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segunda-feira, 18 de junho de 2012

A VINGANÇA DO ESPELHO: A HISTÓRIA DE ZEZÉ MACEDO



Cumpri agenda de trabalho em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, durante a sexta-feira, dia 15 de junho. Antes de sair do hotel, chequei a programação cultural da cidade para a noite, já que voltaria para Brasília no sábado pela manhã. Estreava naquela noite a curta temporada da peça carioca A Vingança do Espelho: A História de Zezé Macedo. Já tinha lido críticas favoráveis a esta montagem quando esteve em cartaz no Rio de Janeiro. Se tivesse ingresso para a noite, seria minha agenda cultural na capital gaúcha. A peça estava em cartaz no histórico Theatro São Pedro, uma chance para eu conhecê-lo por dentro, desejo antigo. Como meu compromisso de trabalho era no Centro, após o almoço fui até a bilheteria do teatro, próximo de onde eu almoçara. Por sorte, havia ingresso e em ótimo local. Paguei R$ 60,00 pela entrada, sessão das 21 horas. Com uma hora de antecedência, saí do hotel Ibis Moinhos de Vento, pagando R$ 15,00 a corrida até o teatro. O hall de entrada é pequeno e estava ocupado por banners que reproduziam algumas críticas publicadas em jornais e revistas sobre a peça, além de promotores da operadora de telefonia Vivo que patrocinava a montagem. Ganhei uma caneta dos promotores. Com tempo e fome, subi as escadas para comer um pão de queijo (iguaria mineira que dominou o Brasil de norte a sul!) com um bem tirado café expresso no Café do Theatro, um espaço gostoso, com ares estilosos, pois fica em prédio que está completando 154 anos neste mês de junho de 2012. As pessoas que chegavam para o espetáculo subiam direto para o café. Um local de encontro e bate papo. Quando foi liberada a entrada para a sala onde seria encenada a peça, entrei logo. A sala tem formato circular, muito bem conservada, com poltronas em tecido vermelho, com ótimo espaço entre as fileiras. Há dois andares de galerias, com cadeiras com assento que imita palhinha. O teto é lindo, com detalhes discretos, mas marcantes. Há um lustre redondo ao centro. O palco já estava descortinado, deixando à mostra o cenário, nada mais do que uma coxia de teatro preparada para o ensaio de uma peça. Ao centro, equipamentos modernos, com um notebook da Apple e um monitor de televisão em LCD. Monitores idênticos estavam colocados na primeira galeria de ambos os lados do teatro. A trilha sonora executada era de canções brasileiras antigas, sucessos das décadas de 40 e 50. O público foi chegando devagar, em sua maioria pessoas idosas. Na bilheteria, quando comprava os ingressos, fiquei sabendo que a maioria dos ingressos para as estreias são destinadas à associação dos amigos do teatro. Achei interessante, pois garante a quem ajuda a manter o teatro ingressos para os espetáculos que ali ocorrem. Com dez minutos de atraso, o terceiro sinal tocou. Era o início do espetáculo. Os atores entram pela plateia, como se estivessem chegando atrasados ao início do ensaio de uma peça que a companhia de teatro montaria. Assim começa a encenação do texto de Flávio Marinho para A Vingança do Espelho: A História de Zezé Macedo. A direção é de Amir Haddad. Em quase duas horas de apresentação, a história da atriz Zezé Macedo é contada, em ordem não cronológica, mas de maneira bem didática, relatando fatos revelantes da atriz, começando pela sua fase de maior visibilidade popular, quando fez a Dona Bela da Escolinha do Professor Raymundo na Rede Globo, passando por sua infância na cidade de Silva Jardim, seu primeiro casamento, o relacionamento com a sogra, a perda do filho ainda bebê, a mudança para a cidade do Rio de Janeiro, sua estreia no cinema pelas mãos do diretor Watson Macedo, seu trabalho na rádio quando era secretária de Dias Gomes, como conseguiu um papel na mesma rádio e de lá para a televisão, que ainda engatinhava no Brasil. Ainda há espaço para seus maiores sucessos no cinema, quando trabalhou com grandes nomes da telona, como Oscarito, Adelaide Chiozo, Carlos Manga, entre outros. Também seu segundo e duradouro casamento é encenado, assim como suas inúmeras plásticas (fazia uma a cada dois anos), e sua relação com a questão da beleza, atributo pelo qual não era conhecida definitivamente. Uma das cenas, quando Zezé Macedo, vivida magistralmente por Betty Gofman, faz um papel em um teatro de revista, eu fui a "vítima", sendo escolhido por Gofman para ser o seu par. Não precisei sair da poltrona, pois a atriz veio até a fileira onde eu estava (segunda fileira, bem no centro) e ali fez a cena. Hilário. Meus óculos acabaram ficando na mão da atriz. Toda a história é contada como se os atores estivessem ensaiando uma peça sobre a Zezé Macedo. A escolha da atriz da companhia, Stella (Gofman), para viver Zezé foi motivo para ela desistir de fazer o papel, pois poderia ser estigmatizada como uma atriz feia. A plateia é instada a pedir que ela aceite e volte. A vida de Zezé mostra que ela foi muito mais do que a Dona Bela, papel pelo qual ficou conhecida. Ela fez mais de cem filmes, tendo começado com 38 anos a fazer cinema, escreveu livros de poesia, algumas delas declamadas em cena, inteiramente autobiográficas, além de ter tido alguns empregos burocráticos até sua estreia no rádio. Brigas internas na companhia revelam alguns pontos interessantes da vida dos atores, como a loura burra, atriz de novelas, interpretada por Marta Paret, que quer provar que é mais do que um rostinho bonito, a reclamação do ator que se acha o eterno coadjuvante, ou aquele que sempre faz o mesmo tipo, caso de Tadeu Mello, que faz um ator homossexual. Os efeitos cênicos são pontos fortes durante a peça, pois com objetos simples o diretor consegue passar a mensagem perfeita para o público. Assim, uma garrafa vazia com um aplique de flor amarela se torna o Kikito, prêmio que Zezé Macedo ganhou em Gramado por sua participação no filme As Sete Vampiras, sucesso de Ivan Cardoso na década de 80, ou uma rosa de tecido se fazer de sangue na mão de Gofman. A troca de figurino é outro ponto de destaque. Tocante a homenagem que eles fazem aos atores que ajudaram a Atlântida ser um sucesso na história do cinema nacional. As fotos destes atores e atrizes vão passando no monitor de LCD, enquanto os integrantes da peça vão dizendo seus nomes. Entre outros, são exibidas fotos de Grande Otelo, Sônia Mamede, Renata Fronzi, Oscarito e Ankito. Embora longa, a história prende a gente. Confesso que nem vi o tempo passar. Completam o ótimo elenco os atores Eduardo Reyes e Alexandre Barbalho. O grande destaque para mim é Betty Gofman, que consegue uma performance maravilhosa para viver Zezé Macedo. Sem praticamente maquiagem nenhuma, ela se transforma, e, muitas vezes, nos faz crer que Zezé está no palco. A cena que mais ilustra esta encarnação é no discurso de agradecimento que Zezé faz ao receber o prêmio em Gramado. Lindo, lindo! Gostei muito de conhecer o teatro, com ótima peça, em noite fantástica. Peguei um táxi na lateral do teatro e voltei para o hotel, contente pelo que vi.



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