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quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

FECHADO PARA JANTAR

Vera me ligou dizendo que aconteceria em Brasília, pela primeira vez, nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2013, o Fechado para Jantar, perguntando se eu não queria conhecer. Topei na hora. A participação no evento era garantida com o pagamento individual de R$ 205,00. Muito concorrido, logo esgotaram os setenta lugares por noite colocados à venda. Com edições em São Paulo, Rio de Janeiro e Goiânia, chegava a vez de Brasília também ter sua versão. Eu, Vera, Cláudia e Lívia conseguimos garantir nossos lugares para a noite de 21 de novembro, uma quinta-feira, segunda noite da etapa brasiliense. O convite marcava que o jantar seria às 20 horas. No final da tarde deste dia, a organização do evento enviou para todos os que adquiriram convites um e-mail informando que o horário correto para o jantar era 21 horas. Não gostei deste aviso de última hora. Ponto negativo para o evento. De qualquer forma, fiquei sabendo a tempo para não chegar antes no local. Saí de casa às 20:20 horas para pegar Cláudia em sua casa, seguindo direto para a Casa dos Arcos, no Park Way (SMPW Quadra 7, conjunto 3, lote 10). O lugar é difícil de achar, ainda mais à noite. Mesmo utilizando o GPS do iPhone, nos perdemos por causa das obras na rodovia, onde não há iluminação e nem placas de sinalização. Com uma ligação para Vera, que já tinha conseguido chegar, e com ajustes nos trajetos indicados pelo aplicativo, conseguimos alcançar o local, quando o relógio já marcava 21:05 horas. Havia serviço de manobrista, mesmo com amplo espaço para estacionar dentro do terreno da casa, mas era muito escuro, motivo pelo qual todos deixavam o carro com os manobristas de plantão. Assim que saímos do carro, nos indicaram um caminho na grama para evitar pisar na terra. Uma recepcionista aguardava os que chegavam, confirmando nome por nome e dando as boas vindas. Poucas pessoas estavam no local, todas em pé em uma espécie de pátio, com um jardim de cada lado. A Casa dos Arcos é uma residência, mas de forma muito diferente. A informação que tivemos era que um arquiteto era o proprietário e morava naquela enorme construção. A decoração era toda em tons azuis, já que o uísque Johnnie Walker Blue Label era o patrocinador do evento e dava nome à experiência criada para o Fechado para Jantar: Blue Sessions. Garrafas vazias da bebida também foram usadas na decoração dos ambientes, incluindo os banheiros. Ninguém podia entrar na área onde seria servido o jantar. Enquanto esperávamos, uma música gostosa, misturando lounge e bossa nova, executada pela DJ Chris Prado, animava o ambiente, que não tinha nenhum lugar para sentar. Um welcome drink era servido. Era um drinque feito com uísque Johnnie Walker Blue Label, chá Earl Grey, suco de limão siciliano, xarope de marshmellow e gelo. Tomei um gole. Refrescante, docinho, muito bom para abrir os trabalhos. Para beliscar, um copinho de plástico com petas cuja massa levava cogumelos. O tempo foi passando e nenhum sinal de abrir o salão do jantar. Algumas pessoas, especialmente as com certa idade e mulheres com salto alto, estavam visivelmente incomodadas com a falta de local para descansar. Alguns procuravam pilastras para dar uma encostada. Perguntei a uma garçonete quando abririam o salão e ela me respondeu que às 21:30 horas. No entanto, o relógio já ia longe: 21:50 horas. Perguntamos para outro garçom e ele respondeu que às 22 horas o salão seria aberto. Ponto negativo para o evento. Às 22:10 horas, os idealizadores do evento pediram silêncio, entre eles o chef Raphael Despirite, para explicar o que era o Jantar Fechado. Para eles, uma experiência nova, um projeto inovador que já existia há um ano e meio em São Paulo, unindo gastronomia, arte, locais inusitados, quando os comensais poderiam experimentar sensações únicas para os cincos sentidos. Disse ainda que queriam sair da mesmice dos restaurantes paulistanos, todos austeros, formais, possibilitando um contato direto com os que participavam do jantar. Ao ouvir esta explicação não aguentei e soltei uma frase sobre a espera. Queriam ser diferentes dos restaurantes paulistanos, mas a fila de espera de, no mínimo uma hora, era idêntica. Abriram a porta de acesso ao salão, cuja decoração era lindíssima, obra de Gustavo Calazans, avisando que os nossos lugares já estavam indicados com nossos nomes. Eram duas mesas grandes com o tom azul dominando. Ao puxar minha cadeira, percebi que era de papelão. Aquilo me deixou um pouco tenso, mesma reação de várias pessoas ao meu redor. Este fato permitiu uma interação imediata. Sentei e nada aconteceu. A cadeira aguentou bem o meu peso, bem como de todos os demais que estavam ali. Assim que sentamos, foram servindo pães e manteiga na mesa ao lado, mas nada chegou à nossa mesa. Vinho e água também não chegavam por lá. Ponto negativo. O que chegou primeiro