O domingo não foi muito quente. Levantei-me cedo para comprar ingressos para o show do João Bosco, em um novo projeto do CCBB que terá início em 11 de setembro. Antes de nove horas da manhã estava na fila esperando a bilheteria abrir. Na volta para casa, passei no La Palma para comprar frutas para a semana, estreando meu carrinho ecológico de supermercado, daqueles muito comuns nas capitais europeias. Cheguei em casa antes de dez horas. Aproveitei o domingo para ler todos os cadernos de cultura do Correio Braziliense e da Folha de São Paulo desde o último dia 18 de agosto. Foram horas e horas lendo. Já era noite quando saí novamente, desta vez para conferir mais uma peça do festival de teatro Cena Contemporânea. Novamente me dirigi ao CCBB onde está em cartaz Abracadabra, texto, direção e interpretação de Luiz Paetow que foi indicado ao Prêmio Shell 2010 por sua concepção e pesquisa. Quando ainda lia as sinopses de todas os espetáculos do festival, antes mesmo dos ingressos começarem a ser vendidos, percebi que não gostaria da peça, mas comprei de teimoso que sou e por não haver outra opção inédita para mim na programação de domingo. A minha sensação se concretizou. Odiei a performance. Logo na entrada do teatro, o público recebia uma lanterna, pois a sala ficava imersa na escuridão. No palco apenas uma caixa preta. O teatro não recebeu público grande, cujo ingresso paguei R$ 15,00. Quinze minutos de atraso e muita luz tremulante das lanternas iluminavam todos os cantos do teatro. O ator começou a dizer o texto ainda no fundo da sala, sem ser visto. Ele ficou deitado no vão entre duas fileiras. O texto é chato. Ficaria melhor se fosse para uma leitura, como uma poesia abstrata. A empostação de voz do ator também não ajuda, ele quer mostrar que está titubeante, um pouco gago, não conseguindo articular bem as sílabas. O público começou a ficar impaciente, a conversar, a rir de nervoso. As luzes das lanternas incomodavam, pois todos pareciam crianças focando o rosto como se foca jacarés em safáris noturnos na Amazônia. Transcorreram quinze minutos, um casal se levantou, protestou, o ator parou de dizer seu texto, o público se dividiu. Alguns apoiaram o casal que se retirava da sala, outros xingavam. Mais gente se levantou para ir embora. Esta foi a tônica ao longo dos cinquenta e cinco minutos que consegui ficar dentro do teatro. Uma jovem berrou pedindo silêncio, outra subiu ao palco, fazendo parte do público pensar que ela era parte da peça. Alguém da produção a retirou do palco. O ator, já no tablado, continuou seu texto, sem muito sentido. Alguém grita que quer teatro. Ele pega a deixa. Faz um trocadilho com cortinas. Da palavra cortina, ele chega na expressão um corte em cena, quando pega uma lâmina para se cortar, no melhor estilo body art. Foi demais para minha paciência. Pela primeira vez na minha vida, levantei e fui embora. Ao entregar a lanterna, fui informado que a peça não tem fim, o ator continua a falar seu texto desconexo até o público cansar. As luzes ao fundo do teatro foram acesas. Creio que era para acelerar o final. Foi a pior experiência em teatro que já presenciei. Horrível. É a peça candidata, na minha opinião, a pior de todas as edições que assisti do Cena Contemporânea. E é mais uma cheia de sombras e depressão.
Noel,
ResponderExcluirMas a idéia dele ficar lá até o povo resolver ir embora é bem legal...
Bjs
Pek,
ResponderExcluirMas é insuportável. Hoje soube que na sessão de sábado uma mulher o venceu, ficando até meia noite e meia. Ele saiu antes dela. É unanimidade, todos que foram não gostaram da proposta.
Bjs.
Também não gostei de ABRACADABRA e todos que foram comigo não gostaram. Mas, duas amigas gostaram, justamente, pela proposta pertubadora e pelo objetivo alcançado: criar uma situação angustiante, produzir inquietação...
ResponderExcluirQuando cheguei abri o livreto do CENA CONTEMPORÂNEA e não há nenhuma informação de que se trata de uma performance e nem mesmo indicações do que pretende o "espetáculo-solo" gerar no espectador. Pelo contrário, além de indicar as premiações do ator, a sinopse afirma que se trata de um "monólogo inovador (...) na qual a platéia recebe lanternas e se torna responsável por aquilo que todos irão enxergar" e acrescenta que "o espetáculo oferece ao público a experiência de se aventuar num estado intimo, silencioso e secreto, no qual a sua consciência se torna palco". Ou seja, não me informaram de que o espetáculo ofereceria ao público uma performance em que os limites da angústia, paciência seriam testados e, para mim, ultrapssados...
Além de descontente com o "espetáculo-solo", me senti enganado pelas as informações da sinpose... Além disso, que tristeza: um teatro com o potencial do CCBB abrigar uma perfomance, enquanto tantas companhias teatrais sonham com um palco com todo aquele aparato de iluminação, que não foi utilizado pelo performer.
Quem perde é o teatro...
Prezado Anônimo,
ResponderExcluirConcordo com o que você escreveu. Faltou informação no catálogo do festival. Talvez esta "performance" fosse melhor em um espaço menor. O palco do CCBB merecia um espetáculo mais convincente.