Em maio de 2009, li no blog de
Pek, meu amigo de
Belo Horizonte, sua resenha para o filme
Kung Fu Contra As Bonecas (para ler a postagem do blog
Insensatez sobre o filme,
clique aqui). Imediatamente fiquei curioso em ver este filme brasileiro lançado em 1975. Comentando o fato com
Pek, ele fez uma cópia e me entregou. Esta cópia em DVD-R ficou na minha estante até a noite de 17 de maio de 2012, quando decidi conferir o filme. Hilário é um bom adjetivo para
Kung Fu Contra As Bonecas. Dei muitas gargalhadas não só com a história, mas também com as cenas "inspiradas" no seriado de TV
Kung Fu e na abertura do programa da
TV Globo, o
Fantástico, que tinha uma coreografia cheia de plumas, maquiagem forte e sensualismo.
Adriano Stuart é o diretor, tendo
André Klotzel como seu assistente na direção.
Stuart também interpreta o personagem Chang, o chinês que retorna para sua terra natal, salvando Maria, interpretada por
Helena Ramos, em um de seus primeiros filmes, das garras de um bando de cangaceiros liderados por Azulão (
Maurício do Valle). Ao final da luta, ele descobre que sua família foi assassinada por Azulão, incluindo seu porquinho de estimação, partindo para a vingança. O cangaceiro matava por encomenda do coronel, vivido por
Dionísio Azevedo. O clímax se dá em uma "guerra" no canteiro de obras de uma estrada que passaria nas terras do coronel. O filme é uma comédia trash, fato reafirmado em quase todas as cenas. Sempre há algo que beira o absurdo, nas imagens ou nos diálogos (um dos diálogo é reproduzido no link acima). Fica claro que os produtores aproveitaram a onda de sucesso das pornochanchadas e dos filmes de lutas marciais produzidos em
Hong Kong e estrelados por
Bruce Lee, cujos filmes lotavam as salas de cinema no
Brasil, para realizar este filme. Acrescentaram uma pitada gay e deu no que deu. O bando de Azulão está paramentado com roupas de cangaceiro, lembrando o bando de
Lampião, mas as roupas são coloridas. O chefe do bando usa bobs no cabelo, faz as unhas, imita
Carmen Miranda, há uma insinuação que ele tem um caso com um de seus homens, o Travessa, mas sempre está cercado de putas. Na mesma linha, o herói Chang tem um corte de cabelo estilo Príncipe Valente, usa uma camiseta baby look cor de rosa bem apertada com Kung Ku nela estampado, tem trejeitos ao olhar no espelho, mas acaba na cama com Maria, uma lutadora de artes marciais, assim como ele, que verbaliza em sua primeira aparição na película que quer ser atriz de cinema. Os cangaceiros vivem dançando ao som do refrão "
é o camisa 10 da seleção, laiá, laiá, laiá", em alusão a Azulão, cujo uniforme estampa o número 10 nas costas. Aliás, todo o bando tem números nas costas e eles totalizam onze, como em um time de futebol. Na linha de sempre fazer referência ao que fazia sucesso, há uma tomada onde o prefeito, o delegado, o coronel e um empresário discutem as obras da estrada na cidade em torno de uma mesa onde jogam "
Só Compra Quem Tem", versão de um famoso quadro do
Programa Sílvio Santos. Na reprodução da abertura do
Fantástico, há um ótimo cover de
Ney Matogrosso cantando
América do Sul. Nas cenas em que Chang lembra os ensinamentos de seu mestre, copiam as cenas de
Kung Ku, o seriado estrelado por
David Carradine, quando mostra ele menino, conversando com seu mestre ao redor de velas acesas, sendo chamado de Gafanhoto. Em
Kung Fu Contra As Bonecas, o mestre é negro, embora oriental, com um longo bigode branco, Chang está vestido com beca de formatura e é chamado de Pernilongo. Para garantir o sucesso, em um cabaré chamado Jovina's Drinques acontecem as cenas mais hilárias de luta de Chang e Maria contra o bando de Azulão, enquanto este está na cama com a dona do bordel, Jovina, que é mãe de Maria. Ainda há um travesti no mesmo bordel que se encanta por Chang. As cenas de luta mais parecem uma coreografia em câmara lenta do que de lutas marciais. Enfim, me diverti muito.