Inspirado em fatos reais.
Romualdo procura um cotonete. Já revirou todos os espaços do apartamento onde poderia estar guardado um único cotonete. Não acha. Resolve ir até o vizinho de porta. Bate a campainha e aguarda. Uma simpática senhora atende a porta e Ro, como era conhecido, pede emprestado uma haste de cotonete. A senhora abre um sorriso, pede um instante e, em segundos, volta carregando uma caixinha. Ro agradece, pega cinco hastes e volta para seu apartamento. Vai até a cozinha, pega material de limpeza e começa a limpar os cantinhos de cada parede, utilizando o cotonete. Ro era obcecado por limpeza. Já tinha ido a vários médicos e diagnosticaram transtorno obsessivo compulsivo. Ro não se importava e todo sábado fazia uma verdadeira revolução no apartamento, colocando móveis e objetos amontoados em um canto para dar uma geral. Ele aproveitava que Eliosvaldo, seu companheiro, sempre corria no parque da cidade nas manhãs de sábado, para fazer a tradicional limpeza. Ro e Eliosvaldo estão juntos há dezenove anos e são muito felizes. Já deixaram há muito de levantar bandeiras em favor de movimentos homossexuais, mas participam sempre de eventos em prol da causa. Neste sábado, Ro estava muito apressado, pois viajaria na parte da tarde. Visitará sua mãe, que mora em outro estado. Eliosvaldo corre no parque, como todas as manhãs. Naturalista, preocupa-se com a saúde do corpo e da mente. Praticante de yoga e amante da natureza. Neste sábado, ao correr, Eliosvaldo está ouvindo música, com seu ipod no ouvido. Ro acaba a limpeza e liga para Eliosvaldo, pois queria almoçar mais cedo, já que deveria estar no aeroporto no meio da tarde. O celular toca e ninguém atende. Eliosvado havia deixado o aparelho em casa, no modo silencioso. Ro fica furioso quando Eliosvaldo chega. Esbraveja, grita muito. Os gritos eram tão altos que qualquer um que passasse ao largo do prédio ouviria, mesmo eles morando no sexto andar. Eliosvaldo nada falou, entrou no banheiro e ficou um longo tempo tomando um banho. Saiu do banho, arrumou e foram almoçar em um restaurante perto, já com as malas de Ro no bagageiro do carro. Ao terminarem o almoço, quando não trocaram uma só palavra, Eliosvaldo levou Ro ao aeroporto. Não se despediram. Eliosvaldo voltou para casa, deitou e dormiu até tarde. Quando acordou, já passavam das 23 horas. Levou um susto ao ver a hora. Saiu novamente para comer algo. Ligou para alguns amigos, mas ninguém podia acompanhá-lo. Foi até um bistrô natureba, comeu uma salada e ficou pensativo. Há muito não ia dançar. Achou seu destino da noite. Foi a uma boate e dançou muito. Quando bebia uma água no balcão, foi abordado por um jovem na casa de vinte anos. Eliosvaldo não deu muita atenção, mas o jovem insistia em conversar. Lá pela décima tentativa de manter algum contato, o jovem disse que já tinha visto Eliosvaldo correr no parque da cidade. Confirmando que corria todas as manhãs, Eliosvaldo tentou sair, mas o jovem foi atrás, dizendo que apreciava homens maduros. Eliosvaldo, irritado, pegou sua comanda, foi ao caixa e pagou suas despesas. Foi embora. Em casa, conferiu a secretária eletrônica. Não havia registro de nenhuma ligação de Ro. Deitou. Não dormiu. Ficou pensando no jovem na boate.
Domingo, sol, brisa leve, ideal para uma corrida no parque. Eliosvaldo se prepara e sai de casa. Começa a correr ouvindo suas músicas preferidas. Estava um pouco sonado, pois não tinha conseguido dormir direito. De repente, uma bicicleta desgovernada vem de encontro a ele e, ao tentar pular fora, Eliosvaldo é acertado por outro ciclista. Foi um verdadeiro strike, pois duas bicicletas caem no chão e levam consigo Eliosvaldo. Ele se machuca e o ciclista, ao se refazer, olha para ele e o reconhece.
-Você estava na boate ontem.
-Sim e você ficou me chateando, querendo conversar.
-Os deuses estão ao meu lado, você tinha que ser atropelado por mim.
