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sábado, 28 de agosto de 2010

CENA CONTEMPORÂNEA - DIA 4

O calor tomou conta da sexta-feira em Brasília. Terminei a aula mais cedo, liberando a turma cansada para o primeiro final de semana na cidade. Fui para casa tentar dormir um pouco, pois passei a madrugada em claro. Perto de 19:30 horas levantei-me para ver mais uma peça do festival de teatro Cena Contemporânea. Desta vez, Ric foi comigo. O espetáculo teve lugar na Sala Plínio Marcos do complexo da Funarte no Eixo Monumental. Início da peça marcado para 20 horas. Ingresso a R$ 16,00 (inteira). O teatro não ficou cheio para conferir Kabul, nova peça da Cia Amok Teatro, sediada no Rio de Janeiro. Direção, texto e concepção de Ana Teixeira e Stéphane Brodt. O elenco conta com Stéphane Brodt, Fabiana de Mello e Souza, Kely Brito e Marcus Pina. Também no palco, tocando instrumentos usuais no mundo árabe, o músico Carlos Bernardo. Os atores vestem roupas típicas do Afeganistão, incluindo burcas para as duas atrizes. O cenário mostra a pobreza e a simplicidade do povo afegão no início dos anos noventa. A troca de cenários é rápida, executada pelos próprios atores. Há cabos de aço pendurados no teto que servem de sustentação para os objetos do cenário. São três espaços diferentes, todos montados e desmontados no mesmo espaço cênico: a casa de um casal mais velho, a casa de um casal novo e a prisão feminina. O texto é forte, expondo a falta de esperança de um povo que está sob o domínio de fanáticos religiosos. A voz em off falando sobre as proibições no Afeganistão sob o controle de fundamentalistas é revoltante. Mesmo sabendo dos fatos, ao ouvir todas as proibições e restrições de liberdade de uma só vez, ficamos indignados. Os atores que interpretam o primeiro casal tem um belo trabalho de corpo, demonstrando as dores físicas e psíquicas por que passam seus personagens. Já os atores que fazem o segundo casal, os mais novos, não conseguem passar uma verdade plena. O ator do segundo casal tem um sotaque forçado, feio. É claro que a condenação à morte por pedradas está presente no texto, com final previsível para quem presta atenção na história desde o início (doença da mulher mais velha). Sei que o grupo Amok tem como característica uma pesquisa intensa e montagens bem peculiares, mesmo quando encena texto conhecido, como foi o caso de Macbteh, tornando o trabalho não muito palatável. Em Kabul não é diferente. Segundo a sinopse, a montagem é livremente inspirada no livro As Andorinhas de Cabul, do escritor Yasmina Kadra. Achei o texto pessimista, depressivo, para baixo. Além disto, acrescente-se o fato que a música executada ao vivo, teve um efeito sonífero em mim (e em outras pessoas da plateia). Em dias com muito trabalho fica difícil gostar de um texto assim. Mais uma peça do festival que tem a depressão, o negativo, como mote. Fico pensando se a curadoria quis adotar esta linha ou, por enquanto, trata-se de mera coincidência. Já vi Till, Paisagem com Argonautas, Não Precisa Chorar, Neva e Kabul. Já assisti em outra oportunidade as peças, que também estão na programação do Cena Contemporânea 2010, Ilhar, A Cela, Cabaré das Donzelas Inocentes, Canção Para Dançar Sem Par e In On It. Todas estas peças, mesmo Till da qual gostei muito e dei boas risadas, a tragédia, o pessimismo, a decadência, o negativo, o depressivo estão presentes. Definitivamente, não gostei de Kabul.


Para ver se a noite ficava mais alegre, fui conferir, também na programação do festival, a performance de William Lopes na parede externa do Edifício Sede do Ministério do Esporte (Bloco A) na Esplanada dos Ministérios. Chamada de A Carta do Anjo Louco, a performance na qual o ator desce, fazendo evoluções, a parede, de frente para a pista, preso em cabos, tipo as cordas elásticas que são usadas no esporte radical bungee jumping. Enquanto desce, deixa cair várias folhas de papel, talvez a carta do título, enquanto tira o terno listrado que está vestido. Torna-se então uma espécie de coringa, de bufão, ou o anjo louco, fazendo piruetas sincronizadas com projeção de imagens na parede. Para ver esta performance de quinze minutos o melhor a fazer é pegar um colchonete disponibilizado pela produção e deitar de frente para a tal parede. Foi o que fizemos. O ator desde até a metade do prédio e depois, ainda em evoluções, dando a sensação que a gravidade não existe, ele flutua para o telhado novamente, quando é muito aplaudido. Enfim, depois de três dias não gostando do que via, saí satisfeito. Ligamos para um amigo de Belo Horizonte para jantarmos juntos. O restaurante escolhido foi o Unanimitá, onde apreciamos uma delicioso risoto de endívia, radicchio, gorgonzola, pera e nozes. Fim de uma longa sexta-feira.

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