Em 2011 resolvi colocar em prática uma ideia que há muito vinha amadurecendo em minha cabeça. Na medida do possível (leia-se tempo e dinheiro), ir em tudo quanto é show musical, oportunidade para conhecer gêneros que tinha/tenho preconceitos e cantores/cantoras/bandas que jamais pensaria em ver ao vivo. Quando vi a propaganda que Natalie Cole estaria em Brasília, em show único na noite de 12 de abril, no Auditório Master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, acessei a página do Correio Braziliense, imprimi o cupom de descontos do Sempre Você (necessário ser assinante) que me garantia pagar meia entrada e fui até o único ponto de vendas de ingressos, a loja VR do Brasília Shopping. Paguei R$ 250,00 para ficar na poltrona em área vip, mais próxima ao palco, fazendo um protesto, pois a produção do show parece ainda viver na era das trevas, aceitando como pagamento apenas dinheiro, enquanto todos os demais shows internacionais que estão acontecendo em Brasília a opção de pagar com cartão já é uma realidade. A dificuldade de estacionamento no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, um lugar enorme com pouquíssimas vagas, me fez chegar com uma hora de antecedência ao local, onde passei o tempo navegando na internet pelo celular. As portas se abriram quase na hora marcada para ter início o show, sinal de que teríamos, como já de rotina na cidade, um atraso. O auditório comporta quase três mil pessoas. Como o público não era grande o suficiente para enchê-lo, ficou parecendo estar vazio, embora havia um bom número de pessoas, a esmagadora maioria pra lá da casa dos cinquenta anos. Os sete músicos que a acompanham e mais duas backing vocals se posicionaram no palco ainda com as luzes do teatro acesas. Houve um anúncio sobre a proibição de tirar fotos e filmar, apagaram-se as luzes, soando os primeiros acordes para a entrada, às 21:20 horas, de Natalie Cole que usava um vestido longo de um dourado esmaecido muito brilhante, que deixava suas costas totalmente a descoberto, mostrando uma tatuagem na altura de um dos ombros e um corpo magro e esguio. Na pele, muita purpurina. Sua voz preencheu de forma contundente o ambiente. A mulher que sentava ao meu lado parecia uma histérica em shows de bandas adolescentes, assobiando após cada música, gritando, batendo palmas e não entendendo nada do que a cantora falava, pois sempre perguntava para a sua amiga do lado se ela estava entendendo alguma coisa. Entre uma música e outra, Natalie Cole conversava com a plateia, sempre em inglês, ou com seus músicos, mostrando-se bem descontraída e humorada. A primeira parte do show foi morna, sonolenta, cheguei quase a cochilar. A plateia se animou quando ela anunciou que faria um set de músicas brasileiras, mas com letras em inglês. Para minha decepção, a maioria era de Sérgio Mendes, de quem não sou fã. Mas quando a melodia de introdução de Dindi (Tom Jobim, Aloysio de Oliveira e Ray Gilbert) soou, houve um momento de júbilo coletivo. A interpretação e o arranjo para a canção foram muito bonitos. A partir daí o show mudou de tom (sem trocadilhos), melhorando consideravelmente, quando ela cantou alguns sucessos e standards mundiais como Fever (Eddie Cooley & John Davenport), gravada por uma constelação de astros da música como Madonna, Peggy Lee, Michael Bublé, Beyoncé, Ella Fitzgerald, Elvis Presley, The Doors, Diana Krall e tantos outros. Momento de emoção quando ela interpretou Smile (Charles Chaplin) e a obrigatória Unforgettable, repetindo o dueto que fez com seu pai Nat King Cole depois que ele morreu graças à tecnologia. Nesta hora, ela repetiu o dueto no palco com o vídeo de seu pai que passava nos dois telões localizados nas laterais do auditório. Por falar em telão, a transmissão ao vivo do show tinha uma péssima resolução. Ela arrancou risos da plateia quando, sentada, disse que tem uma pequena porção rockn' roll, fazendo o sinal com os dois dedos de algo muito pequeno. Era o momento de interpretar, em arranjo mais para o jazz, uma música da banda Fleetwood Mac. Com uma hora e meia de show, ela encerrou com uma canção alegre, vibrante, diria até dançante, mas ninguém ousou se levantar das cadeiras. Agradecendo com um aceno de mãos, ela se despediu, mas a banda permaneceu no palco, sinal de que um bis viria. Longamente aplaudida, ela demorou um tempo a retornar ao palco, quando cantou somente mais uma música, se despedindo definitivamente do público. A banda ainda permaneceu, mas um batido de bateria de escola de samba, em som mecânico, colocou a plateia, que ainda insistia em pedir mais um, para sair do auditório. Com o sambão correndo solto, as duas backings vocals resolveram se requebrar e até que deram conta do recado, arrancando aplausos e risos da plateia. Na saída, ouvi opiniões divididas sobre o show, com elogios e também reclamações. O certo é que, para mim, ele não foi homogêneo, com altos e baixos. Valeu a pena ir, pois pude apreciar sua bela voz e alegria ao vivo. Talvez o local escolhido pela produção não tenha sido o mais adequado. O show é para locais menores, como o Teatro Oi, onde o clima favorece um show mais intimista, mesmo com uma banda enorme acompanhando a cantora. Já no estacionamento, demorei mais de quarenta minutos para conseguir sair, pois quem estaciona em frente ao Centro de Convenções acaba levando desvantagem na hora de ir embora, pois há um fluxo intenso de carros na via de rolamento, fazendo com que os carros que estão na área do estacionamento tenham dificuldades de saírem do lugar. Cheguei em casa depois de meia noite.
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