Desde 22 de maio de 2012, os espaços expositivos do
CCBB de
Brasília estão ocupados com a exposição
Índia!, que fica em cartaz até o dia 29 de julho com entrada gratuita. Segundo anunciado pelo centro cultural, é a maior exposição sobre a cultura da
Índia já montada no
Brasil. Mapas da exposição estão espalhados no local, já que há obras em sete lugares diferentes. Para quem chega, além de ver o título da exposição em letras amarelas com fundo rosa, é recebido com uma enorme cabeça azul com um saco na cabeça, ao estilo de
lata d'água na cabeça, chamada
Migrante, obra de 2011 do artista
Ravinder Reddy. Esta escultura virou parada obrigatória para fotos. Por falar em fotos, é permitido fotografar em praticamente todos os espaços (sem uso do flash nos espaços fechados), com exceção das obras expostas no subsolo da
Galeria 1. Pode-se começar a visita por qualquer lugar, pois eles se completam em si mesmos, não sendo pré-requisito ver nenhum antes do outro. Gosto de ler todos os painéis, banners e textos escritos para as exposições, além de ver os vídeos/filmes existentes, o que toma um tempo maior para conhecer tudo. Por causa disto, creio que para uma visita completa seriam necessárias, pelo menos, quatro horas. Fiz a visita em duas oportunidades: dia 17 de junho, domingo, no meio da tarde, quando havia um público grande, dificultando às vezes a leitura dos textos ou colocar os fones de ouvido para ouvir/ver os vídeos; e 19 de junho, terça-feira, no início da noite, com maior tranquilidade em relação ao número de pessoas circulando nas galerias. Minha primeira parada foi na
Galeria 1, onde há duas partes da mostra. No primeiro piso estão obras que mostram o dia a dia dos indianos, não à toa chamada
O Cotidiano, enquanto no subsolo a mostra tem o nome
O Sagrado, com foco na religiosidade. Logo na entrada, há uma enorme vasilha, contendo água e pétalas de rosa, que é utilizada em grandes festas religiosas para preparar a comida para quem delas participa. Em seguida, uma sala com projeções com imagens da
Índia, seu povo e seus costumes, preparando-nos para o que veremos a partir dali. São trajes típicos (três deles expostos do lado de fora da entrada da galeria), imitação de jóias, adereços de toucador, vasilhames, estátuas em ferro e em terracota, pinturas, vestimentas e tecidos (o setor dedicado aos saris é interessantíssimo), instrumentos musicais bem peculiares, vídeos que exibem números de dança e de show musicais, e muita fotografia retratando o cotidiano dos indianos. Dentre os fotógrafos expostos, estão alguns dos expoentes daquele país da atualidade, como
Raghubir Singh. Para mim, um dos destaques desta parte é o sari de seda bordado com fios de ouro usado em casamentos. Vi um pouco do vídeo com shows nos quais os instrumentos musicais expostos são utilizados, dando-nos a noção do som por eles produzidos. Tais instrumentos são os últimos objetos em exibição na mostra
O Cotidiano. Desci as escadas para visitar
O Sagrado, único local onde não é permitido tirar fotos. Foi a mostra que mais gostei de todas. Nela estão banners que explicam rapidamente as principais vertentes religiosas que estão presentes na
Índia: budismo, jainismo, cristianismo, islamismo e hinduísmo. Ilustram a exposição várias estátuas de divindades (Shiva, Ganesha, Parvati, Buda, Jesus Cristo na cruz com feições hindus, entre outras), além de máscaras, quadros, imagens, e um interessante trabalho feito em folha de palmeira. Os detalhes desta obra são incríveis. Ainda há um filme projetado na parede cujo tema é, obviamente, a religião. Deixa-se a exposição pelo próprio subsolo, quando saímos praticamente em frente à entrada da
Galeria 2, onde estão as mostras
Colonialismo, Cortes, Fotografia, Narração de Histórias e
