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domingo, 10 de abril de 2011

360º TOUR - U2

Final de tarde de sábado com céu nublado, temperatura mais baixa e com cara de chuva à noite em São Paulo. Este era o cenário às 18 horas quando estava na porta do hotel aguardando um táxi. Não consegui reservar nenhum carro para me levar e buscar, assim tive que ficar plantado em frente ao hotel esperando algum táxi passar vazio na rua. Estava devidamente preparado, vestido uma camisa de malha de manga comprida, calça jeans, tênis, levando dentro de um saco (destes que as pessoas levam para a academia) uma capa de chuva e um binóculos. Outras pessoas também aguardavam táxi, todos para o mesmo destino: o Estádio do Morumbi para assistir ao primeiro show da 360º Tour na cidade. Vi que um táxi deu seta para entrar na porte-cochère do hotel. Voltei e fiquei ao lado de onde ele parou, logo perguntando se ficaria livre. O motorista respondeu afirmativamente. Esperei o pessoal sair do carro para entrar. Quando falei meu destino, o simpático paraibano que me conduziu soltou uma exclamação de felicidade, dizendo que, enfim, levaria alguém para o show. Aproveitei para perguntar se ele poderia me buscar ao término do espetáculo, mas ele disse que não gostava de fazer este tipo de combinação porque era difícil encontrar as pessoas na saída, especialmente quem não conhecia a região, mesmo ficando com os números dos telefones de cada um, pois nunca se sabia em quais ruas de acesso o trânsito seria fechado. De qualquer forma, ele me deu algumas dicas de onde pegar táxi, inclusive o local que ele costumava ficar, mas sem compromisso de me esperar. Demoramos uma hora para chegar ao estádio, tempo onde levamos um ótimo papo. Ele me contou sua vida, seus problemas com um filho que foi usuário de droga, a paixão e o cuidado que teve com ele, além de falar sobre o passeio matinal que faz com seu cão labrador. Ele cobrou a corrida no taxímetro, pois disse que não se sentia bem negociando preços como alguns colegas de praça fazem quando há eventos deste porte na cidade. Paguei R$ 40,00 pelo percurso. O movimento era grande em torno do estádio, mas sem tumulto. Muito bem sinalizado, além de pessoal contratado pela produção bem preparado, dando as informações que todos buscavam, tais como a direção para a entrada para o portão 5, meu caso. Meu ingresso, comprado pela internet e entregue em casa, custou R$ 490,00, incluídas as taxas de administração e de entrega via correio, era para a cadeira superior azul premium. Não sabia como era, apenas que teria um lugar para me sentar. Em alguns portões, especialmente os de acesso para a pista, havia filas, mas a minha entrada estava tranquila. Havia um controle inicial, onde apenas o ingresso era checado para ver se estava na entrada correta, depois outra checagem para indicar o melhor acesso, em seguida a revista de bolsos e bolsas para ver se não estava com algo proibido, depois a catraca, onde o ingresso era novamente conferido e destacada a parte que ficava com a produção e, por fim, no caso da minha escolha, uma pulseira azul era colocada em um dos pulsos, significando que tínhamos livre saída depois que entrássemos, voltando quantas vezes quiser para as cadeiras. Uma pessoa indicava por onde descer, pedindo para ter atenção aos degraus logo à frente. Muita gente já estava no estádio. Adorei a minha escolha, pois além de ter uma cadeira individual para me sentar, o local onde elas ficam é coberto, protegido de vento e de eventual chuva. Por sorte, consegui sentar em uma cadeira ótima, na ponta da fileira, como gosto, com uma excelente visão do imenso palco do show, que tinha um formato futurístico, lembrando uma grande aranha, como as de Louise Bourgeois (com um exemplar no acervo do MAM Ibirapuera). Antes de entrar na área das cadeiras, já passei no banheiro, pois estava sozinho e qualquer ida ao banheiro durante o show significaria uma perda de assento. A fila para comprar alguma coisa no bar era grande, mas para quem queria apenas água e salgados Elma Chips nem precisava sair da cadeira, pois havia gente uniformizada vendendo estes itens, assim como também vendiam binóculos. Tentei, por