O sábado foi puxado, pois dediquei quase tempo integral da manhã e parte da tarde/noite para tentar condicionar Getúlio a fazer as coisas certas, especialmente suas necessidades vitais, nos lugares certos. Sei que ele ainda é um filhote, com 54 dias de vida, mas não posso deixar ele fazer o que bem quiser e onde quiser. Tarefa árdua, mas até que estou gostando. O bichinho vai aprendendo, fica com medo de mim, mas ao mesmo tempo se aconchega em minhas pernas, me lambe todo e gosta dos afagos que faço nele. Quando chegou o fim do sábado, estava bem cansado, pois limpei a cozinha e a área de serviço várias vezes. O natural era não querer sair, mas retirei ânimo de não sei onde, tomei um banho, troquei de roupa, chamei Ric para ir ao segundo encontro do Projeto Live P.A., que acontece nos jardins externos do CCBB, em palco montado próximo às esculturas/brinquedos de Darlan Rosa. Como ele preferiu ir para um bar perto de casa para beber cerveja, fato que não aprecio nenhum pouco, resolvi ir só. O show estava marcado para ter início às 22:30 horas, mesmo horário da noite anterior, quando eu e Ric demos uma rápida passada pelo centro cultural. Sabendo que lotaria, pois além de bons shows, o evento é gratuito, saí às 22 horas para colocar o carro em uma das vagas do amplo estacionamento interno do CCBB. Quando cheguei, já havia muita gente, mas consegui uma vaga em local onde sempre estaciono o carro quando vou a algum espetáculo/evento por lá. Saindo do carro, notei que a roupa que eu estava não me protegeria da noite fria, típica do mês de maio em Brasília. Pela proximidade com o Lago Paranoá e por ser bem aberto o lugar, as noites no CCBB exigem uma blusa de manga comprida neste época do ano. Sem tal agasalho, resolvi que me esquentaria dançando. Só com o almoço, a fome bateu, mas de leve. O Bistrô Bom Demais, restaurante do centro cultural, estava lotado, sem possibilidades de arranjar um lugar. Pela quantidade de público, o próprio bistrô montou um espaço do lado de fora, onde vendia salgados, caldo de feijão, canjica doce e bebidas. Aproveitei que ainda não havia grande fila no caixa para comprar fichas. Comi uma saltenha de carne com uma Coca Zero. A saltenha é um salgado assado, lembrando a empanada argentina ou nosso pastel assado, mas com um recheio mais portentoso. Estava quente, sinal de que acabara de sair do forno. Bem saboroso. Este lanche me satisfez. No palco, as atrações da noite já arrumavam seus instrumentos. Posicionei-me em frente ao palco, sem ninguém na minha frente. Às 22:45 horas anunciaram o projeto e as atrações da noite: Thalma de Freitas + Gabriel Moura. O slogan do projeto é "2 músicos, 1 computador. E vai rolar o som!". Quando fiquei sabendo deste projeto, procurei saber os oito encontros e o da noite de sábado foi o que eu disse para mim mesmo que não poderia faltar. Todos são interessantes, mas se tivesse a chance de ir em apenas um deles, minha escolha seria ver Thalma de Freitas. O Gabriel Moura ainda não o conhecia. Curiosamente, ambos são filhos de pessoas ligadas à música. Thalma é filha do pianista e maestro Laércio Freitas, enquanto Gabriel Moura é filho de Paulo Moura, participou do grupo carioca Farofa Carioca e é parceiro frequente de Seu Jorge em composições de sucesso como o hit Burguesinha. Ao final do show, os dois comentaram que era a primeira vez que faziam alguma coisa juntos. Gosto muito da voz de Thalma de Freitas, mas não tenho o único cd que ela lançou em 2004. Tenho apenas o cd da Orquestra Imperial, coletivo de músicos cariocas ou radicados no Rio de Janeiro, no qual ela é uma das crooners. Ao vivo, só a vi se apresentando no coletivo paulista Instituto, na abertura do show de Amy Winehouse na Arena Anhembi em São Paulo no início deste ano. Também atriz, com várias atuações em novelas globais e em alguns filmes brasileiros, ganhando, inclusive, o prêmio de melhor atriz coadjuvante em gramado por sua atuação no filme As Filhas do Vento, de Joel Zito Araújo. Voltemos ao show. O figurino usado pela cantora era um macacão de tecido sintético verde claro, lembrando algo futurista, com maquiagem que me lembrou algumas pinturas tribais. Para mim, era a síntese do que seria o show, a mistura do futuro (a tecnologia, o uso do computador como um elemento musical) com o antigo (clássicos da música popular brasileira quando as gravações eram ainda em vinil). O penteado dela me lembrou o que ficou marca registrada da modelo, atriz e cantora Grace Jones. Já Gabriel Moura preferiu vestir algo mais despojado, bem a cara de músicos brasileiros de percussão. Foram duas horas de puro deleite. No palco, Gabriel ficou sentado com seu violão em punho, e Thalma, também sentada com o computador em seu colo (creio que ficar sentado será a tônica dos shows, pois na noite anterior Moreno Veloso e Nina Becker também estavam fazendo o estilo "um banquinho, um violão + um computador"). Mas, já para o final, ela não resistiu, se levantando para dançar enquanto cantava um samba. Por falar em samba, este foi o ritmo que dominou a noite, com vários clássicos da música brasileira. Muito legal a interação de Thalma com as gravações originais de alguns destes sambas. O público era majoritariamente jovem, mas mostrou ser antenado com a música nacional. Célia Reis, Clara Nunes, Aracy de Almeida foram algumas das cantoras que "dividiram" os vocais com Thalma e Gabriel. Sucessos inquestionáveis como O Ronco da Cuíca (João Bosco & Aldir Blanc), Odara (Caetano Veloso) e A Carne (Seu Jorge, Marcelo Yuka & Wilson Capellette) foram acompanhados pelo público. Também não faltaram as composições de Gabriel Moura, tanto de sua época no Farofa Carioca, como a suingada Moro no Brasil (Seu Jorge, Gabriel Moura, Wallace Jefferson & Jovi Joviniano), quanto o sucesso Burguesinha (Seu Jorge, Gabriel Moura & Pretinho da Serrinha). Dancei o tempo inteiro. Com uma hora e quinze minutos de show, Thalma anunciou que o set list chegara ao fim, mas como a noite estava linda, que o público era ótimo, eles poderiam ficar discotecando até a produção dar o sinal para finalizar a apresentação. Claro que o público aprovou a proposta. Foi a parte mais descontraída do show, com muito improviso, quase uma jam session. Neste momento da apresentação, merece ressaltar a sinergia entre público e artistas quando o refrão do samba Não Deixe O Samba Morrer (Edson Conceição & Aloísio) foi cantado a plenos pulmões por todos os presentes. 00:30 horas, era hora de terminar o show. Os cantores fazem os tradicionais agradecimentos e deixam o palco, mas a galera não arreda pé, quer mais. Eles retornam e repetem as músicas A Carne e O Ronco da Cuíca, botando o público para dançar. Ótima noite, o que me proporcionou um descanso mental incrível. Já agendei para estar presente em outros shows do projeto.
Gabriel Moura + Thalma de Freitas - Live P.A. - CCBB Brasília
Thalma de Freitas
Thalma de Freitas
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