Quando acabei de ler Sete Narrativas Góticas, de Karen Blixen, lembrei-me do filme A Festa de Babette (Babettes Gaestebud), baseado em um conto da mesma autora. Este é um filme que deve constar de qualquer filmoteca essencial. Produção dinamarquesa ganhadora do Oscar de melhor filme estrangeiro em 1987, é dirigida por Gabriel Axel. Jutland, um lugarejo no litoral da Dinamarca, tem uma população pequena, pacata e religiosa. No final do século XIX, os moradores se reúnem sempre para ouvir os ensinamentos do pastor, pai de duas filhas desejadas pelos jovens da cidade. Pretendentes de fora ficam encantados com elas, mas não logram êxito. Passam-se os anos, mas a vida no vilarejo continua a mesma, já com o pastor morto e suas filhas, solteiras, fazendo caridade. Chega, fugida da França, uma jovem, Babette, indicada para trabalhar com as irmãs Martine e Felippa. Ela se torna a governanta, mesmo não recebendo salário. Com seu jeito simples, melhora os pratos que as irmãs costumam fazer para os velhinhos do local, além de saber barganhar na hora de comprar os ingredientes, economizando para as duas irmãs. Um dia, recebe a notícia que ganhara na loteria francesa 10 mil francos e resolve fazer um grande jantar nas comemorações do centenário do pastor. As irmãs permitem o jantar, aceitando todas as condições de Babette. Chegam codornas, tartaruga, gelo e outros ingredientes que assustam os moradores, fazendo-os crer que a cozinheira/governanta tem parte com forças do mal. No dia do jantar, um convidado inesperado. O jantar é maravilhoso. O filme é singelo, mostrando que mais vale um desejo bem realizado do que a avareza. O dinheiro que Babette ganha na loteria é todo gasto em um único jantar. Quando vi o filme pela primeira vez, ainda na década de oitenta, não tinha os conhecimentos de enogastronomia que hoje possuo. Na época, não prestei atenção nos vinhos e champagnes servidos. Hoje, sei que são bebidas finas e realmente merecem o destaque que tem no contexto do banquete. O mesmo vale para as iguarias servidas, como a sopa de tartaruga e o Blinis Demidoff, e o serviço, desde a concepção da mesa, com pratos, talheres, guardanapos e taças, além da etiqueta francesa personificada na figura exótica do militar que comparece ao jantar. Champagne Veuve Clicquot 1860, vinho tinto Clos Vougeot 1869, amontillado, Champagne Vieux Marc são vinhos que fazem a alegria dos grandes conhecedores do mundo enogastronômico.
Gostei muito de poder rever este filme, tanto pela simplicidade das pessoas do vilarejo, quanto pela sofisticação do banquete.
Noel,
ResponderExcluirAí acima no seu blog faltou algo que adora - eu também - e que, inclusive, faz:
- literatura.
Bjs
Pek,
ResponderExcluirObrigado pelo alerta. Já corrigi, como pode conferir.
Bjs.