várias vezes, postar fotos no Facebook ou mesmo postar apenas mensagens, mas o sinal estava péssimo, caindo toda hora. As pessoas que estavam ao meu lado reclamavam que não conseguiam fazer ligações. Estava com dois celulares, um da operadora Claro (institucional, do meu trabalho) e um da operadora TIM (particular, o que uso quando não estou em serviço). O meu TIM também falhava no envio de mensagens. Liguei o Claro para checar e este nem sinal tinha. Por coincidência ou não, a operadora Oi era uma das patrocinadoras do show. Somente quem tinha celular da Oi sentado perto de mim conseguia fazer as ligações e postar mensagens nas redes sociais. Acho que vou enviar uma reclamação para a Anatel sobre isto quando voltar à Brasília. À medida em que os ponteiros do relógio se aproximavam de 20 horas, o Morumbi ia ficando cada vez mais cheio. A abertura do show estava marcada para ter início às oito horas da noite, mas o trio que forma o Muse, responsável pelo show de abertura, iniciou seu show às 19:55 horas. Não conhecia absolutamente nada da banda, ao contrário de uma grande parcela do público, que arriscava até a acompanhar algumas músicas. Eles usaram a mesma estrutura de palco do U2, com os telões imensos em forma circular no alto da "aranha" mostrando nitidamente a performance de cada músico. Aproveitei para ajustar o foco de meu binóculos. O som do trio me lembrou bandas das décadas de 60 e 70, com guitarras visivelmente inspiradas em Jimi Hendrix. Mas a maior semelhança que achei foi com o Queen, especialmente quando o vocalista se senta ao piano, branco, para solar uma canção. A imagem de Freddy Mercury veio imediatamente à minha mente. O show deles é vibrante, mas não me atraiu muito. Foi curto, pois acabou às 20:45 horas, quando um imenso relógio apareceu no telão, enquanto técnicos se movimentavam no palco para arrumar a cena para a grande banda da noite. Durante o show do Muse, quando não houve bis, choveu por alguns instantes, obrigando muita gente a usar as capas de chuva que estavam sendo vendidas a R$ 15,00 nas imediações do Morumbi. Nesta hora vi como é bom ficar em local protegido. A chuva caía e eu sentado, vendo o show, tentando acessar a internet pelo celular, sem precisar me preocupar em colocar capa ou proteger minhas coisas da água. A fome bateu. Comprei um saco de Doritos por R$ 6,00. Não entendia o relógio no telão, pois ele não marcava a hora correta, mas sabia que marcava alguma contagem regressiva para o início da performance do U2. Realmente, o show começa com o relógio se desfazendo, efeitos de luzes e gelo seco nas pernas da aranha e na antena no alto do palco eram o prenúncio da entrada da banda. No telão, escotilhas de uma espaçonave prateada apareceram. Quando as escotilhas se abriram, o público entrou em delírio, pois imagens ao vivo dos quatro integrantes da banda vindo em direção ao palco começaram a ser mostradas. Foi uma explosão de alegria, palmas, uivos, braços para o alto e muitos, mas muitos flashs. O U2 entrou em cena e fez um show memorável. Foram duas horas e dez minutos de um espetáculo recheado de tudo que os fãs queriam ver de Bono & cia. A maioria dos hits foi cantada (Sunday, Blood Sunday, Elevation, In A Little While, Beautiful Day, I Still Haven't Found What I'm Looking For, With Or Without You, Walk On, Miss Sarajevo, I Will Follow), músicas do atual álbum, No Line On The Horizon foram executadas, quase todas as fases da banda estiveram presentes no set list, Bono fez seu discurso pacifista em vários momentos, elogiou o Brasil, falou sobre o exemplo que somos para o mundo, mesmo não sendo perfeitos e com muitos problemas a resolver, elogiou a Presidente Dilma por ela ter colocado o fim da miséria como objetivo de seu governo, falou sobre a situação do Oriente Médio, especialmente da Líbia, da libertação, após uma década, de uma ativista política de Burma em decorrência de pressão internacional, lembrou de sua militância na Anistia Internacional, agradecendo o apoio que recebe, escolheu uma mulher da área vip para subir ao palco e sentada junto a ele ler alguns dos versos de Carinhoso, eterno sucesso de Pixinguinha, quando ele falou em português, por mais de uma