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terça-feira, 26 de maio de 2009

DIVAGAÇÕES

Um quarto enfumaçado. Luz branca fraquinha num dos quatro cantos. Visibilidade crítica. Lágrimas correm dos olhos. Uma dor profunda invade a alma. Sem motivos, sem origem, apenas uma invasão momentânea e dilacerante. As lágrimas continuam a escorrer. Curtas, certeiras, como um moto contínuo. A luz fica mais fraca. A dor passa para o corpo e permanece. Uma angústia aperta este corpo, como uma prensa metálica. A fumaça e a luz se integram em um único ser, transponível, mas incerto. Não se sabe o que há no quarto. Apenas a fumaça, a luz branca e a dor. O corpo está inerte, como se a alma saísse por alguns instantes, passeando pelo quarto pequeno, sem rumo. O vazio preenche o ambiente. Não há nenhum móvel, nenhum quadro, nenhuma cor. Só o branco da luz fraca em em dos cantos do quarto. É um quarto? Fica a dúvida. A dor não passa. Os olhos estão cansados de verter lágrimas. Vermelhos.
Um barulho quebra o silêncio. Não identifica o barulho. Fica uma ansiedade no ar. As lágrimas cessam e a respiração, que era lenta, se acelera. O barulho agora é apenas do arfar das narinas. O corpo está parado, apenas as narinas se mexem e o peito acompanha o movimento da respiração, cada vez mais acelerada. O corpo não tem alma. Ela está zanzando pelo cubículo enfumaçado. De onde vem a fumaça? Onde se apaga a luz? Onde está a porta? Há janelas no ambiente? Perguntas sem respostas. A alma sai de seu exílio e volta para o corpo. Os músculos se contraem. Espasmos de dor. As lágrimas voltam aos olhos irritados. O coração dispara. A vontade de deitar e dormir é grande, mas uma força maior impede de fazê-lo. A alma se debate com o corpo. A dor aumenta. A boca se abre para exprimir a dor em um grito que corta o ar. O corpo está livre, mas a alma comanda e faz com que ele permaneça inerte, sofrendo a imensa dor que não tem local, que não tem origem, que não tem motivos. Apenas uma dor.
Novo barulho, desta vez mais perto e mais alto. O corpo tenta se mover, mas a dor da inércia é maior. O chão está molhado, indicando que a fumaça pode ser vapor. O piso é firme e frio. A luz branca fica mais fraca. A dor, ao contrário, se fortalece e se intensifica. A alma geme. Quer ir embora. Quer partir. Voltar às origens. Origens que há muito ficaram para trás. O corpo insiste em ficar, mas quer se mover, procurar o barulho, visualizar outros mundos fora de seu cubículo apertado.
O barulho é intenso e constante. As paredes caem, o vapor se dissipa no ar. A dor é ainda mais forte. Não há mais luz. O corpo é esmagado pelos destroços das paredes e do teto. A alma observa de cima o fim do corpo. Não há mais dor. Não há mais luz. Não há mais fumaça. Não há mais lágrimas. Não há mais corpo.
Apenas a alma, o infinito e a saudade do corpo e da dor.

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