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sábado, 19 de março de 2022

PARIS, TEXAS

Paris, Texas
, 1984, 145 minutos.

Direção de Wim Wenders, tendo como principais atores Harry Dean Stanton (Travis), Nastassja Kinski (Jane), Dean Stockwell (Walt), Aurore Clément (Anne) e Hunter Carson (Hunter).

Vi pela quarta vez Paris, Texas. Desta vez para me preparar para a aula 3 do ciclo de março do Clube da Análise Fílmica: Cinema e filosofia: uma introdução ao pensamento filosófico através dos filmes - O tempo e o pensamento em Paris, Texas: uma introdução às ideias de Hegel.

Cada vez que vejo este filme, gosto mais dele. Novas leituras, novas nuances, novas contemplações. O filme, apesar de longo, prende a atenção, mesmo com algumas cenas lentas. A transformação de Travis ao longo da projeção nos faz refletir muito, torcer por ele, não torcer por ele, torcer por ele de novo e assim vai.

Trata de solidão, de encontrar um sentido para a vida, de redenção, de maternidade, de amor familial.

É um road movie dos anos 1980, com homenagens sutis ao cinema que se produzia na época. Por exemplo, a trilogia Star Wars (1977, 1980, 1983), que aparece tanto na fala do garoto Hunter, quando na roupa de cama e nos brinquedos dele. É como se Wenders nos dissesse que Star Wars era infantil, mas ao mesmo tempo, tinha profundidade para entreter um adulto. Star Wars remete a uma releitura do gênero western, que Wenders também homenageia com tomadas em planos abertos, mostrando uma paisagem árida do deserto, tal qual fazia John Ford em seus filmes de faroeste. A cena inicial de Paris, Texas é similar a uma abertura dos filmes de Ford. Outra referência a filmes dos anos 1980 é um cartaz enorme com a foto de Barbra Streisand, como no filme Yentl, lançado um ano antes de Paris, Texas.

Mas são as cores que chamam a atenção ao longo do filme. Elas ditam o humor dos personagens ou o clima da cena. Wenders aproveita esta ligação de cores com os rumos da história para fazer um jogo com as cores vermelho, azul e branco, não por acaso, cores da bandeira da França, que junto da Alemanha, produziu o filme, e cores da bandeira dos Estados Unidos, terra do escritor L. M. Kit Carson, cuja obra foi adaptada por Sam Shepard para o filme e onde foi rodado Paris, Texas. Sem contar que França e Estados Unidos estão presentes no título do filme. Uma atriz francesa, Aurore Clément, integra o elenco. Ainda na primeira parte do filme, tomamos conhecimento de que Paris não é bem a que imaginávamos. O vermelho aparece em cenas quentes, que apontam não só para a paixão, mas também para o futuro. O azul traz ideia de tristeza pela certeza de que o futuro não será como o esperado, além da frieza e da racionalidade dos personagens. O verde, que aparece pouco no filme, traz ideia de esperança, tanto nos momentos iniciais do filme, quando Travis está em uma clínica esquisita para a qual foi levado após um desmaio, quanto nos momentos finais, quando, enfim Travis consegue uma sinalização para o futuro de Jane e Hunter. O vermelho ainda domina a cena quando Jane, uma estonteante Nastassja Kinski, aparece no peep show onde trabalhava. E tem o preto, no mesmo peep show, indicando que não haverá felicidade para o casal.

Além da direção segura e perfeita de Wenders e do roteiro excelente de Shepard, temos que dar destaque para a trilha sonora de Roy Cooder, que traz para o filme um blues que envolve perfeitamente as cenas com as cordas de guitarra, e a fotografia marcante de Robby Müller.

Enfim, um filmaço que só cresce em meu conceito.

Disponível no Belas Artes À La Carte.

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