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quarta-feira, 6 de junho de 2012

REAL GABINETE PORTUGUÊS DE LEITURA



Quarta-feira, 30 de maio de 2012. Dia lindo no Rio de Janeiro, onde estava a trabalho. Após três dias de evento, a maratona de apresentações e troca de experiências entre representantes dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal terminou perto de 14 horas da quarta-feira. Como estava no Centro da cidade, local que gosto muito, resolvi almoçar por perto, escolhendo o centenário Bar Luiz (Rua da Carioca, 39), pois poderia caminhar sem rumo pelas ruas próximas ao restaurante, vendo, especialmente, os prédios históricos. Terminado o almoço, fui em direção à Praça Tiradentes, onde fica o Teatro João Caetano. Minha intenção era ir na direção contrária, para o lado dos Arcos da Lapa, mas quis tirar uma foto deste teatro, o que me fez atravessar a rua e ver um belo prédio ao fundo de um largo, no costado do João Caetano. Quando vi a placa de identificação da construção histórica, mudei totalmente meus planos, pois se tratava do Real Gabinete Português de Leitura, local que sempre esteve em minha lista de lugares a conhecer urgentemente. Fotografei o teatro e tomei a direção do Gabinete de Leitura, atravessando o largo onde há uma moderna escultura de ferro pintada de amarelo cujo autor é Franz Weissmann. Belo contraste entre os prédios históricos, alguns mal conservados, que ficam na região. Parei para fotografar a escultura, mas saí rapidamente por causa do mal cheiro de fezes e urina que estava no local. Nas escadas do prédio ao lado estava um grupo de moradores de rua. Segui para meu objetivo, o Real Gabinete de Leitura Português (Rua Luís de Camões, 30, Centro). O hall de entrada é pequeno, mas sua decoração já impacta quem o vê pela primeira vez. Ao fundo fica a entrada para a biblioteca. Antes, é necessário fazer uma breve identificação em um balcão onde um senhor me pediu para preencher o livro de visitantes. Não é cobrado nada para fazer a visita. Ele me perguntou se estava ali para ver o show. Respondi negativamente, mas quis saber do que se tratava. Sua resposta foi evasiva, dizendo apenas que era gratuito, bastando subir as escadas à direita. Para visitar a biblioteca bastava atravessar a porta à minha frente. Preferi conhecer a biblioteca primeiro. O local é de livre acesso, incluindo sentar nas mesas antigas para estudar ou fazer uma simples leitura. Em uma sala com pé direito altíssimo, com teto em vitral, permitindo a entrada da luz natural, mas devidamente filtrada pelo fosco do vidro para proteger os livros, ficam dispostos os cerca de 400 mil títulos, conforme me explicou uma das funcionárias do local, que fica em uma mesa do lado direito de quem entra, ao fundo. Os livros estão organizados impecavelmente em estantes de madeira que cobrem as quatro paredes nos três andares do ambiente. São livros muito antigos, não sendo permitido que sejam tocados ou tirados do lugar por quem visita o espaço. Qualquer manuseio dos volumes é feito pelos funcionários. Fiquei observando cada detalhe das colunas de madeira escura que sustentam as estantes. Há motivos que remetem ao mar, talvez uma lembrança dos comerciantes portugueses que financiaram a construção do prédio da terrinha que deixaram além mar. As mesas de estudos são de madeira preta, bem conservadas. Colocadas uma encostada na outra, de modo que um leitor fica de frente para o outro, mas preservando a privacidade de cada um com um anteparo entre elas. Há móveis em madeira com o tampo em vidro, como vitrines, onde algumas peças de grande valor histórico estão expostas, como a ata de fundação do prédio e a pá de pedreiro com a qual D. Pedro II cavou o primeiro buraco dando início à construção da edificação. Fiquei com vontade de andar nos passadiços do segundo e do terceiro pisos, mas não era permitido. O acervo, também segundo a funcionária do local, é todo de autores lusitanos, incluindo um exemplar de Os Lusíadas, escrito por Camões, também exposto em uma das vitrines. Nem sei quanto tempo fiquei por lá observando os detalhes, fotografando, sem uso do flash, a biblioteca de vários ângulos. Minha atenção foi desviada quando um grupo de estrangeiros entrou na biblioteca. Eram alemães bem ruidosos. Vi que havia muita gente subindo as escadas. Resolvi continuar a conhecer o prédio, seguindo tais pessoas. A escada é outra obra digna de observação e fotos. Piso de mármore, com corrimão em madeira e ferro trabalhado e grades, também em ferro, entre um degrau e outro, permitindo ver do outro lado. São três lances de escada até chegar ao segundo piso, onde duas enormes vitrines expunham objetos de decoração com motivos marítimos. Ao final da escada, à esquerda, fica o salão de eventos. Fui convidado a entrar, recebendo um folheto com o programa da tarde. Acontecia ali um recital do VII Rio Harp Festival. Nunca tinha assistido a um concerto de harpa. Era uma ótima oportunidade. A capacidade do local é de 100 pessoas assentadas e estava bem cheio. Só tinha lugar mais ao fundo, nas três últimas fileiras. Procurei um local para sentar. Um senhor acabava de falar sobre o recital, convidando a primeira instrumentista a ocupar o pequeno palco, onde tinha uma harpa. Era Luiza Mattoso, que executou peças de Michail Glinka, François-Joseph Naderman e Alphonse Hasselmans. Ouvindo o som da harpa, passei a observar os detalhes do bem conservado salão. Paredes vermelhas, teto em dourado e azul, com os escudos de localidades que pertenciam ao reino de Portugal enfeitando a sanca que rodeava o teto. Dois lustres muito bonitos compõem a decoração do local. Uma das janelas era maior do que as outras. Era a janela do imperador. Viajei naquele ambiente. Voltei à realidade com as muitas palmas que a harpista recebia do público, a maioria acima dos 60 anos. Em seguida, a segunda solista da tarde foi chamada ao palco, Ângela Duarte, que executou obras de Claude Debussy, Bach, Grandjany, Carlos Salzedo e David Watkins. Mais uma delícia de música para os ouvidos. Mais uma viagem na decoração do salão. Ao final de uma hora, já incluído um bis para cada harpista, muitos aplausos e filas para tirar fotos com as jovens instrumentistas. Ao sair do salão, ainda me detive nas vitrines para ver os detalhes das obras em metal. Desci as escadas, reparando nos detalhes das arandelas, da decoração nas paredes. Chegando ao térreo, foi a vez de me ater ao piso de ladrilho hidráulico, lindo, por sinal, e aos mosaicos do chão do hall de entrada. Um final de tarde magnífico em local lindíssimo. E ainda com o privilégio de assistir a um concerto de harpas. É por causa destas oportunidades que gosto de bater pernas sem rumo nas cidades que visito. Não me canso de ser turista, mesmo em locais que já conheço.









turismo
show

3 comentários:

  1. Adorei o texto. O lugar é realmente bonito, posso dizer porque também estava lá.

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  2. LUIZA MATTOSO (Brasil/Alemanha) e ANGELA DUARTE (Brasil), duas harpistas muito talentosas da nova geracao de músicos brasileiros, tocando em um dos lugares mais lindos do RIO HARP FESTIVAL. Tive também o prazer de assistir o recital de harpa !!!
    Gostei muito do texto e das fotos!!!

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  3. Gostei muitíssimo de texto e das fotos. Excelente informação. Gostei mais ainda porque a Luiza Mattoso é minha neta. A última foto é um registro inédito para mim desse dia. E até minha cabeça aparece na 1ª fila à esquerda. Obrigada pelo belo relato do evento.
    Nara Mattoso

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