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segunda-feira, 18 de abril de 2011

UM DIA DE HISTÓRIA E CULTURA EM BOGOTÁ

Depois do café da manhã, nos reunimos no lobby do hotel às 9:30 horas para o início de um excelente city tour com o guia Luis Suarez, indicado pelo hotel. A hora do guia custou 80.000 COP e a van para todo o dia nos custou 200.000 COP. Deixamos por conta de Luiz o roteiro. Ele é formado em história e em turismo, nos proporcionando uma verdadeira aula sobre a Colômbia, sobre Bogotá, cultura, geografia e história durante todo o trajeto que fizemos de carro. Passamos por dois dos mais elegantes bairros da cidade, Santana e Rosales, onde estão várias embaixadas e casas de diplomatas, todas devidamente identificadas pelo guia. A primeira parada foi na Plaza de Toros de La Santamaría. Chovia neste hora, mas isto não nos impediu de fazer uma visita ao local. A visita é gratuita. Para entrar, bastar tocar a campainha. As touradas, chamadas aqui de "corridas", herança espanhola, acontecem nos meses de janeiro e fevereiro. A construção é toda feita em tijolinhos aparentes. O guia nos mostrou onde os touros ficam antes de entrar na arena e como é feita a preparação deles 48 horas antes para que entrem extremamente irados. Uma judiação com o animal. Não me agrada este tipo de coisa. Na temporada das corridas, segundo o guia, há vários grupos em defesa dos animais que fazem protestos nas imediações. Em frente à Plaza de Toros está o edifício mais alto de Bogotá, com 47 andares, mas que será superado por um hotel que está em construção no centro da cidade, que terá 66 pisos. De volta ao carro, o guia continuou nos falando sobre a história recente do país, incluindo como surgiram as FARC, de como os americanos introduziram a produção de cocaína no país e de como o narcotráfico dominou a Colômbia por algumas décadas, tornando as cidades perigosas, afastando os investimentos estrangeiros e os turistas. Hoje, com um intenso trabalho de combate às drogas do governo, o país está bem melhor, em franca expansão econômica e todos se sentem seguros novamente para sair às ruas, passear com a família e o turismo está crescendo tanto na capital quanto em outras regiões da Colômbia. Fomos em direção ao Centro Histórico, onde paramos para um café. O café de Colômbia é famoso no mundo inteiro, muito pelo forte marketing utilizado pelos cafeicultores. Particularmente, o achei muito forte. Esta parada foi em uma lanchonete chamada Pan de Bono Y Café. Comemos o tal pan de bono, muito parecido com nosso pão de queijo, um pouco adocicado, tendo em vista que leva milho em sua massa. Gostei do seu sabor. A conta ficou para sete pessoas em 30.000 COP. Ao lado do café, existe um mercado de artesanato, onde paramos para ver as peças, especialmente as jóias em esmeralda. Descemos a pé pela rua, passando ao lado do famoso Museo del Oro, indo direto para três igrejas localizadas praticamente uma ao lado da outra. Como estávamos no Domingo de Ramos e por ser a Colômbia um país majoritariamente católico, as igrejas estavam cheias, com realização de missas alusivas ao dia. Muitos fieis portavam ramos em suas mãos. A primeira das três igrejas que entramos foi a Iglesia de La Vera Cruz, inaugurada no século XVII, com paredes brancas e muito ébano trazido do norte da África. As obras em madeira impressionam pela grandiosidade, pela beleza e pela austeridade. A próxima igreja em que entramos foi a Iglesia de La Tercera (Ordem de San Francisco), com um belo altar em prata colombiana. A terceira igreja que visitamos é a mais antiga da cidade onde há visitação e também missas. Ela estava lotada. O altar é todo feito em ouro, mas o que mais impressiona é uma capela do lado direito do altar, fechada com grades, pois suas paredes tem sete centímetros de espessura de puro ouro colombiano. Esta igreja chama-se Iglesia de San Francisco, datada de 1550. Segundo o guia, seu altar é um dos maiores da América Latina. Saindo da igreja, o guia nos mostrou um edifício onde funciona o mercado negro de venda de esmeraldas, em um prédio na Avenida Jimenez. A Colômbia responde por 65% da produção mundial de esmeraldas. Na rua, alguns homens faziam câmbio. Um dos amigos precisava trocar dinheiro. O guia nos levou a um destes cambistas, no qual, segundo ele, podíamos confiar. Seguimos então para o Museo del Oro. Aos domingos, todos os museus de Bogotá tem entrada gratuita. Basta passar na bilheteria para pegar o ingresso cortesia. Nem precisa dizer o quanto estava movimentado o museu, o que me alegrou muito, pois mostra que o povo colombiano se interessa por arte e por sua história. Nos demais dias da semana em que o museu abre a entrada custa 3.000 COP. Ficamos por mais de uma hora dentro do museu, quando o guia nos deu uma aula