vez, a frase "serei feliz", colocou um vídeo do Bispo Desmond Tutu em um belo discurso sobre a humanidade, terminando dizendo que todos somos "um", e cantou maravilhosamente. Ninguém ficou parado em nenhum momento do show. Nem mesmo nas músicas mais lentas, quando ficamos balançando feito palmeiras ao vento. A energética Sunday, Blood Sunday foi executada com a projeção de fotos dos conflitos atuais em luta pela democracia no Oriente Médio. Já perto do final, Bono fala, com legenda simultânea em português no telão, sobre o assassinato das crianças na escola de Realengo, no Rio de Janeiro. Como um messias, ele pede que todos levantem os celulares acesos em homenagem a estas crianças e às suas famílias. Enquanto canta, os nomes das meninas e meninos assassinados passam no telão. Emoção do público. O show termina, mas o show no telão continua, sinal de que eles voltariam para o bis. A volta é triunfal, com um microfone em forma de volante de carro, todo iluminado de vermelho/azul, pendurado do teto do palco. Bono canta agarrado a este microfone e até mesmo se pendura nele. Chegava a hora de Moment of Surrender, a música que encerrou o show. Bono coloca uma bandeira do Brasil no palco, se ajoelha, agradece ao público e solta um "God bless you" (Deus abençoe vocês, em tradução literal). Era sua verve messiânica aparecendo novamente. O relógio marcava 23:50 horas. Terminava um grande show: show de uma banda perfeita, show de tecnologia, show de performance, show de carisma, show de humanidade, show de experiência, show de emoção, show de solidariedade, show de música de verdade. Não é a toa que esta turnê é chamada de a maior do mundo. A chuva deu uma trégua durante todo o show, embora o céu estivesse bem carregado com nuvens pesadas. De onde eu estava, pude rapidamente sair, chegando à rua e caminhando em direção ao local onde o taxista me disse que poderia estar. No caminho, promotores da revista Billboard entregam um exemplar gratuito com Bono Vox na capa. Peguei uma. Subi a rua, toda interditada, até chegar onde havia vários táxis estacionados, mas todos já previamente reservados. A chuva resolveu cair forte. Vesti a capa, protegi os objetos da água, e voltei em direção ao estádio, subindo a outra ladeira, também indicada pelo taxista. Uma multidão fazia o mesmo. Apenas táxis estavam estacionados em ambos os lados da rua, mas nenhum disponível. Continuei minha caminhada, pois sabia que mais à frente havia um hospital, onde poderia achar um táxi mais facilmente. Durante a caminhada, ia dando sinais para os táxis. A maioria não parava. Dois pararam, perguntaram para onde queria ir. Quando respondia que para a região dos Jardins, diziam que preferiam ir em outra direção, pois já fariam a última corrida antes de voltar para casa. Depois de caminhar por meia hora, vi um táxi parado. Perguntei se estava livre e o motorista disse que sim, perguntando meu destino. Quando soube, disse que não cobraria no taxímetro. Seriam R$ 50,00 a corrida. Aceitei de pronto, sem negociar, afinal, no taxímetro, tinha pago R$ 40,00 para o trajeto inverso e vi que muitos no caminho estavam dispostos a pagar até R$ 100,00 para a mesma região. Durante a minha caminhada até achar este táxi, a chuva já havia parado. Rapidamente cheguei onde queria, na Lanchonete da Cidade (Alameda Tietê, 110, Cerqueira César), onde me sentei no balcão para saborear uma novidade no cardápio, o Bombom a La Presse, um sanduíche prensado com hamburger bovino de 180 gramas, rodelas de tomate e de mussarela de búfala, acompanhado com batata frita em forma de parafuso. Saciei a fome, o sanduíche é ótimo, a batata frita tem um visual criativo, e a apresentação do prato é muito bonita. Como estava de costas para a entrada, nem percebi o quanto lotou depois que cheguei com uma fila de espera bem grande, a maioria oriunda do mesmo show que eu. Voltei a pé para o hotel, muito além de uma hora da madrugada. Voltei satisfeito com o dia. Tarde com amigos e noite inesquecível com a melhor banda do mundo, na minha opinião: U2. Que vontade me deu de ver este show novamente! Ainda bem que comprei o blu-ray desta turnê.





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