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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

ROBERTO ZUCCO

E a noite de sábado chegou e com ela, mais uma peça. Dentre 154 opções, foi difícil escolher onde íamos. Optamos pelos teatros de bolso da Praça Roosevelt. Pelas indicações do Guia Folha, escolhemos ver Roberto Zucco, em cartaz no Espaço Satyros 1 (Praça Roosevelt, 214). Chuviscava um pouco quando saímos do hotel. Pegamos um táxi. O motorista não sabia como chegar. Eu, que não moro em São Paulo, expliquei o caminho. A corrida ficou por R$ 12,00. Chegamos ao teatro às 20:25 horas. Como sempre, havia vários jovens nas mesas do bar do espaço. Na bilheteria, recebi a informação de que tinha que esperar porque não havia mais ingresso, mas que em cinco minutos começaria a venda dos ingressos reservados, caso eles não fossem retirados. Perguntei se havia senha ou fila, recebendo a informação de que bastava esperar no local. Vi que tinham outras pessoas aguardando. O hall começou a encher. O diretor da peça apareceu e disse para só liberar os ingressos reservados às 20:45 horas. Fui o primeiro a comprar os ingressos, mas todos que esperavam a reserva cair, conseguiram entrar. O valor da entrada foi R$ 40,00 por pessoa. Antes de abrir as cortinas para entrarmos no teatro, o diretor informa que quem tinha vertigens devia se sentar no primeiro nível da arquibancada, também falou para ninguém deixar os pertences no chão ou pendurados nas cadeiras, tudo em nome da segurança. O mesmo aviso foi dado depois que as quarenta pessoas estavam sentadas. Ficamos no terceiro nível. Eram duas arquibancadas, cabendo vinte pessoas em cada uma. O espaço é pequeno, em formato retangular. As arquibancadas estavam encostadas em um dos lados menores. A primeira cena ocorre no lado oposto ao da arquibancada. Trata-se da fuga de Roberto Zucco da cadeia, onde cumpria pena por ter assinado seu pai. No momento da fuga, uma barulheira se dá embaixo das arquibancadas que logo começaram a se mover freneticamente, empurradas pelos atores da peça. Este era o motivo pelo qual enfatizaram tanto a questão da segurança antes do início do espetáculo. Ao longo das duas horas de peça, as arquibancadas são movimentadas várias vezes, conforme seria o local da próxima cena. Em uma dessas movimentações, a roda de uma arquibancada se enroscou no linóleo do piso, não se movendo mais. Pararam a cena, acenderam as luzes, os vinte espectadores desceram, a arquibancada saiu do lugar, colocaram-na no local correto, o pessoal se acomodou novamente e a peça reiniciou. São vinte atores em cena, mostrando aspectos da violência urbana e de como a sociedade acaba sendo conivente com o que ocorre a sua volta. Misturando drama e comédia, a peça mostra os últimos dias de Roberto Zucco antes de ser preso novamente. Nesta altura, ele já tinha cometido mais três assassinatos. Nunca tinha visto nada de Os Satyros, mas sempre tive vontade de conhecer o trabalho desta companhia teatral, muito pelo que li a respeito. Ao final do espetáculo, vi que a força do grupo é incrível, mesmo havendo alguns destaques individuais. Quando terminou a peça, percebi que o conjunto é o grande destaque do grupo. Gostei muito do texto e da forma como Os Satyros o encenou. O texto é o último de Bernard-Marie Koltès que o escreveu já doente de AIDS, morrendo em Paris em 1988. Esta questão da doença e da proximidade da morte está presente no texto melancólico, frio, distante e triste, mas ao mesmo tempo, com lirismo e humor. Rodolfo García Vázquez é o responsável pela direção, tradução e adaptação. Ao final, nos agradecimentos, uma das atrizes pede desculpas pelos problemas técnicos, informa que um ator português substituiu um dos integrantes do grupo naquela noite, e diz que a magia do teatro havia se manifestado novamente naquela noite, pois com os problemas técnicos, aquela encenação tinha sido diferente de todas as outras. Esta é a magia do teatro: cada encenação é única, mesmo com o texto na ponta da língua dos atores. Reforço que vale a pena conhecer este trabalho de Os Satyros.

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