excepcional da história do ouro no país e do papel deste metal nas civilizações antes da colonização espanhola. Impressionam as peças, seus detalhes, seus significados, sua simbologia em relação à hierarquia e ao status de quem usava determinados ornamentos. As narigueiras são lindas e ao mesmo tempo estranhas, pois é difícil imaginar como alguém podia carregar aqueles adornos pesados no nariz, como um piercing. Vários visitantes aproveitavam as explicações do nosso guia, que não se importava em também esclarecer a estas pessoas sobre suas dúvidas. Eu sabia da importância do museu, que tem 36.000 peças em exposição, fora as da reserva técnica, além das que circulam em mostras itinerantes, mas fiquei impressionado com o espaço moderno, a forma da exposição das peças, da preocupação em ter legendas (em espanhol e em inglês) para explicar cada conjunto exposto e pela facilidade de circulação. Mesmo com o museu lotado, não tivemos problemas em percorrer as vitrines. Saindo deste maravilhoso museu, a fome apertou, mas o guia já havia reservado um restaurante nas proximidades: El Son de Los Grillos (Calle 10 # 3-60). O restaurante é simpático, com decoração rústica. Fizeram-nos companhia no almoço tanto o guia quanto o motorista da van. Pedi um suco de amora que estava ótimo. Como entrada, mandioca frita com molho picante de guacamole e uma banana prensada e frita com um molho que não experimentei. De prato principal, segui a sugestão do nosso guia, pedindo um filé mignon ao ponto, acompanhado por uma salada verde e purê de batatas, além de um molho de mostarda. A salada chegou primeiro: alface, tomate, rabanete, gergelim torrado e molho de guacamole. Estava muito gostosa. O lomo, como eles chamam o filé mignon por aqui, estava macio, ao ponto, como pedi. Seu sabor era honesto, nada de excepcional. Não cheguei a comer o purê de batatas que o acompanhava. Nada de sobremesa, apenas um café tinto, assim é chamado o café forte em Bogotá. Não era expresso, mas sim coado. Não aprecio este tipo de café. Saindo do restaurante, o tempo tinha mudado, a chuva parara e o céu estava com alguns claros azuis. Deu para ver a igreja que fica no alto do Cerro Monserrate. Nosso destino era o Museo Botero. Caminhando pelas ruas do centro, notei que as casas são bem conservadas, coloridas, muitas com a bandeira da Colômbia hasteada. Passamos em frente a uma construção moderna, o Centro Cultural Gabriel García Marquez, famoso escritor colombiano que hoje vive no México. O centro foi construído pelos dois países. O Museo Botero tem entrada gratuita todos os dias em que funciona (fecha às terças-feiras). Isto foi uma exigência do artista Fernando Botero quando resolveu doar 10% de sua coleção particular para a Prefeitura de Bogotá. Ele também fez o mesmo para a Prefeitura de Medellín, sua cidade natal, onde a doação teve uma porcentagem maior, 15%. Segundo o guia, ele só possui 15% de sua coleção original, pois já vendeu o restante. Atualmente, Botero mora na região da Toscana, Itália, em um castelo, uma vez que sua mulher é uma marquesa italiana. O museu funciona em uma casa colonial, também exigência do artista, no centro da cidade, onde outrora funcionava a Casa de La Moneda que cunhava notas e moedas para toda a América Latina, inclusive para o Brasil. Hoje, a casa pertence ao Banco de La República, uma espécie de Banco Central e abriga três museus: O Museo Numismático, o Museo de Arte Religiosa e o Museo Botero. Vimos apenas uma custódia preciosíssima no segundo museu citado, dedicando nosso tempo ao terceiro museu. São cerca de 120 obras de Botero e pouco mais do que 80 pinturas e esculturas de grandes pintores mundiais, tais como Monet, Degas, Picasso, Dalí, Miró, Léger e Renoir. Tudo pertencia a Botero. Claro que as obras destes pintores de fama mundial são importantes e interessantes, mas o que impressiona mesmo são as obras do artista colombiano. Luis, nosso guia, nos explicou em detalhes sobre elementos recorrentes na obra do artista, além do que todos mais conhecem que são as figuras sempre gordas. O rosto, tanto de mulheres quanto de homens, tem sempre a mesma feição, a de sua mãe. A maioria das mulheres nuas tem uma pinta nas nádegas, uma representação da pinta que Botero tem no rosto. Também há uma presença forte nas mulheres de suas pinturas de unhas pintadas, uma luz acima de suas cabeças que representa a vida e pelos nas axilas. Suas crianças tem sempre as feições de pessoas mais velhas, fato creditado à morte de um de seus três filhos decapitado quando colocou a cabeça para fora em um passeio de carro. Esta morte também está representada nas pinturas de natureza morta, quando há frutos cortados (a cabeça decapitada) e gavetas abertas (lembrando o caixão em que foi enterrada a criança). Botero