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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

COMO ERA GOSTOSO O MEU FRANCÊS


Como Era Gostoso O Meu Francês, 1971, 84 minutos.

Mais um filme que assisti do Cinema Novo, desta vez para a quarta aula do curso ministrado pelo Prof. Alisson Gutemberg para o Clube da Análise Fílmica (Cinema com Teoria).

O filme integra a terceira e última fase do Cinema Novo, quando cores e um tom de comédia foram adotados pelos diretores, especialmente em Como Era Gostoso O Meu Francês e Macunaíma (também tema da mesma aula).

Como era gostoso o meu francês tem direção de Nelson Pereira dos Santos e não é um filme fácil de compreender se não souber um pouco da história do Brasil. A maior parte dos diálogos são na língua tupi (créditos para o grande cineasta Humberto Mauro), idioma falado pelas tribos Tupiniquim e Tupinambá. Há poucas falas em francês e em português de Portugal. Nenhum dos diálogos tem legenda para o português. Assim, temos que entender o que rola nas telas pelas imagens, pelo que sabemos da história brasileira e pelos intertítulos com trechos de documentos históricos assinados por Mem de Sá, Hans Staden, entre outros.

O prólogo do filme nos leva a crer que assistiremos a uma comédia, pois um narrador conta uma história, mas as cenas que vemos são totalmente ao contrário do que se vê. Algo como passar a informação errada, as tão propaladas fake news atuais, como se fosse uma verdade. Mas terminado o prólogo, o filme assume um ar documental. No entanto, faz uma nova leitura do que aprendemos na história, com os índios tendo total controle da situação e lutando de igual para igual com os invasores portugueses e franceses. É uma clara referência à Semana de Arte Moderna de 1922, quando o movimento antropofágico foi lançado. No filme, temos a antropofagia literal, pois os tupinambás eram canibais e prepararam o francês para a comer na comemoração da guerra contra os tupiniquins, e a antropofagia metafórica, o que o movimento modernista pregava, ou seja, deglutir a cultura estrangeira para criar uma nova cultura, totalmente brasileira, no filme representado pela assimilação pelo francês de hábitos e costumes da tribo na qual era prisioneiro, tornando-se um deles, andando nu, caçando e até com o corte de cabelo igual aos demais índios.

Outro ponto a destacar é a influência do Tropicalismo, movimento que se iniciou no final dos anos 1960, início dos 1970, com a valorização das cores e das paisagens brasileiras.

Foi a primeira vez que vi este filme e confesso que fiquei um pouco entediado, muito por ter que ficar ouvindo uma língua que não conheço, sem ter tradução. Quase que um filme mudo, mas com cores e com diálogos.

Vi, em 22/02/2022, no YouTube.

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