foi a entradinha: bacalhau confitado com ervas aromáticas e pimenta de cheiro, farofa de chorizo e emulsão de bacalhau. Reclamei com o garçom, recebendo a resposta que o pão, a água e o vinho ainda viriam. Realmente vieram, mas a manteiga não, e tinha dois tipos. Abordei outro garçom, que me deu uma resposta hilária: não havia manteiga. Claro que tinha! Mostrei a outra mesa e ele engoliu em seco. Sinal de que os que serviam as mesas eram tudo, menos garçons. Logo apareceu os dois tipos de manteiga descritos no menu: manteiga noisette e manteiga tradicional com flor de sal. O pão era artesanal e estava fantástico. Quanto à entradinha, achei fraca. Um copo de água bem gelada foi colocado em frente a cada um, bem como outro com uísque Johnnie Walker Blue Label. Passaram pelas mesas pedindo para todos colocarem um fone de ouvido que estava em um prego debaixo da mesa na direção de cada cadeira. Com o fone nos ouvidos, serviram a entrada: ceviche de vieiras, sorbet de graviola e azeite extra virgem, ovas de salmão e sunomono de maxixe. Enquanto serviam, ouvíamos as instruções. Primeiro, uma narração contando a história do uísque, depois o mesmo narrador pedia para abrirmos um tubo de ensaio que ficava no centro da mesa e cheirá-lo. Era a fita olfativa que remetia a notas salinas, do mar. Um gole na água gelada, outro gole no uísque, uma harmonização com a vieira, outro gole no uísque. Fantástica a experiência, mesmo para quem não aprecia muito esta forte bebida, como é o meu caso. Ponto positivo para o evento. O que me chamou a atenção no prato foi o sunomono de maxixe. Sensacional, em perfeita harmonia com o ceviche. Ponto positivo para o evento. Já sem os fones, entregaram novo tubo de ensaio com a fita olfativo 2, desta vez com notas florais, frutadas e de baunilha. Era a deixa para servirem mais um prato, o gnocchi de mandioquinha, creme de grana padano e trufas brancas, com crocante de Pedro Ximenes e avelãs. Neste prato, eu já harmonizava com o vinho tinto português Serras do Azeitão 2012, Seleção do Enólogo, produzido pela Quinta da Bacalhôa na região de Setúbal, Portugal, com as castas aragonez, syrah, merlot e touriga nacional. A outra opção de vinho era o Quinta da Herdade, também português, do tipo verde, que não experimentei. O gnocchi também me chamou a atenção, pois parecia um bolinho, levemente selado. Gostei bastante. Ponto positivo para o evento. Mais um tubo de ensaio foi entregue a cada um dos presentes com a fita olfativa 3, que tinha notas de defumado e madeira. A esta altura, muita gente já circulava pelo salão, buscando no bar doses de uísque com três tipos de gelos aromatizados (chai e angustura de laranja; pêssego e tonka, uma semente amazônica; e frutas vermelhas com maple syrup). Quem provou, aprovou. Mais um ponto positivo. A fita olfativa três precedeu o burger de pato com maionese defumada e queijo gruyère. O hamburger foi servido em um saco de papel, fechado com um pregador de roupa de madeira, sem talher. Para comer com as mãos. Delicioso. Todos os sentidos devidamente instigados na noite: olfato, paladar, audição, visão e tato. Ponto positivo para o evento. Assim que terminei o hambúrguer, levantei para ver a pequena exposição fotográfica que ocupava o vão dos arcos que davam para a parte externa da casa. Fotos de Dani Derani. Instigantes. Ponto positivo. Ainda faltava a sobremesa. Para degustá-la era necessário sair da cadeira, pois foi colocada em uma mesa de apoio ao fundo do salão. Cada um se servia da quantidade que quisesse do bolo de chocolate elaborado por Flávio Federico. Um dos ingredientes deste bolo era o Johnnie Walker Blue Label, conferindo-lhe maciez e sabor original. Há muito não experimentava um bolo de chocolate tão bom. Ponto positivo. Durante o jantar, a banda Roxy Trio, de São Paulo, tocava, ao vivo, um set de blues e clássicos do rock. Na medida em que o tempo passava, a música ficava mais alta, transformando o jantar em uma pré-balada. Ao final, gostei muito de ter participado do Jantar Fechado, saindo com a certeza de que participaria novamente em outras edições. No entanto, espero que melhorem a questão da espera, seja colocando cadeiras, sofás e afins para as pessoas poderem se sentar, seja liberando o salão mais cedo. Outro ponto que, no meu entender, precisa ser mudado é o atendimento. Eu e outras pessoas com quem conversei durante a noite ficamos com a impressão que escolheram modelos bonitos para atuarem como garçons, o que prejudicou o serviço. Uma trupe profissional deixaria o jantar muito mais agradável. Fui embora quando os mais jovens já estavam de pé, conversando e paquerando. Alguns ensaiavam começar uma dança no salão. Na saída, cada um recebia um mimo da Johnnie Walker Blue Label, um copo de uísque com o nome do rótulo que patrocinava o evento da noite. Já era de madrugada quando cheguei em casa.


burger de pato com maionese defumada e queijo gruyère


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