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Segundo ato: verão chuvoso, São Paulo, uma quitinete, a mesma prostituta, o mesmo machão músico e o mesmo escritor nerd. Continua o triângulo amoroso inusitado, só que sem a presença dos três juntos em cena. Interpretações contidas, texto forte.
O texto acima reflete a minha impressão sobre a peça Inverno da Luz Vermelha em cartaz no Teatro I do CCBB de Brasília. Escrita por Adam Rapp, com tradução de Eduardo Muniz e Ricardo Ventura, a peça é encenada em dois atos em 120 minutos pelos atores André Frateschi (Davi), Marjorie Estiano (Cristine/Cristina/Ana) e Rafael Primot ( Mateus). A direção é de Monique Gardenberg, cenários de Daniela Thomas e iluminação de Maneco Quinderé. A troca de cenários é feita entre os dois atos com as cortinas abertas e luzes acesas, em um coreografado trabalho das pessoas que ficam nos bastidores da cena. Daniela Thomas utilizou muito material de demolição para compor os dois ambientes onde se desenvolve a história. Há dois números musicais no primeiro ato para aproveitar os dotes de cantores de Estiano, que dança sensualmente enquanto canta uma música francesa, e de Frateschi, que toca guitarra e canta uma canção em língua inglesa.
O teatro tinha um bom público, embora não estivesse lotado. Percebi que um senhor sentado ao meu lado ficou incomodado com os diálogos do primeiro ato, recheados de palavrões, e com a cena de estrupro no segundo ato. Quando terminou, ele aplaudiu protocolarmente.
Os três personagens são densos e tem como caraterística comum o fracasso em seus desejos e planos de futuro. O final é bem emblemático. Cada um acaba longe do outro, sem perspectivas na vida. Uma peça para refletir. A direção de Gardenberg é segura, especialmente quando altera a performance dos atores nos dois atos, deixando-se mais soltos na primeira parte do texto e mais contidos na parte final. Gostei muito.
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