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sexta-feira, 1 de abril de 2011

IRON MAIDEN


Foram necessários quase cinco décadas para que eu fosse a um show de heavy metal. Entrei 2011 com um propósito de conhecer o que ainda não conhecia no campo cultural. Aproveitei a onda de shows internacionais que invadiu o Brasil neste início de ano, com muita coisa vindo para Brasília, para comprar entrada para o show The Final Frontier World Tour protagonizado por uma das bandas referência deste subgênero do rock, o Iron Maiden. Por R$ 250,00, valor de meia entrada, comprei ingresso para a pista premium, no mesmo local em que assisti a performance de Shakira na semana anterior, ou seja, no estacionamento do Estádio Mané Garrincha. Marcado para ter início às 21 horas, consegui estacionar o carro, bem longe da entrada, por sinal, no momento em que os primeiros acordes de guitarra soaram no ar. Eram 21:25 horas, atraso pequeno em relação aos últimos shows internacionais nos quais estive presente. Enquanto caminhava a passos largos para entrar logo, fiquei espantado de ver a multidão de fãs, todos vestidos com camisetas pretas e calças jeans, que estavam do lado de fora, posicionados em locais estratégicos, tentando ver o show pelo telão à direita do palco. A visão não era 100%, mas dava para acompanhar as performances dos músicos cinquentões. O som da banda era ouvido nitidamente em toda a área do estacionamento. Passei pela multidão, notando que eles faziam a festa e a féria dos vendedores ambulantes de cerveja e de comidinhas típicas de rua. Quando entrei, a banda já tocava a segunda música. Estava lotado (público de 15 mil pessoas segundo informações que li depois, mesma quantidade que conferiu o show de Shakira), mas não tive dificuldades de achar um ótimo lugar com visão total do palco. Quando me posicionei, uma leve chuva caiu por cerca de dez minutos, mas logo o céu ficou limpo. O sexteto ficou o tempo todo do show na parte da frente, pois o palco era fechado com umas espécies de caixas que lembravam containers abandonados, destes que a gente vê em filmes de ficção científica. O único que se movia muito, inclusive correndo de um lado para o outro do palco e em cima destas caixas, onde havia uma passarela do tamanho da largura do espaço cênico, era o vocalista Bruce Dickinson. Ao fundo, enormes paineis pintados em pano eram trocados a cada música. Em muitos deles, o símbolo da banda, o morto vivo Edge era a figura central. Havia um painel que me fez lembrar o cartaz do filme Deus e O Diabo na Terra do Sol, clássico brasileiro de Glauber Rocha, pois Edge estava muito parecido com um cangaceiro, envolto em uma moldura como a do cartaz do filme. Como nunca fui fã de heavy metal, praticamente não conhecia nenhuma música, diferente da maioria que estava presente, pois todos cantavam (alguns gritavam) todas as músicas. Tinha um cara do meu lado que sabia o set list completo e na ordem exata, pois bastava acabar uma música e ele dizia para quem estava do seu lado o nome da próxima música (também li que o Iron Maiden é fiel à ordem de seu set list, não fazendo alterações de um show para o outro na mesma turnê). A idade média do público era quarenta e poucos anos, mas muitos jovens e até crianças acompanhavam seus pais. Todos, como os fãs do lado de fora, devidamente uniformizados com camisetas pretas com estampas do Maiden, como eles gritavam nos intervalos entre uma música e outra, ou com estampas de outras bandas do mesmo estilo. Para mim, dois momentos eram esperados: a entrada de Edge e a interpretação da única música que eu sabia a letra, a apocalíptica The Number of The Beast. Ambos os momentos foram reservados para o final do show. Pouco antes de terminar, antes do bis, o morto vivo entrou em cena. Quando o público viu o boneco do Edge foi uma espécie de histeria coletiva, entre urros, braços levantados e muitos flashs. Já The Number of The Beast veio no bis, com outra explosão do público que gritava o número 666. Pouco depois das 23 horas, terminava o show. Saí com a sensação de que ouvi a mesma música e os mesmos riffs de guitarra do início ao fim. Embora sejam públicos totalmente distintos e até mesmo antagônicos, diria que um show de heavy metal pouco se difere de um show de axé. A histeria está presente, a coreografia coletiva está presente e é incentivada pelo vocalista (no caso, um balançar sem fim de cabeça para cima e para baixo, uma simulação que estão tocando guitarra e um sincronizado levantar de braços soltando urros), o vocalista fala muito (muito parecido com Ivete Sangalo, Durval Lélis e outras estrelas do axé), e a inevitável participação do público respondendo em uníssono os sons vocais feitos pelo cantor. Isto sem contar com a tal sensação de que a música é a mesma, como no axé. Foi uma boa experiência e serviu para conhecer este tipo de show. Talvez um fato que presenciei na noite da quinta-feira diferente de shows de axé foi a grande maresia de maconha que inunda o público, muito mais próximo de um show de reggae (no axé, parece que o público prefere mais cheirar loló). Detesto o cheiro de maconha, mas era impossível fugir dele. A saída do local foi muito tranquila. Como o meu carro estava longe, quando nele cheguei, consegui, rapidamente, alcançar a pista de rolamento para tentar comer alguma coisa, pois a fome era grande, mas parei em dois locais no caminho de casa e ambos dei com a cara na porta fechada. Parei, então, no Giraffa's da quadra onde moro, mesmo local onde uma expressiva quantidade de pessoas que estavam no show também parou, comentando a performance que viram. Fiquei com uma pergunta na cabeça: "será que ainda vou assistir a um outro show de heavy metal ou este bastou?" Juro que não sei responder.

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