Cinema Bollywood. O que me chamou a atenção nesta parte foram as fotografias antigas, tanto as panorâmicas retratando as cidades indianas, quanto as feitas em estúdios. Uma parte da mostra faz uma homenagem a
Gandhi, com seu busto em bronze exposto. Ao final da galeria, está a parte de narração de histórias, com fantoches, bonecos de sombra e um vídeo mostrando o teatro de fantoches, que são muito coloridos. Parte que as crianças adoram. Antes de sair, deparamos com uma reprodução de uma sala de cinema, onde filmes da indústria cinematográfica indiana são projetados, além de alguns posters nas paredes e retratos de atores da famosa
Bollywood, que tem a maior produção mundial de filmes. Saindo da galeria, já vemos a próxima atração, uma das mais concorridas, por sinal, a instalação do artista
Gigi Scaria. Nada mais do que um cubo que imita um elevador. Os visitantes entram e tem-se a sensação de que estamos sempre subindo no tal elevador, uma ilusão de ótica provocada pela projeção de imagens que simulam paredes internas do fosso do elevador e os andares. Há uma crítica à estratificação social na
Índia, pois na medida em que se vai subindo, a decoração dos apartamentos vai ficando sofisticada. Ainda há o barulho comum em elevadores e movimento, potencializando a sensação de que estamos realmente subindo os andares. Duas mulheres que entraram comigo logo saíram, pois não se sentiram bem, estavam tontas. Saindo do elevador, a próxima parada foi um altar montado logo à frente, onde três divindades são reverenciadas. Para ver a divindade, é necessário olharmos por um dos três círculos coloridos. Para cada cor, vemos uma divindade diferente. É bem interessante. No hall do
CCBB, entre o
Bistrô Bom Demais e a bilheteria, estão expostos um altar amarelo dedicado à Ganesha, uma fotografia do
Taj Mahal, um triciclo e um tuc tuc verde. Todos são paradas obrigatórias para poses e fotos. Por fim, no
Pavilhão de Vidro e na
Sala Multimídia, é a vez da arte contemporânea, cuja mostra ganhou o nome de
Índia - Lado a Lado. São obras de artistas plásticos contemporâneos, muitos com trabalhos de repercussão internacional, nas mais diferentes plataformas: instalações, vídeos, esculturas, pinturas e fotografias. Até um jogo de basquete que faz alusão ao sexo seguro está presente, com regras de como jogar escritas na parede. No domingo, mais de uma pessoa pegou a bola e a arremessou à cesta, mas na terça-feira à noite, os vigilantes disseram que não era permitido interagir com a obra. Nem era comigo, mas estava perto quando um homem foi advertido da proibição. Assim, intervi dizendo que estivera no local no domingo e fui um dos que arremessei a bola, havendo uma pequena fila para fazer o mesmo e que ninguém havia sido advertido. Não há nenhum aviso neste sentido, muito antes pelo contrário, já que as regras de como jogar estão escritas logo abaixo das informações sobre a instalação. A vigilante disse que era proibido e que não estava lá no domingo. Acrescentou que realmente a obra era interativa, mas que por falta de espaço no
CCBB de
Brasília, somente em
São Paulo foi possível esta participação dos visitantes. Falta de espaço no
CCBB de
Brasília? Espaço no
CCBB de
São Paulo, que nem área externa possui? Deixei pra lá. Como toda exposição de arte contemporânea, há coisas difíceis de captar a mensagem do artista, outras bem feias e outras interessantes. É isto que eu acho interessante, esta possibilidade múltipla de leituras e de gostar ou não gostar. Por falar em gostar, gostei muito de
Índia!
tecido
detalhe de sari de seda com fios de ouro
instrumentos musicais (tabla)
fantoche - teatro de bonecos
boneco de sombra
cartaz de filme de Bollywood
arte contemporânea
arte contemporânea
tuc tuc
altar Ganesha
tacho para preparo de comida em grandes festas religiosas
"Migrante", de Ravinder Reddy