, tudo na bicicleta. Enquanto terminava de colar um cartaz de Rita Hayworth, sua bicicleta é roubada. Começa, então, um périplo de Antonio, acompanhado de seu filho Bruno, à procura do ladrão e da bicicleta. Passam pela delegacia de polícia, por um mercado de pulgas onde havia um grande comércio de peças de bicicletas, e até dentro de uma igreja, onde os pobres eram trancados para assistir à missa antes de serem alimentados por uma espécie de sopão. Ao final, desesperançado, Antonio luta contra si mesmo, em uma angustiante cena em que ele fica na dúvida se rouba ou não rouba uma bicicleta na saída de um jogo de futebol.
Alguns pontos levantados por De Sica são muito bons e atualíssimos: a precarização do trabalho, onde temos a situação de trabalho infantil e as condições para arrumar um emprego, pois tinha que ter a bicicleta para trabalhar, o que me fez transportar para os dias atuais, especialmente durante o auge da pandemia, quando trabalhadores ficaram desempregados e entraram para a informalidade no mercado de trabalho, muitos deles em serviços de entrega de comida, para os quais teriam que ter bicicleta ou moto. A chamada uberização, onde a pessoa nem é empregada, nem é autônoma, tendo que trabalhar em condições precárias, sem garantia de benefícios sociais e recebendo uma remuneração pífia.
De Sica, que era comunista e católico, mostra o poder manipulador e doutrinador da religião, especialmente naqueles que estão mais vulneráveis socialmente. A cena dentro da igreja, com as portas fechadas, impedindo as pessoas de ir e vir, tendo que ouvir a missa para depois poderem comer um prato de sopa, é um exemplo claro desta dominação.
E não deixa de ser até contraditório, mas também um amor ao cinema, fazendo um filme realista, com grande parte do elenco de não atores, nada de filmagem em estúdios, com baixo orçamento, De Sica incorpora na história vários cartazes de filmes hollywoodianos afixados nas paredes da empresa onde Antonio conseguiu seu emprego, mas, especialmente, a figura da atriz Rita Hayworth no cartaz colado pelo personagem principal quando teve sua bicicleta roubada.
Também vi muitas semelhanças nas cenas com o garoto Bruno, especialmente na que ele senta na calçada, com o filme O Garoto (1921), de Charles Chaplin.
Filme necessário para qualquer pessoa amante do cinema.
Disponível no Telecine Play e no YouTube (gratuito)
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