Eliosvaldo riu. Tentou levantar. Estava todo dolorido. O jovem o ajuda a se levantar e pergunta se ele precisa ir a um hospital. Eliosvaldo dispensa. Diz que não foi nada e que um banho e descanso lhe fariam bem. O jovem pega a bicicleta e apoiando Eliosvaldo o leva até o estacionamento. Eliosvaldo estava sem carro, mas não conseguiria voltar a pé para casa, embora perto. O jovem, sem nenhum arranhão, guarda a bicicleta no carro e oferece uma carona. Ele, ressabiado, aceita. O trajeto é curto e logo chegam. O jovem ciclista apoia Eliosvaldo e o auxilia a entrar no apartamento. Pergunta se precisa de algo. Eliosvaldo responde que tudo está tranquilo. O jovem fica olhando para ele e, num instante de loucura, agarra Eliosvaldo e o beija na boca. Eliosvaldo fica desconcertado, não sabe o que fazer. O jovem, aproveitando as dores e os machucados de Eliosvaldo, não o larga e o prensa na parede. A roupa de Eliosvaldo estava suja, com marcas dos pneus e da graxa da bicicleta. A parede fica suja com uma marca destacada das ranhuras do pneu, como se alguém tivesse colocado uma roda de bicicleta encostada na parede. Eliosvaldo começa a gritar muito. O jovem insistia em acariciá-lo, beijá-lo, apalpá-lo em todos os lugares do corpo. Eliosvaldo sentia dores e asco ao mesmo tempo. Gritava muito. Ele tinha o hábito de nunca fechar a porta da sala, apenas a encostava. Assim, ao ouvir a gritaria, a mesma senhora que ajudara Ro com os cotonetes, entrou na sala. O jovem se recompôs, deixou um cartão no sofá e saiu correndo, sem dizer nenhuma palavra. A senhora perguntou o que ouve, se era ladrão. Eliosvaldo, sem saber o que explicar, apenas agradeceu e conduziu a vizinha para a saída. Trancou a porta. Sentou no chão e chorou. Ao levantar, viu a sujeira na parede e pensou em Ro. Reuniu forças interiores e limpou tudo, sem deixar marcas. Cansado, se sentou no sofá em cima do cartão do jovem, sem perceber. Ao levantar para tomar um banho, já sem dores, o cartão caiu e foi para debaixo do sofá. Cinco dias depois, Ro volta. Neste período ele não havia ligado nenhum dia e como não tinha celular, Eliosvaldo não conseguiu falar com ele. Todas as vezes que ligou para a residência da mãe de Ro, ninguém atendeu. Ao entrar em casa, Ro dá uma geral com os olhos, como sempre fazia, verificando se tudo estava no lugar e se tudo estava limpo. Ao parar os olhos em uma das paredes, vê uma sombra. Chega mais perto e nota que é uma marca apagada de um pneu de bicicleta. Chama Eliosvaldo e pergunta o que significava aquilo. Eliosvaldo conta tudo, sem mentir nem suprimir nenhum fato. Ro não acredita. Fica furioso. Eliosvaldo sai batendo a porta. Ro esquadrinha cada centímetro quadrado nas paredes e vê milhares de outras marcas. Graxa de bicicleta, pneus, mãos, até um pedacinho de adesivo luminoso ele encontra. Ele não tinha dúvidas, durante os dias em que estivera fora uma orgia acontecera em sua casa. Resolve espairecer sua raiva fazendo o que mais gosta: limpeza. Ao tirar o sofá do lugar, vê o cartão. Estava escrito apenas um número de celular e uma frase: realize suas fantasias. Ro teve a certeza de que Eliosvaldo mentira. Haveria troco.
Nu!!!
ResponderExcluirAdorei essa história.
Bj
Pois é Pek, tambérm adorei e como disse, é baseada em fatos super reais.
ResponderExcluirBjs.
Conheço os fatos, Ro foi realmente enganado. A esposa realmente o traiu, tenho certeza.
ResponderExcluirJá ouvi comentários e discussões sobre os fatos supostamente reais e acredito que não tenha ocorrido. O conto é inigmático e ao mesmo tempo divertido.
ResponderExcluirObrigado Voyuer. Também acredito que nada aconteceu...
ResponderExcluirNesse sábado você estava realmente inspirado.
ResponderExcluirSuponho que voc~e esteja melhor. E torço por isso.
De qualquer maneira, como sempre, adorei a história.
Te aguardo na segunda...
Beijos,
Kitty
Kitty
ResponderExcluirRealmente estou melhor, embora ainda com poucas dores. Segunda nos vemos.
Beijos