Deus e o Diabo na Terra do Sol, 1964, 120 minutos.
Mais um filme da primeira fase do Cinema Novo que assisti para o curso que faço, on-line, no Cinema com Teoria. Desta vez, Deus e o Diabo na Terra do Sol, escrito e dirigido por Glauber Rocha, tendo como atores Geraldo del Rey (Manuel), Yoná Magalhães (Rosa), Othon Bastos (Corisco), Maurício do Valle (Antônio das Mortes), Lídio Silva (Sebastião) e Sônia dos Humildes (Dadá).
Filmado em preto e branco no interior da Bahia, no município de Monte Santo, longe dos estúdios. A população da cidade baiana participa como figurante no filme. Lígia Pape é responsável pela tipografia dos letreiros e dos créditos.
Manuel, para defender o que é seu e sua esposa, mata o dono das terras onde trabalha, o que o leva a sair da região, indo para Monte Santo seguir o beato Sebastião. Lá, ele é doutrinado na seita e se convence de que Rosa, sua mulher, está possuída pelo diabo. A cena de purificação de Rosa é uma carnificina, com sacrifício de inocente em nome de um deus nada bom. Segue-se um verdadeiro massacre empreendido por Antônio das Mortes, que poupa apenas Manuel e Rosa, que seguem vagando pelo sertão, sendo conduzidos por um cego, que os leva ao encontro de Corisco e Dadá, remanescentes do bando de Lampião e Maria Bonita, que tinham sido recentemente assassinados pela polícia baiana. Manuel entra no bando. Há saques e estupro na cidade, até a chegada de Antônio das Mortes no local onde estão Corisco, Dadá, Rosa e Manuel. O encontro é movimentado, com cenas que parecem um faroeste.
Foi a terceira vez que vi este filme. O interessante é que o vejo, sem planejamento, de vinte em vinte anos. A primeira delas foi na década de 1980, em Belo Horizonte, em fita VHS, recém deslumbrado com o cinema, querendo ver tudo quanto era filme clássico. Não gostei do que vi. A segunda, já na primeira década dos anos 2000, em Brasília, em uma projeção para jovens entre 16 e 25 anos, era um projeto relativo ao meu trabalho. Na sala, em uma escola pública, havia cerca de 30 jovens. Na medida em que o filme avançava, mais e mais jovens deixavam o recinto. Restaram apenas dois deles no final do filme.
Nesta oportunidade, já tive outros olhos para o filme, fazendo uma análise mais apurada sobre a época em que foi filmado (antes do golpe de 1964), a questão agrária, o messianismo que aproveitava da ignorância e da simplicidade da população interiorana, especialmente do Nordeste. Mas continuava tendo ressalvas quanto ao filme em si.
Por fim, em 2022, o vi pela terceira vez. Mais estudado, vendo detalhes técnicos, observando o conjunto de situações sociais da época, lendo textos sobre o Cinema Novo em preparação para a aula sobre a trilogia do sertão que seria ministrada, on-line, no Cinema com Teoria, no dia 03/02/2022, já comecei a gostar um pouco mais do filme, mas ainda assim, ele continua não fazendo minha cabeça. Fico muito incomodado na cadeira por qualquer filme que haja barulho excessivo. E é o que acontece em Deus e o Diabo na Terra do Sol, o barulho me incomoda, seja pela ladainha dos fiéis que seguem o beato, seja pela gritaria de Rosa que se confunde com a ventania no lugar, seja pelos estampidos das espingardas, ou pela algazarra do bando de Corisco.
Ao escrever estas linhas, me pus a pensar se a intenção foi mesmo provocar incômodo em quem assiste o filme. Se não for pelas imagens, ou pelo roteiro, que seja pelo som. Pode até ser, em se tratando de Glauber Rocha.
Vi, em 03/02/2022, no Telecine Play.
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