se inspirou mais de uma vez em Velasquez, colocando espelhos em suas pinturas para retratar o lado que não vemos da pintura, ou seja, seria o local onde estamos ao observar o quadro. Há inclusive uma pintura que homenageia o mais famosos quadro de Velasquez, As Meninas, com um retrato ampliado de uma das infantas, porém com um rosto de idosa. O quadro que homenageia a Mona Lisa, de Leonardo Da Vinci é um dos raros quadros onde uma pessoa esboça um sorriso. Dentre os quadros que vimos, o único que há um sorriso escancarado é a pintura que representa a morte (um esqueleto) tocando um violão sem cordas. A visão do pecado também tem forte presença em sua obra, com mulheres debaixo de árvores de maçãs e cobras vermelhas desenhadas. Há uma série só de desenhos, onde há um gordo Cristo crucifixado. Outra seção que chama a atenção é a que expõe os quadros que representam fatos negativos da história colombiana, como os carros explodidos com bombas, os narcotraficantes e figuras das FARC. Também há uma sala dedicada às suas esculturas. Belo museu, que ainda tem alguns pátios internos muito bonitos, com um chafariz ao centro. Do museu, fomos para nossa última visita turística, a maior praça da cidade, local onde está a Catedral, a sede da Prefeitura (Palacio de Liévano), o Palacio de La Justicia e o Parlamento. A praça se chama Plaza Bolívar e é nela que acontecem todas as manifestações políticas da capital. Toda a região, com suas ruas estreitas, se chama La Candelaria. Voltamos à van e ao hotel. Chegava ao fim oito horas de um ótimo passeio, com um guia simpático, eficiente, atencioso, conhecedor da história e da cultura de seu país. Acho que foi o melhor guia com quem já tive oportunidade de fazer passeios e city tours em minhas viagens. Este "recorrido" pela cidade nos custou ao todo 840.000 COP para seis pessoas (algo em torno de U$ 467, o que dá U$ 78 por pessoa, ou seja, R$ 128,00). Vale muito à pena. Nosso passeio terminou às 17:30 horas. Como eu precisava fazer câmbio, eu e mais dois amigos fomos ao Shopping Andino, a poucas quadras de distância do hotel, onde não só troquei dinheiro, mas também comprei um tênis Adidas que me chamou a atenção logo na vitrine por sua cor: vermelho. Próprio para correr, é muito leve e super confortável. Aproveitei para conhecer a região perto do hotel, repleta de lojas de grife, de bares e de restaurantes bem decorados.
Voltamos para o hotel, mas logo saímos novamente, desta vez somente quatro pessoas, para jantar no restaurante Andrés D.C. Bogotá, (Calle 82 # 12-21 - Zona Rosa), dos mesmos proprietários do famoso Andrés Carne de Res que fica em Chía, uma cidade dormitório a quarenta minutos de carro de Bogotá. O restaurante da noite ficava bem próximo ao hotel, praticamente em frente ao shopping onde fiz o câmbio. Tínhamos reserva. O restaurante é enorme, com vários pisos, cada um deles representando locais da mitologia cristã: inferno, onde ficamos, terra, purgatório e céu (ou paraíso). A decoração é uma atração do local, com muitos penduricalhos. Como ficamos no inferno, o tom vermelho predominava. O serviço é rápido, com a atendente explicando bem as centenas de opções do menu. Aproveitamos que tinha wi-fi livre e todos postamos comentários e fotos no Facebook. Experimentei um refrigerante local, Colombiana, doce, lembra o Inca Cola do Peru, porém mais fraco e de cor parecida com nosso guaraná, porém com menos gás. Pedimos um patacón gigante. Trata-se de banana verde prensada e frita, com uma camada de queijo por cima, parecendo uma pizza. Para colocar sobre as fatias, o prato vem com seis molhos em canecas coloridas. Tinha molho de guacamole picante, de tomate, de carne moída, de queijo, de bacon, de coentro. Comi dois pedaços. O gosto da massa é sem graça. Tem que colocar algum molho para dar sabor. Logo em seguida, pedimos nova entrada, desta vez as empanadas colombianas que não são assadas como as argentinas, mas fritas. Pedimos uma para cada, com recheio de carne moída. Chegam quentes à mesa, muito saborosas, mas são pequenas. Servem mesmo para uma boa entrada. Mas já não tínhamos mais fome. Pedimos duas sobremesas para compartir: um queijo com melaço de cana, prato que vem quente, e uma tortilha bem fina, parecendo uma hóstia gigante, acompanhada de doce de leite e de doce de amora. A combinação com o doce de leite é muito boa, mas o mesmo não vale para o doce de amora. Os outros dois amigos chegaram quando já estávamos na sobremesa. Eles pediram algo para comer, enquanto ficávamos trocando impressões sobre o dia excelente que tivemos. A conta ficou em 252.000 COP para os seis. Voltamos a pé para o hotel, com a noite bem fria. Hora de descansar, pois nesta segunda viajaremos para Cartagena.

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