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sexta-feira, 17 de julho de 2009

JOANA

Corpo de Cristo, diz o padre colocando a hóstia nas mãos de Joana. Amém, responde Joana instintivamente, coloca a hóstia na boca e, em comunhão com Deus, retorna para seu lugar. Ajoelha-se no genuflexório e continua suas orações de olhos fechados. Uma leve brisa sopra em seu rosto. Ela abre os olhos e vê uma linda borboleta amarela perdida no meio daquela igreja imensa, cheia de gente. Era domingo, missa das 19 horas. Joana fixa o olhar na borboleta e acontece. Joana é transportada para um outro local. Ela está sentada no corpo frágil do inseto e sobrevoa a igreja, a rua, a praça, a cidade, se perde nas nuvens. Tem dificuldades de respirar, mas a sensação de paz fala mais alto. De repente, a borboleta entra em uma mata fechada, cheia de árvores grandes com copas encorpadas e floridas. É um festival de cores para os olhos de Joana. Ela chora, não sabe se está alegre ou triste. Sonhava? Era real? Dúvidas invadiam sua mente e não havia respostas. A borboleta desce lentamente em um clarão na mata. Na verdade era um lindo lago de águas cristalinas, sem peixes. A borboleta amarela pousa em uma pedra e Joana desce. A borboleta alça voo e some no meio da mata ao redor do lago. Joana toca a pedra, vê que é real. Caminha até o lago e coloca sua mão para sentir a água. É fria. Realmente não há peixes. Não há barulho, apenas um silêncio envolve o ambiente. Não se ouve o canto de nenhum pássaro, nem o zumbido de insetos. Nem o farfalhar das folhas das árvores é ouvido. A sensação de paz e alegria que Joana vivencia é diferente, é uma nova experiência para ela. Queria contar para alguém, queria compartilhar o momento, mas não havia sinal de vida humana no local. Por um instante Joana tem medo de algum animal selvagem aparecer, uma onça, uma cobra, um jacaré. Não havia também sinais de vida animal. Joana tem vontade de nadar. Entra com a roupa do corpo no lago. Flutua sem fazer esforço. Ela está em êxtase.
Ela não tem relógio, portanto não sabe há quanto tempo está ali. Não sabe nem o motivo de estar ali. Tudo parece real. A pedra, a mata, a água, a borboleta que a trouxera e sumira, mas nada fazia sentido para ela. Ela tem certeza de que está dormindo, que vivencia um sonho. Dá uns tapas em si própria e não acontece nada. Não desperta. Aquilo é real.
Joana sai da água. Sua roupa seca instantaneamente. Fica assombrada. Magia? Senta na pedra e tem fome. Nada para comer por perto. Tem sede e bebe da água do lago. O sabor é diferente, não tem o gosto da água, o tal gosto sui generis que ela aprendera na escola ainda menina. Não consegue identificar o gosto. A fome passa e vem um sono repentino. Joana deita na mesma pedra em que a borboleta amarela a deixara, mirando o céu azul. Há poucas nuvens ralas a bailar no azul profundo a sua frente. Ela sente um solavanco, mas não há vento. Olha dos lados e nada vê. Novo solavanco, como se estivesse sendo carregada. Se levanta preocupada e anda um pouco. Tem medo de entrar na mata. Nada vê, nada escuta. Apenas sente um delicioso perfume no ar. O perfume é bom, é envolvente e a leva a perseguí-lo. O medo some, ela, enfim, entra na mata e uma escuridão a envolve. Quer voltar, mas o perfume não deixa. Ele é mais forte e ela, mesmo sem ver nada, vai andando em linha reta, apenas sentindo as texturas da mata em seu corpo. A escuridão é cada vez mais intensa. Não sabe como está andando sem se machucar. Ela vai e vai cada vez mais dentro da mata.
De repente, vê a borboleta amarela, apenas um ponto amarelo no meio da escuridão. A borboleta voa em sua direção, dá algumas voltas ao redor de sua cabeça. Joana tem a sensação de que escuta uma música cantada pela borboleta. E novamente se vê levada no corpo frágil daquele belo inseto. Só escuridão no caminho, até que ela consegue enxergar alguns pontos: a cidade, a praça, a rua, a igreja onde assistia a missa quando a borboleta a levara. Vê uma movimentação fora do comum nas escadarias da entrada principal da igreja. Ambulância de sirene ligada, maca, gente se aglomerando. A borboleta para no ar e deixa Joana ver melhor. Um corpo é carregado para fora do templo. Muita gente chora. Joana abre mais os olhos para ver se reconhece o corpo, pois frequentava aquela igreja há anos e conhecia todos os frequentadores da missa. Ela não consegue identificar o corpo, quer gritar, quer falar com a borboleta e não consegue emitir som. A borboleta, como se entendesse, voa mais baixo e Joana tem um choque. O corpo inerte era o dela. Morrera.

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