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quinta-feira, 5 de maio de 2011

ANTES DA COISA TODA COMEÇAR




Saindo do Teatro II, fomos direto para a fila que se formava para entrar no Teatro I do CCBB. Era a pré-estreia do novo espetáculo do grupo Armazém Companhia de Teatro, do Rio de Janeiro, muito frequente na programação do centro cultural de Brasília. A peça entra em cartaz a partir de 05 de maio e fica até 29 de maio, com sessões de quinta-feira a domingo. Eu e Ric ganhamos entrada para esta sessão só para convidados. Na fila, muita gente do mundo teatral da cidade. A peça chama-se Antes da Coisa Toda Começar, resultado de trabalho de pesquisa do grupo, com texto inédito de Maurício Arruda Mendonça e Paulo de Moraes. Este último também é o responsável pela direção. No elenco, os excelentes atores Patrícia Selonk, Thales Coutinho, Rosana Stavis, Ricardo Martins, Marcelo Guerra, Simone Vianna e Camila Nhary. A cenografia é um caso à parte, como já é esperado nos trabalhos da companhia. Há uma excelente utilização de imagens, de projeções de filmes dos próprios personagens/atores, música ao vivo, com atores cantando e tocando instrumentos musicais (o que me fez lembrar o Grupo Galpão, de Belo Horizonte) e uma movimentação de objetos cênicos que dá ritmo à história. O texto não é linear. Muito antes pelo contrário, é bem fragmentado. Começa com um ator meio clown, meio shakespereano, com direito a um crânio com nariz redondo de palhaço nas mãos, tendo uma espécie de delírio, quando aparecem três personagens que poderiam ser uma fragmentação de seu ser ou apenas frutos de sua imaginação. A morte é tratada em todas as histórias, com humor forte, às vezes bem sarcástico, e atitudes politicamente condenáveis, como fumar um cigarro em pleno leito de um hospital. A morte aparece na forma de uma enfermeira, na forma de uma prostituta/coveira, além de se concretizar em algumas personagens. As cenas em que Ricardo Martins encarna Rufus (ele também vive o ator shakespereano), uma drag queen, são hilárias, lembrando um outro papel vivido pelo mesmo ator na versão de Toda Nudez Será Castigada, de Nelson Rodrigues, encenada pelo mesmo grupo. Interpretando dois personagens tão distintos neste novo trabalho do Armazém, Ricardo Martins mostra que é um ótimo ator em cena. Momento marcante é sua dublagem para Non, Je Ne Regrette Rien, música eternizada na voz de Edith Piaf, quando ele está com duas asas vermelhas (anjo ou demônio?) e tenta fazer um show particular ao lado do leito de morte de seu melhor amigo, Téo, vivido muito bem por Thales Coutinho. Outro destaque é a interpretação de Patrícia Selonk para Zoé, a mulher que quer morrer, mas não consegue e ao se deparar com a morte, consegue ludibriá-la. Ela ainda mostra uma voz poderosa ao cantar em cena. O que seria o significado do título, fiquei a refletir por um tempo. A coisa pode ser a morte, mas também pode ser a transformação, a passagem para uma nova etapa de vida. Enfim, um sopro de esperança para a humanidade. Belo espetáculo. Na saída, um coquetel era servido. Muito bem servido. Garçons passavam sem parar com quitutes e mini pratos com iguarias como arroz de bacalhau, quiche de beringela, folhado de maçã, polenta com ragu de carne, tapioca de rapadura e queijo coalho, além de sucos de morango com maracujá, abacaxi com hortelã, cerveja, água, refrigerante e espumante. Os atores também se juntaram ao público, que não lotou o teatro, para esta confraternização de estreia em Brasília. De lá, fui direto para casa, perto de meia noite. Ao chegar em casa, ainda tive que limpar a cozinha, onde Getúlio havia deixado suas marcas e brincar um pouco com ele. Só consegui dormir depois de três horas da madrugada.

2 comentários:

  1. Noel, querido, quando vc vai ver Eros Impuro? Adoro seu trabalho de mapeamento cultural dos espetáculos da cidade. Esperamos vc no Goldoni. Hoje, tem as 21h, amanhã, às 20, de quinta a domingo, até 22 e maio

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  2. Sérgio,

    Agendei para assistir dia 13, 14 ou 15 de maio. Quero muito ver. Já tive ótimas referências e gosto muito do que vc escreve. Um abraço.

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