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sexta-feira, 30 de março de 2012

QUALQUER COISA EU COMO UM OVO


Ao ler o caderno de cultura do Correio Braziliense do domingo, dia 25 de março, fiquei curioso em ver a peça Qualquer Coisa Eu Como Um Ovo por causa de seu título. Domingo era o último dia que ela estaria em cartaz no Espaço Cena, com sessões às 19 e 21 horas. Decidi conferir. Cheguei às 18:55 horas na SCLN 205, onde fica o simpático e pequeno teatro, com capacidade para umas 70 pessoas. Havia muita gente no corredor do bloco. Ao tentar comprar ingresso, tive a notícia que todos já haviam sido vendidos, mas ainda tinham alguns poucos ingressos para a sessão das 21 horas. Não tive dúvida em comprar uma inteira por R$ 20,00, retornando para casa, que fica perto do teatro. Voltei ao Espaço Cena já perto de 21 horas e encontrei o corredor do bloco novamente cheio, com fila para comprar ingressos. A entrada para a área interna do espaço cultural já estava aberta, permitindo aos que esperavam dar uma olhada na exposição fotográfica de Juan Pratginestós em cartaz na galeria do local. Os atores estavam do lado de fora em animado papo com amigos e parentes, todos devidamente maquilados e com o figurino de seus personagens. Vi as belas fotos da exposição, e logo me sentei, escolhendo um bom lugar, embora todos sejam bons. Fui avisado, assim como todos que chegavam, que o ar condicionado estava quebrado e que o calor seria grande quando a peça começasse. Um ventilador pequeno foi colocado no teto para amenizar a temperatura. A peça tem o inusitado título Qualquer Coisa Eu Como Um Ovo - Estudos Sobre A Violência 3, integrando a trilogia sobre a violência encenada pela Companhia Setor de Áreas Isoladas. Vi a primeira parte da trilogia, Vialenta, no Teatro Goldoni há quatro anos. Lembro-me que a peça me chamou a atenção não só pelo texto, mas principalmente pelo trabalho de ator. Infelizmente não consegui ver a segunda parte sobre a violência, Terapia de Ris(c)o - Por Uma Outra Via. Esta terceira e última parte da trilogia é baseada em texto de Sam Shepard, Angel City, escrito em meados da década de setenta, tem direção, fotografia e iluminação de Diego Bressani, e é encenada por Ada Luana, Camila Meskell, Rodrigo Fischer, que são integrantes da companhia, e pelos atores convidados Luiza Guimarães e Similião Aurélio. Com cenário simples, a história se passa em uma espécie de sala de ensaio de uma companhia de teatro que está em crise criativa, em crise financeira e em crise de popularidade, já que não consegue levar público para suas peças. O diretor da companhia, vivido por Camila Meskell, contrata um especialista para tentar ajudar, o Senhor Coelho, interpretado por Similião Aurélio. Este especialista vem do passado, de um século distante, motivo pelo qual usa aquelas perucas brancas típicas da corte francesa da época de Luís XVI. O bailarino principal do grupo é vivido por Rodrigo Fischer, e com seus óculos escuros não deixa dúvidas de que é a estrela, o galã da companhia. Luiza Guimarães dá vida a um personagem masculino, responsável pela arte sonora do grupo, mas também tem a responsabilidade de encontrar uma fórmula para atrair o público da pequena cidade onde a companhia tem sede. Ada Luana é a secretária do grupo que sonha em ser atriz. Com esta descrição, pode parecer que a história seja simples, mas não é. O texto beira o absurdo, flertando com o realismo fantástico, especialmente o final quando estranhas mutações físicas acontecem a todos na cidade. Assim como na primeira parte da trilogia, o trabalho de ator é muito forte. A interpretação dos cinco em cena está fantástica, sendo difícil destacar um deles. Similião Aurélio, com o seu timing de comédia já conhecido em Brasília, continua sendo hilário mesmo com interpretação contida. Seu tom de voz e a maneira de olhar já garantem boas risadas. Ada Luana faz uma secretária over em tudo. O seu gestual sincronizado com o texto que lê em cima da mesa é impressionante. Luiza Guimarães não muda a expressão facial, demonstrando que seu personagem é pé no chão, mas altera o tom de voz para demonstrar seus sentimentos. Camila Meskell dá um tom acelerado ao decadente diretor da companhia e Rodrigo Fischer impõe um ar meio blasé, meio idiota, ao bailarino número um do grupo. A mão de Diego Bressani é sentida em todas estas interpretações (digo isto porque vi outras peças que ele dirigiu). Eles estão reunidos para encontrar o "does like", expressão usado constantemente no texto, aquilo que fará a companhia acontecer na cidade. Durante os setenta minutos da peça, há momentos hilários e absurdos, garantindo uma reação de sonoras gargalhadas no público que ocupou todas as cadeiras do teatro. Como a peça faz parte da trilogia sobre violência, quem ainda não viu pode ficar perguntando onde ela se encontra em um enredo tão estranho como este. O grupo foi feliz em retratar, no formato de comédia, a violência que as companhias de teatro sofrem quando não tem patrocínio, quando não tem visibilidade, quando possuem dificuldades de se manter no mercado, quando não tem público. Optando pela comédia, o grupo é irônico e faz uma crítica velada à preferência do público pelo gênero que tanto faz sucesso nos palcos de Brasília. No fôlder de apresentação da peça, o texto termina com a frase "O fim está próximo." Seria uma máxima para a própria Companhia S.A.I. (Setor de Áreas Isoladas) ou para gêneros que não a comédia na capital do Brasil? Boa reflexão!

artes cênicas

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